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No Ceará, até 40% dos alunos das redes municipais não têm acesso a meios digitais
Reportagem

No Ceará, até 40% dos alunos das redes municipais não têm acesso a meios digitais

União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação estima que milhares de estudantes no Estado sofrem com a falta de acesso ao ensino remoto durante a pandemia
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Carla Cristina e os filhos. Dificuldades para estudar e ensinar os filhos na pandemia (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO Carla Cristina e os filhos. Dificuldades para estudar e ensinar os filhos na pandemia

Dificuldade de adaptação do ambiente domiciliar às atividades de ensino, aprofundamento de vulnerabilidades sociais, pais com defasagem de alfabetização tendo de orientar a aprendizagem, acesso limitado ou mesmo a inexistência do acesso à internet. Estes são aspectos do cenário de ensino remoto durante a pandemia de Covid-19 nas redes públicas de educação.

No recorte da educação municipal, a situação pode ainda ser mais preocupante, tendo em vista as peculiaridades dos ensinos Infantil e Fundamental, e um percentual de descobertura do acesso aos meios digitais que pode chegar a 40% - número estimado em maio pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-CE).

LEIA SÉRIE COMPLETA SOBRE PANDEMIA E DESIGUALDADE NA EDUCAÇÃO 

A estimativa da Undime-CE chega mesmo a superar os dados nacionais e regionais. Conforme pesquisa TIC Educação 2019, divulgada no segundo trimestre de 2020 e feita no segundo semestre do ano passado, 17% dos estudantes de escolas urbanas no Brasil não têm acesso à rede. No Nordeste, o percentual sobe para 22% e, no Norte, para 27%.

Em casa, apenas 41% dos alunos no Brasil têm computador portátil, 35% têm computadores de mesa e 29% possuem tablet. No Nordeste, um a cada quatro alunos (25%) que têm acesso à rede o faz apenas pelo celular.

Essa é a realidade encontrada por Pedro Silva, professor da rede municipal de Fortaleza. Dando aulas aos nonos anos, Pedro conta que adaptou o conteúdo repassado aos formatos compatíveis com WhatsApp, já pela maior facilidade de acesso ao aplicativo, com operadoras de telefonia liberando dados gratuitos para esse uso.

Vídeos no YouTube, salas de interação por videoconferência e conteúdos mais elaborados acabaram por ser dispensados. A situação encontrada é que, mesmo com acesso, muitas famílias só têm um celular para mais de um aluno e ligado apenas a dados móveis.

"Dentro da realidade de bairros marcados pela desigualdade social, já é excludente esses processos de interação por WhatsApp. Se fosse partir para outras ferramentas, essa exclusão seria ainda maior", lamenta. Ele conta que teme pela possibilidade palpável que a evasão escolar se aprofunde - tanto para alunos que tiveram o ensino descontinuado pela falta de internet, quanto por outras questões de desigualdades sociais.

Professor das redes municipais de Quixadá e Quixeramobim, Antônio Barbosa aponta que vem tentando trabalhar a autonomia do aluno para com a própria aprendizagem. Mas uma das barreiras que encontra é a organização da estrutura familiar, muitas vezes marcada por vulnerabilidades.

"Trabalho em um bairro muito pobre, tem famílias enormes que moram em um, dois cômodos. Aí não tem estrutura física para criança parar e ler um livro, estudar, tentar compreender", avalia.

Parte dos alunos em Fortaleza passou a receber cadernos de atividades de matérias como Português e Matemática. O professor Pedro, apesar da crítica ao conteúdo, que foca em provas nacionais de avaliação de ensino, acredita que seja louvável uma vez que chega a estudantes sem os recursos disponíveis para acessar plataformas digitais de ensino.

 

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