Dia um: 16 pessoas vacinadas. Nesta segunda-feira, 18, às 19 horas, o Ceará começou a vacinação contra a Covid-19, com a CoronaVac. Ao longo dos últimos dez meses, o mundo acompanha trágicos indicadores: novos infectados, mortos, taxa de reprodução do vírus, taxa de mortalidade, ocupação de leitos. Não obstante o árduo caminho que ainda deve ser percorrido no enfrentamento à pandemia, o Ceará começou uma contagem de esperança. A primeira imunizada no Estado foi a técnica de enfermagem Maria Silvana Souza Reis, 51, que atua no Hospital Estadual Leonardo da Vinci (HELV) desde o início da pandemia.
Das janelas de todos os andares da unidade, espectadores gritavam e aplaudiam na aplicação de cada vacina. Alegria para os profissionais que enfrentaram meses de agonia. Na unidade, também foram vacinados Maria de Jesus de Oliveira Lima, 56, serviços gerais; Francisco Adailton Alencar Braga, 55, médico intensivista; Cristine Aparecida da Cunha, 39, fisioterapeuta; Regiane Sousa Torres, 34, enfermeira; Antônio Ricardo Domingos Dourado da Costa Tapeba, 49, liderança indígena de Caucaia. A unidade era um antigo hospital privado que foi adquirido pelo Governo do Ceará para ser a unidade referência no tratamento da infecção no Estado e, posteriormente, comprado pelo governo.
Outras duas unidades de saúde da Capital também iniciaram vacinação, cinco profissionais de saúde do Instituto Doutor José Frota e cinco do Hospital de Campanha do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) foram imunizados.
 Desde o início da pandemia, Maria Silvana sai de casa, na Jurema, no município de Caucaia, às 5h, para trabalhar na linha de frente do combate à infecção. Mesmo com 20 anos de experiência na saúde, a atuação dos últimos meses foi uma experiência totalmente diferente. "No começo, foi muito difícil para a gente porque tinha muito óbito. Era demais, demais. Você não sabia para quem correr primeiro. Mas, graças a Deus, a gente está vencendo. E com mais essa agora, a vacina que chegou, que era o mais esperado, com certeza vai melhorar", relata.
Ela conta que não foi infectada e que nunca imaginou ser a primeira vacinada do Estado. Após a vacinação, ela fez o alerta: "não tenham medo de tomar a vacina" e contou sobre os momentos mais duros da atuação. "É muita dor você ver a pessoa indo a óbito sem ter como fazer nada. Vocês não têm noção do que nós passamos", se emociona Maria Silvana.
O intensivista Francisco Adailton Braga, 39, é coordenador do setor de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade. "É fundamental que as pessoas entendam que a pandemia não acabou e que nós temos que nos manter alertas com o uso de máscara e distanciamento, porque junto com as medidas e agora com imunização é o que realmente vai controlar essa pandemia nos próximos meses", comenta.
O médico afirma que a unidade está preparada para seguir no combate à pandemia com grande capacidade de ampliação de leitos de internação, considerando a segunda onda em curso.
Dourado Tapeba, uma das lideranças na luta pelos direitos das populações indígenas no País, defendeu a vacinação para salvar as vidas e aldeias. "Deixo uma mensagem para todos que perderam os entes queridos antes de a vacina chegar. Porque chegou e vai nos ajudar a vencer esse coronavírus. Pai Tupã vai nos ajudar", disse. "Vim dar o exemplo para os nossos povos do Ceará e mostrar que a vacina é a salvação, para que ninguém recuse", acrescenta.
Na ocasião, o governador Camilo Santana homenageou os profissionais de saúde do Estado que atuaram diretamente no combate à infecção. "Mais uma vez, queria ressaltar e agradecer a todos os profissionais de saúde que estiveram na linha de frente, que salvaram vidas, que receberam, que acolheram. A partir de agora, se inicia a campanha de vacinação em todo o Estado do Ceará", comemorou.
O momento contou com a presença da vice-governadora, Izolda Cela, do secretário estadual da Saúde, dr. Cabeto, do prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira, e da secretária municipal da Saúde, Ana Estela. (Colaboraram Matheus Facundo e Alan Magno/Especial para O POVO)