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Volta à normalidade: começa a era Biden
Reportagem

Volta à normalidade: começa a era Biden

Uma das primeiras ações do democrata será a volta ao diálogo sobre questões e organizações multilaterais. Especialistas projetam oposição forte que exigirá jogo de cintura
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WASHINGTON, DC - 19 DE JANEIRO: (LR) Douglas Emhoff, o vice-presidente eleito dos EUA Kamala Harris, o Dr. Jill Biden e o presidente eleito dos EUA Joe Biden participam de um serviço memorial para homenagear as quase 400.000 vítimas americanas da pandemia do coronavírus no Lincoln Memorial Reflecting Pool 19 de janeiro de 2021 em Washington, DC. Como a capital do país se tornou uma cidade-fortaleza de bloqueios de estradas, barricadas e 20.000 soldados da Guarda Nacional devido ao aumento da segurança em torno da posse de Biden, 400 luzes foram colocadas ao redor do Reflecting Pool para homenagear os quase 400.000 americanos mortos pelo COVID-19. Chip Somodevilla / Getty Images / AFP (Foto: Chip Somodevilla / Getty Images / AFP)
Foto: Chip Somodevilla / Getty Images / AFP WASHINGTON, DC - 19 DE JANEIRO: (LR) Douglas Emhoff, o vice-presidente eleito dos EUA Kamala Harris, o Dr. Jill Biden e o presidente eleito dos EUA Joe Biden participam de um serviço memorial para homenagear as quase 400.000 vítimas americanas da pandemia do coronavírus no Lincoln Memorial Reflecting Pool 19 de janeiro de 2021 em Washington, DC. Como a capital do país se tornou uma cidade-fortaleza de bloqueios de estradas, barricadas e 20.000 soldados da Guarda Nacional devido ao aumento da segurança em torno da posse de Biden, 400 luzes foram colocadas ao redor do Reflecting Pool para homenagear os quase 400.000 americanos mortos pelo COVID-19. Chip Somodevilla / Getty Images / AFP

Há exatos quatro anos Donald Trump usava seu discurso de posse para prometer o fim da “carnificina americana”. Hoje, o democrata Joe Biden deverá prestar o juramento que o tornará o 46º presidente dos EUA enquanto milhões de pessoas o assistirão remotamente.

As promessas de unificar o país e devolver a nação aos diálogos e protagonismo em organizações e acordos multilaterais deverão postas em prática desde o primeiro dia de gestão do novo presidente.

Dentre as primeiras ações do democrata no cargo estarão a reincorporação e a volta do diálogo do país com questões e organizações como o Acordo de Paris, Organização das Nações Unidas (ONU) e seus braços, Unesco e Unicef, além da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além disso, Biden deve investir na revitalização de relações com aliados históricos e outras nações escanteadas por Trump e se despregar de aliados do republicano. Antony Blinken, próximo secretário de Estado dos EUA, abrirá sua audiência de confirmação no Senado com discurso que reforça a tese.

"Podemos revitalizar nossas alianças como multiplicadores de nossa influência ao redor do mundo. Juntos, estaremos em uma posição para enfrentar ameaças representadas pela Rússia, Irã e Coreia do Norte e defender a democracia", dirá segundo texto divulgado por sua equipe.

Biden assume enquanto as crises simultâneas amontoam-se: a pandemia e a queda econômica que persistem, o racha no país causado pela polarização e as questões raciais serão desafios diários. Esta semana a nova gestão anunciou que lançará um pacote de US$ 1,9 trilhão para reativar a economia através de estímulo e auxílios.

“O estímulo é algo muito notável e que deve ser bem recebido nesse momento para estabilização do país. Servirá para mostrar a todos que dá para fazer política pública eficiente independentemente de partidos, mas a oposição popular ainda existirá", diz o professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Lucas Leite.

Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da Faap e especialista em EUA, destaca que o “retorno à normalidade” deve ocorrer apenas na Casa Branca. Ele alerta que Trump convenceu milhões de pessoas a entrarem em um “universo paralelo” no qual Biden é ilegítimo (mesmo sem provas).

“Fora da Casa Branca não há como voltar à normalidade. As coisas se transformam muito rapidamente. Como um presidente que quer recuperar certo grau de normalidade vai lidar com uma sociedade completamente transformada?”, questiona.

O americanista projeta uma oposição forte e que exigirá jogo de cintura a Biden para construir pontes num contexto que aponta na direção oposta.

"Nós temos hoje duas tribos políticas. Se o líder da tribo fala para não tomar vacina, você não toma. Se ele muda de ideia no dia seguinte, você também muda. Não é uma questão de posição política, mas de lealdade à tribo. Quando a política vira isso a conciliação se torna difícil”.

Outro ponto a ser observado é a governabilidade, que apesar da maioria no Senado com 50 democratas, 50 republicanos e voto decisivo da vice-presidente Kamala Harris, não se desenha tranquila. Na prática, significa que Biden precisará manter as diversas alas do partido alinhadas, sob risco de perder votos e aprovações de projetos.

Sobre o tema, Poggio argumenta que muitas das alas do partido não são aliadas de Biden. “Elas se uniram por convenção, mas não são alinhadas a ele. Basta olhar para Alexandria Ocasio-Cortez (uma das lideranças mais à esquerda). Com o tempo essas fissuras ficarão mais claras”, projeta.

Para Lucas Leite é “improvável” que questões polêmicas sejam propostas pela gestão em um primeiro momento porque o mandato servirá mais para "pôr ordem na casa” mas chama atenção para a experiência de Biden em negociações com o Congresso já que ele passou décadas atuando no Senado.

WASHINGTON, DC - 16 DE JANEIRO: O Capitólio dos EUA é visto atrás de uma barricada durante o nascer do sol em 16 de janeiro de 2021 em Washington, DC. Depois dos distúrbios da semana passada no edifício do Capitólio dos EUA, o FBI alertou sobre ameaças adicionais na capital do país e em todos os 50 estados. De acordo com relatos, cerca de 25.000 soldados da Guarda Nacional estarão guardando a cidade enquanto os preparativos são feitos para a posse de Joe Biden como o 46º presidente dos EUA. Samuel Corum / Getty Images / AFP
Foto: Samuel Corum / Getty Images / AFP
WASHINGTON, DC - 16 DE JANEIRO: O Capitólio dos EUA é visto atrás de uma barricada durante o nascer do sol em 16 de janeiro de 2021 em Washington, DC. Depois dos distúrbios da semana passada no edifício do Capitólio dos EUA, o FBI alertou sobre ameaças adicionais na capital do país e em todos os 50 estados. De acordo com relatos, cerca de 25.000 soldados da Guarda Nacional estarão guardando a cidade enquanto os preparativos são feitos para a posse de Joe Biden como o 46º presidente dos EUA. Samuel Corum / Getty Images / AFP

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