A velocidade com a qual o Brasil conectou cerca de 424 milhões de dispositivos entre desktops, notebooks, tablets e smartphones trouxe uma nova e latente preocupação sobre a segurança cibernética dos brasileiros. Mais do que uma cobrança aos fabricantes de dispositivos, softwares e o poder público, a proteção também depende dos usuários.
O comportamento preventivo independe do porte econômico do atacado, pois ao mesmo tempo que multinacionais como JBS ou o próprio Superior Tribunal de Justiça (STJ) sofrem sequestros de dados, usuários comuns têm informações roubadas em links maliciosos todos os dias no WhatsApp. Esses ataques somados devem representar, apenas em 2021, um montante de US$ 6 trilhões em todo o mundo, segundo projeção da consultoria alemã Rolland Berger. E, no ranking de alvos, o Brasil está atrás somente dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e África do Sul.
Cientes dos riscos que correm, cabe aos usuários buscar informações para se proteger, segundo apontam os especialistas em segurança cibernética. No entanto, atuar de forma isolada não é considerada a melhor tática para enfrentar esse problema e indústrias de tecnologia, empresas de telecom, academia e governo prometem prover essa articulação até o usuário.
"Mas os núcleos de conhecimento precisam de uma coordenação. Hoje, isso já acontece de uma maneira não organizada. Então, quando teve o ataque no STJ, os principais grupos do Brasil foram acionados para trabalhar de forma conjunta, mas foi algo reativo. Como conseguimos coordenar todas essas instâncias para que, quando se perceba o que está acontecendo, consiga reagir mais rapidamente? Isso é algo que o ministério vem construindo e a ideia é que tenhamos uma grande rede nacional", afirma José Gontijo, diretor de Ciência, Inovação e Tecnologia Digital do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Da mesma forma, a Conexis - sindicato das empresas de telecomunicações diz se empenhar em parceria com as demais instituições para "criar em toda a sociedade uma preocupação e conhecimento das regras mais básicas de segurança".
"Mas tem um ponto que vale chamar atenção que é a engenharia social. Nem sempre você consegue mitigar esse risco de ataque devido ao comportamento dos usuários, seja pessoa física ou empresa, que são induzidos ao erro e, mesmo com vários tipos de proteção cibernética adotada, o crime acontece", ressalta Ideu Borges, diretor de Regulação da Conexis, ressaltando a construção uma cultura de proteção da qual o cidadão comum esteja inserido.
Para conseguir atrair a atenção da população ao mesmo tempo que empregam uma nova tecnologia no País, esses atores apontam o 5G como uma possibilidade de transformação cultural também no que diz respeito à segurança cibernética, acelerando a adaptação dos usuários aos procedimentos de mitigação dos riscos, como uso de antivírus, atualização de aplicativos e dispositivos, entre outros.
"Para que este processo se intensifique, as ferramentas tecnológicas estão sendo apresentadas ao grande público de forma cada vez mais séria. Com todas essas ferramentas, torna-se cada dia mais importante o desenvolvimento de soluções que tragam segurança ao sistema cibernético", ressalta o Carlos Nazareth, diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).
Leonardo Euller, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), destacou a atuação técnica da instituição na segurança cibernética, a partir das regras estabelecidas para o leilão no próximo mês. Ele observa que não caberia ao texto trazer regras sobre o assunto, mas apontou para outra atuação da Anatel neste sentido.
"Aprovamos o regulamento de segurança cibernética aplicado às telecomunicações em dezembro de 2020", ressalta, informando que o documento traz alertas para os possíveis riscos ao setor, assim como estabeleceu diretrizes às operadoras neste tema, como a constituição de políticas de segurança cibernética a ser aprovada pelos conselhos de administração das empresas.
Marcelo Motta, diretor de Soluções e Segurança Cibernética da Huawei para a América Latina, contabiliza, no esforço mencionado por Nazareth, US$ 1,1 bilhão só na área de segurança e proteção de dados pela empresa, que trabalha na construção de equipamentos para as operadoras de telecom. Motta explica que "os equipamentos devem vir preparados para se proteger desses ataques como a gente já faz na nuvem", mas também é preciso .
"É um contexto se transformação digital e trabalhamos isso estruturando processos para que saiam seguros em todos os ciclos, desde quando se programa. E o resultado deve ser visto nos cenários não só de 5G, mas cloud, carro conectado...", aponta Motta.
Os representantes das instituições e especialistas estiveram reunidos no Fórum Nacional de Segurança Cibernética, que aconteceu na sede do Instituto Nacional de Telecomunicações, em Santa Rita do Sapucaí (MG). O Inatel possui o Centro de Segurança Cibernética (CxSC), um dos primeiros do País focado no tema e que permite a qualquer empresa testar a segurança e o gerenciamento de dispositivos conectados de maneira totalmente gratuita.
Além disso, promove minicursos e webinares para população geral como forma de disseminar uma cultura de segurança cibernética. Com doação de parte dos equipamentos pela Huawei, parceira do Inatel há quase 20 anos, o Instituto dotou o CxSC de um cluster de computação em nuvem privada com capacidade de 180GHz de processamento, 2 TB de memória RAM e 9 TB de armazenamento em disco.
*O jornalista viajou para Santa Rita do Sapucaí (MG) a convite da Huawei
Agro
Setor do agronegócio, no entanto, deve optar por serviços oferecidos pelas empresas de telecom. A área de alcance das redes privativas dificultam o uso do 5G no campo neste modelo.