"Aceita Pix?". Essa é a pergunta que a maioria da clientela de Antônio Martins, 59, vendedor ambulante da Praia de Iracema, tem feito ultimamente. A forma de pagamento caiu nas graças do público e metade das vendas é feita por meio dela, outros 30% via cartões e apenas 20% via dinheiro.
"Muitas vezes tem gente que vem para cá sem dinheiro, só com o Pix. Como comerciante, prefiro Pix do que dinheiro", afirma Martins, que atende um público diverso, que vai desde os fortalezenses aos turistas de diversos locais do País. Essa demanda pela plataforma de pagamentos e transferências instantâneas dá uma noção de como sua popularização tem sido grande.
Até o fim de 2021, 30% da população adulta do Ceará passou a utilizar Pix no lançamento da plataforma. E outros 19% realizaram a substituição do TED para utilizar exclusivamente o Pix.
O processo de inclusão financeira é outro benefício proporcionado pelo lançamento do Pix, em 2020, e que foi contabilizado pelo Banco Central (BC). A participação das famílias mais pobres foi destaque. Entre os inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, a adesão aos serviços do sistema financeiro nacional foi potencializada a partir do lançamento do Pix.
Neste processo de inclusão, mesmo que 53% da população registrada no Cadastro Único afirme ainda não utilizar Pix ou TED, outros 29,9% desse total que não faziam movimentação eletrônica de fundos antes do lançamento do Pix, passaram a fazê-lo. Desses, 22,6% fizeram movimentações somente via Pix.
Os dados estão presentes no Relatório de Economia Bancária, realizado pelo BC com dados entre o fim de 2019 e o fim de 2021. Outro movimento detectado entre esse público bancarizado a partir do Pix é que os novos usuários foram aqueles nos quais houve maior crescimento na porcentagem de tomadores de crédito nos meses seguintes, aponta o relatório do BC.
"Os dados disponíveis não permitem estabelecer relação de causalidade, ou seja, não é possível afirmar que o Pix incrementou o acesso ao crédito, tampouco que a necessidade de crédito incentivou o uso do Pix. Observa-se, entretanto, maior aumento no acesso ao crédito entre os grupos que foram incluídos (total ou parcialmente) via Pix. Isso sugere complementaridade entre serviços de pagamentos e acesso a crédito", aponta o BC.
Os dados ainda mostram que o Nordeste vem crescendo na proporção de transações por Pix. No lançamento da plataforma, no fim de 2020, grande parte das transações eram realizadas no Sudeste. Segundo dados do BC, a distribuição das transações por região mostra que enquanto o Sul e Sudeste perdem espaço, o Nordeste vem subindo.
Em novembro de 2020, a Região era responsável por 19,6% das transações, enquanto o Sudeste representava 51,2% das operações. No fim de setembro, a participação do Sudeste caiu para 43%, enquanto a do Nordeste subiu para 26,4%.
Dentro deste cenário, o economista, professor da Especialização em Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), César Augusto Bergo, entende que há potencial de crescimento ainda maior das operações do Nordeste e de outras regiões, pois o processo de inclusão ainda não alcançou todas as pessoas. Mas esse é um processo em andamento que deve ser feito com bases sólidas a partir da educação financeira.
“Em um período de três, quatro anos, o Brasil foi pressionado no sentido de oferecer auxílios financeiros e essas pessoas não possuem educação financeira. Mais recentemente o governo lançou a possibilidade de empréstimos consignados para esses beneficiários, mas que isso funcione, as pessoas precisam ter acesso aos bancos e entendam o que é um preço justo e o que é abuso”.
Bergo avalia ainda que existe um esforço do BC e de organizações como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) no sentido de investir em educação. A iniciativa, segundo o professor, é complementar e contribui para que a solução que veio para facilitar o dia a dia das pessoas, que também oferece acesso a outros serviços financeiros, não se torne estopim para um descontrole financeiro.
ALCANCE DO PIX
Cerca de 61% da população brasileira adulta, até o fim de 2021, possuía ao menos uma chave Pix cadastrada. Cerca de 100 milhões de pessoas realizaram pelo menos um pagamento com o Pix e mais de 1,4 bilhões de transações foram realizadas por mês, sendo 72% entre pessoas físicas
PERFIS QUE MAIS ADERIRAM AO PIX
O Pix logrou ampla aceitação pela população em curto período, promovendo um processo de inclusão nos serviços de transferências digitais entre instituições diferentes.
Mas, houve maior destaque nesse processo de inclusão para a região Norte e para os grupos mais jovens e de perfil de renda inferior. Em concomitância com a entrada em operação do Pix, houve expansão do uso de crédito e da posse de contas pelos grupos de incluídos.
Diversos avanços foram implementados,entre eles a integração dos aplicativos das instituições com a lista de contatos nos smartphones, com o objetivo de facilitar a identificação dos usuários que aparecem nos contatos e possuem o celular como chave Pix.
Outra implementação foi o Pix Cobrança, que permite gerar cobranças com data de vencimento e o cálculo automático de multa, juros, descontos ou abatimentos, de forma similar ao boleto.
Há ainda o Pix Saque e o Pix Troco, que aumentam a eficiência nos serviços de saque por meio da redução de custos e de melhorias nas condições de oferta e precificação.