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A espera pelo Ozempic "genérico" e seus efeitos colaterais no mercado
Reportagem

A espera pelo Ozempic "genérico" e seus efeitos colaterais no mercado

Quebra da patente dos princípios ativos dos principais medicamentos de controle de peso disponíveis no mercado, como o Ozempic, abre uma série de efeitos a partir da introdução do genérico. Preços podem cair pelo menos 35%
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Quebra da patente dos princípios ativos dos principais medicamentos de controle de peso disponíveis no mercado, como o Ozempic, abre uma série de efeitos a partir da introdução do genérico (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Quebra da patente dos princípios ativos dos principais medicamentos de controle de peso disponíveis no mercado, como o Ozempic, abre uma série de efeitos a partir da introdução do genérico

Movimentos na indústria farmacêutica nos próximos dois anos prometem influenciar o dia a dia de outros mercados. Para o mercado, alguns podem ganhar bilhões, enquanto outros perder. Tudo isso por conta da quebra de patente e o lançamento do Ozempic "genérico".

Isso ocorre porque entre 2024 e 2026 deve acontecer a quebra da patente que protege a Novo Nordisk da replicação de seus princípios ativos semaglutida e liraglutida, que são conhecidos no mercado por serem base para Ozempic, Wegovy e Saxenda.

Conforme carta ao mercado, a ACE Capital prevê essa diferenciação na dinâmica da indústria farmacêutica, destacando que a popularidade dos medicamentos à base de semaglutida se deve à sua eficácia para controle do peso.

Assim, o Ozempic, com uso aprovado originalmente para o tratamento de diabetes tipo 2, passou a ser indicado para controle de peso "off label" - ocorre quando o fármaco é utilizado de forma intencional em situações divergentes da bula de medicamento registrado na Anvisa, com finalidade terapêutica e sob prescrição.

O relatório destaca que a "facilidade de uso", com aplicações semanais ao invés de diárias (como ocorre com os remédios à base de liraglutida) potencializam seus resultados. E fama também.

O funcionamento desses medicamentos no organismo ocorre da seguinte forma: Eles mimetizam certos hormônios gastrointestinais, de modo a reduzir o apetite.

O tratamento com Ozempic, no entanto, não é barato. No Brasil, uma caixa chega a custar mais de R$ 1 mil e os planos de saúde não oferecem cobertura para esse tratamento.

O cenário pode mudar a partir de 2026, com a quebra antecipada da patente da semaglutida no mercado brasileiro. De cara, há expectativa de que a versão genérica seja pelo menos 35% mais barata que o Ozempic da Novo Nordisk.

Ainda neste ano, há também a expectativa de que a liraglutida, princípio ativo da Saxenda, medicamento da Novo Nordisk indicado ao tratamento focado em controle de peso, também possa ser quebrada no Brasil.

Esse movimento promete impactar o mercado de maneiras diversas. Da indústria farmacêutica, varejo farmacêutico, chegando até a indústria de alimentação e serviços de saúde suplementar, os efeitos já são projetados.

Para o gestor de renda variável da ACE Capital, Tiago Cunha, empresas consolidadas no mercado, como as cearenses M. Dias Branco, Hapvida e Pague Menos estão entre as que devem sofrer efeitos do movimento proporcionado pelo Ozempic.

Em sua avaliação, o tratamento para o sobrepeso pode contribuir para redução da obesidade e, por consequência, diminuir a sinistralidade nos planos, beneficiando o setor de saúde suplementar.

Já no caso das farmácias, a expectativa é a mais positiva, pela expectativa de aumento na demanda. No caso de M. Dias Branco e as indústrias alimentícias, Tiago destaca que esse é o segmento mais sensível.

Inibidor de apetite, o princípio ativo de medicamentos como Ozempic, podem impactar de formas diferentes neste setor que é gigante. Tiago exemplifica que o mercado já observa de maneira positiva M. Dias Branco investir na expansão de sua oferta, com opções voltadas à alimentação saudável.

Quem deve sofrer mesmo neste segmento devem ser grandes organizações que possuem em seus portfólios produtos com altas proporções de gordura e açúcar, além dos processados.

Uso original do Ozempic visa o tratamento de diabetes tipo 2, mas tratamentos "off label" observam resultados positivos contra sobrepeso(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Uso original do Ozempic visa o tratamento de diabetes tipo 2, mas tratamentos "off label" observam resultados positivos contra sobrepeso

"Fizemos simulações do impacto nas empresas. São perspectivas de impactos mais rápidos e outros mais lentos. Por exemplo, o impacto do medicamento nos hábitos alimentares das pessoas acontece relativamente rápido".

E continua: "Neste cenário, empresas de alimentação e bebidas, tanto listadas em bolsa, quanto fora da bolsa, poderiam ser impactadas, sendo mais imediatamente as de comidas processadas, fast food, com potencial de queda de consumo também de bebidas alcoólicas".

Conforme levantamento do Flash PMB - Mercado farmacêutico do Brasil, da IQVIA, em janeiro, o Ozempic liderou no crescimento de demanda, com mais de 3,2 milhões de unidades vendidas, atingindo o topo do ranking nacional por mais de 1 milhão de unidades à frente do Tadalafila.

Esse é o terceiro ano seguido que o Ozempic lidera o ranking e entre 2023 e 2024, o medicamento avançou 17% nas vendas, atingindo um preço médio de R$ 863,93.

O Saxenda também aparece na lista, como o décimo mais vendido, com mais de 746 mil unidades, uma estabilidade em relação a 2023, e preço médio de R$ 726,42 no mercado nacional.

Os medicamentos antiobesidade aparecem à frente de medicamentos como Cimegripe, Neosoro e Dipirona Sódica.

Nutróloga fala sobre ozempic, chip da beleza e obesidade em entrevista | Pause por Clóvis Holanda

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Ozempic, base para o PIB da Dinamarca

Quando a gigante farmacêutica Novo Nordisk lançou o Ozempic, medicação que melhorou os resultados no tratamento da diabetes tipo 2, colocou no mercado um medicamento que revolucionaria o mercado farmacêutico e a economia da Dinamarca, país de origem da empresa. Isso porque o medicamento à base de semaglutida reduz o apetite e virou fenômeno para redução do sobrepeso em tratamentos "off label".

A Novo Nordisk colocou a Dinamarca no topo da bolsa de valores europeia desde o fim de 2023, superando gigantes como Nestlé e LVMH (dona das marcas Louis Vuitton e Dior) e puxando o PIB dinamarquês para cima, já que ampliou sua produção em 110% em um ano. Nos primeiros seis meses de 2023, a economia do país registrou alta de 1,7%. Não fossem os resultados do laboratório, o PIB teria caído 0,3%.

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