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Ceará tem a maior cobertura 5G do Nordeste
Reportagem

Ceará tem a maior cobertura 5G do Nordeste

| Telefonia móvel | Dois anos e um mês depois da ativação de telecom em Fortaleza, o Estado tem o maior número de cidades cobertas e o maior número antenas instaladas
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Tecnologia completou dois anos de ativação em Fortaleza no dia 5 de setembro de 2024 (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Tecnologia completou dois anos de ativação em Fortaleza no dia 5 de setembro de 2024

Dois anos após o início da ativação da quinta geração de telefonia móvel, o 5G, o Ceará se destaca entre os estados nordestinos como o de maior cobertura para conexão na nova tecnologia. A ativação da tecnologia na cidade aconteceu em 5 de setembro de 2022.

Ao todo, hoje, são 86 municípios com antenas instaladas, o que representa 46,7% das 184 cidades cearenses. A quantidade desses equipamentos em operação também é a maior, com 1.703 dos 4.476.

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Os dados são da Conexis, que representa as operadoras de telecomunicações, e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que foram computados pela consultoria Teleco, em relatório publicado em setembro com números referentes a agosto.

Fortaleza - primeira a ser conectada no Estado - tem a maior cobertura (todos os bairros) enquanto que as demais cidades apresentam, na maioria esmagadora, a sede coberta com o sinal.

Já quando o indicador é a quantidade de chips ativos, o Ceará tem a terceira melhor marca, com 850.126 dos 9,2 milhões ativos até o oitavo mês do ano. No Estado, a média é de um chip por pessoa.

A que se deve o destaque do Ceará?

"É um momento de franca expansão desta tecnologia. O Estado do Ceará não está diferente do restante do Brasil. Pelo contrário, tem se destacado como um estado de grande quantidade de antenas", ressalta Diogo Della Torres, coordenador de Infraestrutura da Conexis.

Torres atribui o cenário atual ao modelo escolhido do Leilão do 5G, que foi o de investimento e não arrecadatório. Ele também destaca a resposta do usuário ao 5G, adquirindo novos aparelhos e migrando das redes 4G ou até mais antigas em atividade no Estado.

O ritmo acelerado de liberação da faixa de 3,5 Giga-hertz também é um dos motivos da ampliação da cobertura pelas companhias. Os dois fatores são motivos de investimentos pelas operadoras e resultam, no Ceará, em uma maior sincronia entre eles.

Ele observa ainda que a ampliação veio acompanhada com a qualidade, uma vez que as três maiores teles em atividade no País tiveram os indicadores de velocidade do 5G entre os melhores do mundo, segundo o ranking da Opensignal.

Na lista, a Vivo liderou a velocidade de download 5G, com 365,6 megabits/segundo (Mbps), seguida pela Claro (35,6 Mbps), enquanto a TIM (327 Mbps) emplacou a 7ª posição.

Mas foi a Brisanet a principal responsável pela maior cobertura 5G no Ceará. A companhia cearense, com sede em Pereiro - a 327,5 quilômetros de Fortaleza -, é responsável por 822 das 1703 antenas 5G ativas no Estado. Claro (317), TIM (288) e Vivo (276) completam a lista.

Sucesso do 5G no Brasil

O resultado do ranking motivou a Opensignal a investigar o sucesso do 5G no Brasil. Em análise publicada no mês passado, a plataforma apontou a frequência de 3,5 GHz como escolha certeira. Em toda a América Latina, apenas Porto Rico não faz uso dessa frequência.

"Tanto as velocidades de download do 4G quanto as do 5G têm uma forte correlação positiva com a largura de faixa usada, em média, por conexão. O Brasil lidera a região com as velocidades médias de download mais altas, devido a uma maior largura de faixa usada por conexão 4G e a segunda maior por conexão 5G", conclui o texto.

A frequência era usada pelo sinal das TVs parabólicas, o que implicou em uma mudança - semelhante ao que aconteceu com a implantação do 4G na frequência usada pela TV aberta.

No texto, a OpenSignal diz ainda que "a experiência geral nos mercados 5G da América Latina tende a ser melhor do que nos mercados não-5G, com a experiência de velocidade de download e a experiência de vídeo apresentando a correlação mais forte."

Ampliação da lei das antenas ainda é gargalo

Mas para manter esse cenário positivo e à frente do calendário de ativação estabelecido no Leilão do 5G, o coordenador de Infraestrutura da Conexis aponta para a chamada infraestrutura de suporte, "que nada mais são do que as torres de antenas."

"Pegando o exemplo do Ceará, das 184 cidades, apenas três têm legislações e elas precisam de melhorias. Estou falando de Fortaleza, Caucaia e Sobral", detalhou.

A questão existe desde o início da instalação dos equipamentos, os quais contam com a chamada Lei Geral das Antenas, estabelecidas pelo Congresso Nacional, mas que necessita de uma lei local arrematando as questões burocráticas e dando segurança jurídica ao setor, segundo ele.

Torres ainda menciona, como ponto de atenção, envolver as chamadas big techs na equação financeira do setor de telecomunicações no Brasil.

"Hoje, a maior parte do tráfego do conteúdo que trafega pelas redes de telecomunicações é originária de poucas empresas. Há uma necessidade de um olhar do poder público e da própria sociedade para que essas empresas colaborem para a manutenção do ecossistema digital", arrematou.

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Uso de redes privadas ainda é tímido, mas avança no Brasil

Apontadas como as principais e mais úteis aplicações do 5G, as redes privadas - onde o sinal é de uso exclusivo de uma empresa ou organização - somam apenas 41 iniciativas, segundo os dados apurados pela consultoria Teleco. Nenhum deles é no Ceará. A indústria domina essas experiências, com 13 redes. O agronegócio (6) vem em seguida e o setor de saúde (4) juntamente com o elétrico (4) fecham o pódio que tem a educação (2) entre os últimos.

Para Diogo Della Torres, coordenador de Infraestrutura da Conexis, a demanda existente ainda é tímida. Ele acrescenta que a maior parte dos equipamentos da chamada internet das coisas (IOT, da sigla em inglês) vem do Exterior e os investimentos para o uso são robustos. "A gente tem alguns exemplos de empresas nacionais que têm buscado desenvolver o hardware desses dispositivos e há uma grande possibilidade de crescimento. A tecnologia 5G veio para possibilitar o uso de 1 milhão de dispositivos por quilômetro quadrado", avaliou.

Perguntado sobre como o projeto Nova Indústria Brasil, criado pelo Governo Federal, pode impulsionar essa perspectiva do 5G, Torres afirmou que são objetivos complementares. O uso do espectro, fiscalizado pela Agência Nacional de Telecomunicações, de forma mais produtiva, ou seja, atendendo mais pessoas com menor uso dele também é uma preocupação relacionada ao meio ambiente, segundo o executivo. É a chamada relação bits por hertz. "O desenvolvimento do 5G também visa essa preocupação com o meio ambiente. Diversas das aplicações, destacada a IOT, buscam eficiência na produção industrial e agrícola. Entendo que isso viabiliza uma preocupação de reduzir as emissões de carbono", conclui.

Para Carlos Roseiro, Diretor de Marketing de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) da Huawei, "a adoção da nova tecnologia no país é muito positiva tanto pelos consumidores finais, quanto pelo setor produtivo". "Estamos agora chegando num momento em que as operadoras estão abrindo o seu foco para o mercado corporativo. E por outro lado, as empresas clientes finais começam a conhecer as tecnologias 5G e o seu potencial se melhoria da produtividade", avalia.

Ele afirma ainda que vê os estados nordestinos em destaque, "com operação 5G mais avançada". "O Nordeste é hoje a região com mais cobertura 5G de diferentes operadoras", diz. A empresa chinesa foi uma das entusiastas da nova tecnologia desde o pré-leilão e tem projetos de pesquisa em desenvolvimento com instituições de ensino no Brasil, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

Roseiro conta que a atuação da Huawei chega a 95% da população brasileira a partir de parcerias com as operadoras de telecom. O centro de distribuição da empresa, inclusive, conta com uma rede privativa 5G, que "permite a conexão em tempo real de vários dispositivos ao mesmo tempo, como veículos que se deslocam sem a dependência de humanos, câmeras de monitoramento com inteligência artificial e dispositivos de radiofrequência."

São 12 antenas capazes de conectar até 30 dispositivos inteligentes, segundo ele, e que proporcionou 25% de eficiência na operação, com "diminuição do ciclo de produção de 17 para 7 horas, 100% de operação digital e em nuvem e redução de 48h para 2h o tempo de contagem do inventário."

Com dois anos apenas, 5G tem muito o que desenvolver

O 5G completa dois anos e ainda está no começo das implantações. A perspectiva é de uma implantação completa até 2029 e ainda tem muito para acontecer. Então, o IOT (internet das coisas, da sigla em inglês) necessita evoluir. Mas a gente precisa, talvez, de incentivos do governo para estimular a criação de redes privativas. Os pequenos e médios negócios ou a agricultura familiar podem ser os setores visados para deslanchar essa tecnologia. O que eu vejo é que o governo ainda não está com essa visão de que o 5G pode fornecer além da velocidade para os usuários. Pode ter um ganho na internet das coisas, veículos autônomos, enfim, em tecnologias para acelerar a economia.

A gente precisa também que a sociedade entenda qual é a perspectiva do 5G. Não é apenas para que a gente aumente a velocidade nos nossos celulares. A ideia é promover uma revolução nas novas aplicações, como cirurgia remota, veículos autônomos, drones de entrega e isso precisa ser regulamentado. Eu não vejo nenhum movimento neste sentido. Isso ainda está lento para esta novas aplicações. Se a gente não discutir isso agora, como a aprovação das nossas leis demoram um pouco, quando essas possibilidades estiverem prontas como a gente vai fazer? Não vai ter nada e as startups não vão poder criar novas soluções porque não vai ter regulamentação.

Na academia, principalmente aqui no Instituto Federal, nós temos trabalhado muito em aplicações para o 5G, com realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista, que são tecnologias que as big techs têm apostado. É onde o 5G vai atuar forte porque precisa além de uma boa largura de banda uma baixa latência. O 6G já tem sido pesquisado também. Mas ainda no âmbito bem embrionário, pois tem que evoluir bastante. É uma realidade de 5 anos ou até 10 anos para ser implantado. Com relação ao 5G, com uma quantidade maior de operadoras, os serviços que vão ser oferecidos vão ser melhores porque a competitividade traz isso. A disputa entre as três maiores empresas (Claro, TIM e Vivo) está consolidada, mas creio que, com a entrada da Brisanet, o custo para o usuário vai reduzir e aumentar ainda mais a competitividade. Afinal, ela está iniciando neste mercado e não pode ser mais uma operadora, precisa trazer o espírito de inovação.

Moacyr Regis

Professor do IFCE

Acesso internet celular
Acesso internet celular

Operadoras ressaltam adesão de usuários e novas experiências

A migração de usuários do 4G - ou até de tecnologias mais antigas, como o 3G - para o 5G são apontadas pelas operadoras como resultado da estratégia de mercado desempenhada nos últimos dois anos. No Brasil, dos 262,4 milhões de acessos via telefonia móvel, 33,3 milhões foram via 5G, de acordo com dados apurados em agosto passado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Os números configuram o segmento como o de maior porte nas telecomunicações do País, contra 49,6 milhões de acessos via banda larga fixa, outros 23,1 milhões da telefonia fixa e mais 10 milhões da TV por assinatura. Com o leilão realizado em 2021, o compromisso das empresas foi de desembolsar recursos para a instalação da nova tecnologia, no modelo de investimento e não arrecadatório de certame. Ao todo, são previstos R$ 7,1 bilhões em aplicações pelas companhias até 2029.

"A TIM celebra dois anos de operação comercial do 5G no Brasil com resultados impressionantes. Atualmente, a operadora oferece cobertura em 495 cidades, atingindo 60% da população urbana, suportada por mais de 8 mil antenas 5G espalhadas pelo País", diz a operadora ao O POVO. No Ceará, a marca da empresa é de 2,9 milhões de clientes e 32,18% do mercado. Para tal, oferta cobertura em todos os bairros de Fortaleza e mais 18 municípios, nos quais a adesão ao 5G tem sido observada.

"Notamos que na capital cearense os clientes estão aderindo bem à nova rede, com registros de mais de 25% do tráfego de dados pelo 5G", comemora. Com o setor privado, a companhia celebra três experiências: "O Brasil Terminal Portuário (BTP), que obteve resultados excepcionais como o primeiro porto 5G do país. No agronegócio, a Usina São Martinho se destaca como um exemplo inovador, sendo a TIM a operadora líder na criação do primeiro Polo de Inovação 5G no campo. Além disso, em parceria com a Stellantis, implementamos o primeiro caso de uso 5G em uma planta industrial no Brasil, localizada em Goiana (PE)."

"De uma forma geral, o Ceará repete o comportamento nacional e a adoção do 5G pelos clientes avança de forma mais veloz do que se deu com o início do 4G", analisa a Vivo. A empresa detém 33,10% dos clientes cearenses a partir da presença em seis cidades do Estado. Mas "neste momento", diz a operadora, o mercado B2B "é o grande catalizador de novos serviços e aplicações 5G, embora a empresa ainda esteja na fase de desenvolvimento de modelos de negócios concretos envolvendo toda a cadeia."

Um dos destaques apontados é "a parceria com a Huawei na instalação do 5G no Centro de Distribuição e Logística da empresa, em Sorocaba (SP), onde foi possível conectar veículos autônomos autoguiados, empilhadeiras autônomas e câmeras com inteligência artificial."

Outro está no setor financeiro, no qual "a Vivo conectou a primeira agência bancária com redes 5G, em parceria com o Itaú Unibanco, e já caminha para expandir para até 100 agências, possibilitando que cada operação tenha uma arquitetura de rede móvel mais limpa e eficiente."

Já a Claro afirmou ao O POVO que a atuação no 5G tem resultado na fatia de "32,15% de participação de mercado na tecnologia" no Ceará. "A Claro é uma das maiores operadoras no Ceará com 32,85% de market share no serviço móvel. A operadora já tem cobertura com a tecnologia 5G em cinco cidades cearenses: Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Sobral e Maracanaú", completou, destacando "a importância do estado cearense" para o segmento.

O POVO entrou em contato com a Brisanet, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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