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Escolas do Ceará atraem parcerias e aquisições de grupos educacionais do Brasil
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Escolas do Ceará atraem parcerias e aquisições de grupos educacionais do Brasil

| EDUCAÇÃO | O mercado de educação tem sido pujante no Estado, com instituições sendo compradas e outras fechando parcerias ou exportando sistemas de ensino
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O INTERESSE crescente nas escolas cearenses se explica pelo desempenho acadêmico, inovação pedagógica e solidez financeira das instituições (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil O INTERESSE crescente nas escolas cearenses se explica pelo desempenho acadêmico, inovação pedagógica e solidez financeira das instituições

O mercado de educação privada vive um momento de forte movimentação nos últimos anos no Ceará. Enquanto redes de ensino de outros estados têm buscado comprar colégios locais ou fechar parcerias para ampliar atuação no Estado, outras instituições cearenses miram aquisições e, até mesmo, exportam sistemas de ensino para outras regiões.

O interesse crescente se explica pelo desempenho acadêmico e inovação pedagógica de muitas instituições do Ceará, que ocupam posição de destaque no cenário nacional.

Exemplo é o Farias Brito, que de tanto aprovar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi uma das forças a atrair a obra do ITA para Fortaleza.

A reportagem ouviu gestores de escolas e representantes de grupos educacionais para entender o que motiva esse movimento e as perspectivas para o futuro.

No dia 1º de abril, o Colégio Antares anunciou uma integração total com o Grupo Salta, originado no Rio de Janeiro. A proposta pedagógica e a atual diretoria seguem à frente da gestão. A venda se deu no intuito de unir forças, e o projeto pode ser o primeiro passo para novas aquisições. A ideia é expandir a marca pelo Ceará e por outros estados do Nordeste.

Segundo o diretor de fusões e aquisições (M&A, em inglês) do Grupo Salta, Daniel Fadel, o objetivo da organização é mudar o País por meio da educação; e, para isso, precisa adquirir um grande volume de escolas. Ele destacou, assim, que o Ceará é uma das referências nacionais em educação, e citou fatores como a qualidade de ensino, o tamanho e a estrutura das escolas.

Em março, o Master Soluções Educacionais fechou uma parceria com o mineiro Bernoulli Educação para a criação do Multitude Sistema de Ensino. O diretor-executivo do Multitude e conselheiro do Colégio Master, Matheus Leitão, explicou que, a partir de 2026, mais de 20 mil estudantes utilizarão os materiais didáticos.

Além disso, ele comentou que a expansão está entre as possibilidades futuras do Colégio Master, seja pela ampliação das unidades atuais, seja pela abertura de novas sedes. “O Colégio Master possui um forte reconhecimento no Ceará e no Rio Grande do Norte, o que naturalmente gera oportunidades de crescimento.”

Já o Colégio 7 de Setembro (C7S) foi adquirido por uma rede de fora em 2022, cuja sede é no Rio de Janeiro. A atual dona da instituição, Inspira Rede de Educadores, divulgou, no último dia 3, um plano de modernização das sedes no Ceará nos próximos três anos, envolvendo investimentos de R$ 10 milhões.

O vice-presidente executivo da Inspira, Adriano Pistore, detalhou que a empresa escolheu o C7S e o Ceará por causa do mercado de educação local ter um nível elevado, com competição de qualidade entre as diversas instituições. “A concorrência aqui (no Estado) é saudável e estimula a melhoria contínua do ensino”, pontuou.

Mais um fator e interesse é que o Estado consegue ter um mercado duradouro. Um exemplo é o Colégio Santa Cecília Fortaleza, que celebra os 114 anos de fundação e expandiu, há um ano, para o Eusébio. Ou o Colégio Batista, que atua há mais de sete décadas (75 anos).

O fundador do Colégio Ari de Sá e da Faculdade Ari de Sá (FAS), Oto de Sá Cavalcante, considera a concorrência saudável. “Quando surge um concorrente novo, no fim, trabalhamos mais, pensamos mais, nos reinventamos e melhoramos. Então, digo com toda a minha experiência que, ao longo da minha vida, a concorrência sempre me fez bem.”

Ele não cogita vender o negócio familiar e disse que nem faz reuniões para escutar propostas de parcerias ou aquisições. Não é algo que passe pela sua cabeça. Hoje, o Colégio conta com mais de oito mil estudantes, com um crescimento anual de 4,41%, conforme o jornalista Jocélio Leal; e avança em uma nova sede na Avenida Luciano Carneiro.

O filho de Oto, Ari de Sá Neto, também atua no mercado à frente da Arco Educação, dona do Sistema Ari de Sá (SAS) e de outros sistemas educacionais pelo Brasil. Ele destacou que o destaque da educação cearense começou desde o extinto Colégio GEO, que detinha um modelo focado em grandes vestibulares, desenvolvido pelo professor Chico Sampaio.

A cearense Arco conta com cinco milhões de estudantes e dez mil escolas que usam suas soluções no Brasil. Ari salienta, ainda, que eles não cogitam comprar escolas. “A Arco quer caminhar no sentido de ajudar cada vez mais as escolas. Hoje auxiliamos as escolas não apenas na área pedagógica, mas também na área financeira e de gestão.”

O diretor do Colégio Christus e reitor do Centro Universitário Christus (Unichristus), José Rocha, afirmou que, em outros estados, a compra e venda de escolas é até mais comum do que no Ceará. O Christus já chegou a ser procurado por empresas interessadas, mas não teve interesse em nenhum tipo de negociação.

“Eu sou a favor de que elas venham, mas elas têm uma dificuldade muito grande de se instalar, de comprar e de se estabelecer, porque dificilmente uma escola já constituída quer vender. E aquelas que conseguem entrar enfrentam uma grande dificuldade em lidar com essa qualidade de ensino que já existe aqui em Fortaleza”, detalhou José. (Colaborou Larissa Viegas)

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Governo do Ceará aposta em ensino público para desenvolver Interior e reter jovens

A educação tem sido um dos principais eixos de estratégias do Ceará para promover o desenvolvimento regional e criar oportunidades no interior do Estado, retendo jovens talentos a partir do aprimoramento do ensino público integrado à educação profissional.

A visão foi compartilhada pela secretária-executiva do ensino médio e profissional da Secretaria da Educação (Seduc), Jucineide Fernandes, a qual afirmou que um dos maiores destaques da educação estadual é o regime de colaboração com municípios.

Ela detalhou que alguns estados, como o Ceará, adotam um regime de colaboração para matrículas ou transporte escolar. Entretanto, com o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, foi instaurado um regime focado na aprendizagem e na alfabetização também.

“Realizamos ações de assessoria técnica para os municípios, e todos eles aderem ao programa, independentemente da posição política ou ideológica. Prestamos assistência técnica e pedagógica, além de formação para professores e gestores”, explicou.

Os dados mais recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados em 2024, referentes ao ano anterior, mostram que o Ceará teve o melhor resultado do Brasil, ao considerar a educação pública no ensino fundamental.

No caso da avaliação do ensino médio tradicional e do ensino médio integrado à educação profissional — por meio de cursos técnicos —, o Estado ficou na terceira melhor posição do País, liderando o Ideb na região Nordeste junto de Pernambuco.

O planejamento estadual da educação busca alinhar a formação dos jovens às demandas econômicas regionais. E a meta é conseguir universalizar o ensino médio em tempo integral até 2026, de acordo com Jucineide.

“Os cursos técnicos são pensados conforme o contexto econômico de cada região. Em 2022, por exemplo, passamos a ofertar cursos na área de energias renováveis, acompanhando a expansão desse setor no Estado”, informou.

O trabalho na educação tem envolvido, ainda, a distribuição de tablets para auxiliar os estudantes na aprendizagem. As escolas de tempo integral vem atuando em algumas nuances da educação digital, incluindo temas como desinformação e checagem de fatos.

A educação precisa preparar os alunos para uma cidadania plena, conforme Jucineide. “Investimos em educação e direitos humanos, equidade racial e desenvolvimento de competências socioemocionais. (…) Neste ano, por exemplo, nosso tema norteador é educação ambiental, sustentabilidade e emergência climática.”

Além disso, a política educacional estadual está ligada à permanência nas escolas e aos indicadores. “Nosso trabalho é focado no acompanhamento dos gestores e nos resultados dos estudantes, incluindo frequência, rendimento e outros indicadores.”

A interiorização do ensino superior é outra ação fomentada pela Seduc, incluindo novos campi de universidades no interior. “Nosso objetivo é que os jovens permaneçam em suas cidades e contribuam para o desenvolvimento local, que, consequentemente, beneficia todo o Estado.”

Para Jucineide, o investimento em educação técnica, ensino integral e formação voltada à realidade digital forma a base de uma educação que contribui diretamente com a economia regional e com a permanência dos jovens em seus territórios.

 

Do ensino básico à universidade: mais um caminho da educação privada no Estado

Colégios cearenses tradicionais passaram a apostar no ensino superior como um caminho de expansão nos últimos anos, uma tendência que movimenta o setor privado e tem lançado um novo caminho para a educação privada no Estado. Algumas das instituições deste mercado de graduação, pós-graduação e ensino a distância (EaD) são o Centro Universitário Farias Brito (FB Uni), Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7), Centro Universitário Christus (Unichristus) e Faculdade Ari de Sá (FAS).

O reitor da Unichristus e diretor do Colégio Christus, José Rocha, destacou que a expansão para o ensino superior seguiu o mesmo princípio utilizado na escola, cuja prioridade está na qualidade, opinou. “Funcionou e tem funcionado muito bem.”

Já o fundador da FAS e do Colégio Ari de Sá, Oto de Sá Cavalcante, entende que o movimento de ampliação para o ensino superior foi algo natural. Os olhares estão voltados à busca constante por novos cursos, pela inovação e pelo desenvolvimento acadêmico. Todavia, pondera que o cenário do ensino superior está muito difícil atualmente. “Quem tiver apenas ensino superior, não sobrevive.”

O contexto reflete uma dificuldade nacional, não só local, segundo Oto. O educador explicou que o País passa por uma avalanche de cursos sendo lançados, propiciando muita oferta no mercado, em meio a recursos limitados de financiamento estudantil no ensino particular.

O aquecimento do mercado mostra, ainda, que organizações de fora vêm se interessando também pelo ensino superior do Ceará. O grupo Ser Educacional — presente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil —, por exemplo, comprou a UNI7 em 2023. O movimento partiu do interesse de difundir atuação tanto em Fortaleza quanto no Estado, onde já opera três unidades do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau). O diretor-presidente do Ser Educacional, Jânyo Diniz, explicou a estratégia ao O POVO.

“A força da marca UNI7, reconhecida e tradicional no mercado de trabalho local, foi um fator essencial. (…) Estamos empenhados em transformar a UNI7 em uma referência de vanguarda, concentrando nossos esforços principalmente na graduação em Direito e Saúde”, disse.

Além disso, o executivo relatou que o grupo iniciou um processo focado em educação continuada e tecnologia educacional na UNI7. A inteligência artificial (IA) é uma das prioridades dos investimentos, a exemplo de programas que usam IA voltados a trilhas de aprendizagem.

FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 02.04.2025: Vladimir Nunan, diretor-presidente da Eduvem. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 02.04.2025: Vladimir Nunan, diretor-presidente da Eduvem. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Startup cearense aposta em educação corporativa e inicia expansão global

Fundada em 2020 no Ceará, a startup de educação corporativa Eduvem surgiu com a proposta de preencher uma lacuna entre a formação acadêmica e as exigências do mercado de trabalho. Hoje ela está em expansão global, com a abertura de uma unidade em Portugal.

A empresa passou a desenvolver soluções que ajudam empresas a organizar e disseminar conteúdos internos, visando tornar seus colaboradores mais produtivos desde os primeiros dias de atuação em um ambiente de trabalho.

“Esses profissionais já são bem treinados pelas escolas e faculdades, mas precisam entrar no modus operandi das empresas, entender os sistemas, a cultura e os valores corporativos para poderem ser produtivos rapidamente”, segundo o diretor-presidente Vladimir Nunan.

A aposta da Eduvem é na capacitação contínua nas organizações por meio de plataformas digitais que integram cultura, processos e treinamentos específicos. A startup mira alcançar 300 clientes na base e um faturamento de R$ 4 milhões em 2025.

“Atualmente, temos 251 CNPJs contratantes. Isso representa milhões de usuários, pois cada empresa atende um grande número de colaboradores. Essas empresas já incorporaram a cultura do lifelong learning (educação continuada), ajudando seus funcionários a crescerem na carreira”, afirmou Vladimir.

No ano passado, a Eduvem iniciou uma nova fase do negócio: a internacionalização. Algo que já constava nos planos da empresa desde a sua criação, tendo em vista que os sócios já trabalhavam em multinacionais e em outros países, conforme o diretor-presidente.

“Desde a primeira linha de código, construímos a plataforma em inglês, com o português sendo a primeira tradução. Lá atrás, fomos criticados por essa estratégia, mas hoje colhemos os frutos. Construímos um software robusto, pronto para crescer sem dores de cabeça.”

Em meio à trajetória, a Eduvem passou a contar com o apoio da aceleradora Casa Azul Ventures. O primeiro contato aconteceu por meio de um programa denominado Delta-V, em parceria com o Banco do Nordeste, envolvendo treinamentos e consultorias.

“Além da aceleração, conduzimos uma rodada de investimentos Série A, que movimentou R$ 15 milhões”, conta o diretor de operações da Casa Azul, Rafael Silveira. “Nosso papel é garantir que o crescimento da empresa não seja limitado por falta de capital ou estrutura.”

“Eu acredito que, quando a gente olha para o projeto de inovação do Ceará e, de alguma forma, do Nordeste, educação é algo bastante presente. Eu digo isso como negócio, como tese, ou seja, soluções para negócios de educação”, acrescentou o especialista.

O líder de aceleração e impacto da Casa Azul, Gabriel Gurgueira, vê a educação como um vetor estratégico de transformação que proporciona contexto de impacto em larga escala. Para o futuro, a aceleradora deve seguir atenta “a bons negócios de inovação”, como na educação.

Já a meta da startup é continuar avançando com sustentabilidade, consolidando-se no ambiente da educação corporativa dentro e fora do País. “Nosso objetivo não é apenas crescer, mas garantir uma estrutura organizada para atender bem os clientes”, disse Vladimir.

 

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