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Ceará tem 55 negócios de impacto espalhados por 11 municípios, diz levantamento
Reportagem

Ceará tem 55 negócios de impacto espalhados por 11 municípios, diz levantamento

Além de situar negócios de impacto, o estudo, desenvolvido em parceria entre a Coalizão pelo Impacto, a Rizoma Social e o Grupo de Comunicação O POVO, também apontou o perfil dos empreendedores
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NA FOTO, OS SÓCIOS da Synergy2Power, empresa responsável pela proposta de projeto para produção de biometano, a partir de resíduos sólidos de uma horta comunitária (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS NA FOTO, OS SÓCIOS da Synergy2Power, empresa responsável pela proposta de projeto para produção de biometano, a partir de resíduos sólidos de uma horta comunitária

Com o alto custo do gás de cozinha, Marúzia Viana, uma das sócias do Synergy2Power, começou a buscar uma solução prática para um problema que pesa no bolso das famílias brasileiras. O resultado foi um biogás gerado a partir de resíduos orgânicos, com foco nas comunidades urbanas de baixa renda.

Este é um dos 55 empreendimentos localizados pelo “Mapeamento de Negócios de Impacto Socioambiental (NIS) Ceará 2024” em 11 municípios, desenvolvido em parceria entre a Coalizão pelo Impacto, a Rizoma Social e o Grupo de Comunicação O POVO, e que será lançado nesta terça-feira, dia 1º de julho.

O objetivo da empresa, portanto, é transformar o lixo em combustível limpo. “O nosso objetivo sempre foi levar energia a pouco custo para quem não tem acesso, ou para quem paga muito caro por ela […] A gente quer que as pessoas gerem o seu próprio gás.”

Atualmente, os projetos estão sendo implantados em três bairros de Fortaleza: Conjunto Palmeiras, Serviluz e Bom Jardim. No entanto, Marúzia Viana aponta o investimento inicial para a construção dos equipamentos e limitações com espaço físico e regulamentação como desafios. A ideia, agora, é buscar também parcerias privadas para ampliar o impacto.

“Quando o negócio nasce com propósito, o retorno não é só financeiro. É muito gratificante ouvir das famílias que isso mudou a vida delas. Muitas deixam de comprar gás e podem usar esse dinheiro para medicamentos ou outras necessidades básicas. Isso também reduz o estresse financeiro, trazendo um impacto positivo até na saúde mental”, afirma.

Além de situar negócios de impacto, o estudo também apontou o perfil dos empreendedores. A maioria é composta por mulheres (59%). Já idade mais predominante é entre 25 a 34 anos (45%). Na questão racial, 40% se declararam como branca, 27% negra/parda e 21% negra/preta.

Conforme a coordenadora do Coalizão pelo Impacto de Fortaleza, Carla Esmeraldo, o mapeamento resultou na plataforma “Impacta Ceará”, que será lançada oficialmente em setembro. A iniciativa nasceu da percepção de uma lacuna na falta de um mapeamento detalhado dos negócios de impacto e das organizações de apoio que atuam no Estado.

“A ideia era conhecer o perfil do empreendedor, dos negócios, quais as soluções sociais ou ambientais que atendem. E transformar isso em uma vitrine. Por isso, traz informações detalhadas e o contato de cada um.”

Além da vitrine com os NIS, há também um espaço para as dinamizadoras, ou seja, organizações de apoio que oferecem suporte, capacitação, financiamento e estrutura para empresas desse nicho. Por exemplo, a Casa Azul Ventures, a Rizoma Social e a Somos Um. 

O mapeamento, realizado entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, buscou identificar, analisar e classificar os negócios de impacto socioambiental, bem como empreendimentos com potencial e aqueles que não se enquadram na categoria.

Para ser classificado, o empreendimento deve atender a pelo menos três dos quatro critérios: intencionalidade de impacto, solução integrada ao modelo de negócio, sustentabilidade financeira e compromisso com o monitoramento do impacto.

De acordo com Josimeire Gomes, assessora na Coordenadoria de Empreendedorismo da Universidade Federal do Ceará (Coemp/UFC) e uma das pesquisadoras do estudo, a ideia é continuar atualizando a plataforma e trabalhar com os que tem potencial.

“Entendemos que, mesmo que um negócio ainda não atenda a todos os critérios, o simples fato de ele ter se identificado como potencial negócio de impacto já é um sinal importante. Por isso, criamos a categoria de ‘potencial negócio’ para aqueles que estão em transição.”

Além disso, cita que um dos principais obstáculos identificados ao realizar a pesquisa foi a dificuldade de muitos empreendedores em se reconhecerem como negócios de impacto.

“Percebemos que muitos formulários vinham com respostas incompletas ou vagas. Após contato direto, descobrimos que, sim, eram negócios de impacto, mas os próprios empreendedores ainda não tinham clareza disso. Isso mostrou a importância do letramento e da formação nesse campo”, destacou.

Para enfrentar essa lacuna, o projeto prevê uma segunda etapa com ações de capacitação e divulgação, como cursos, eventos e oficinas para apoiar os negócios em processo de transição e fortalecer os já consolidados. 

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Falta de investimento e dificuldade de acesso são os principais desafios

Um outro ponto abordado no mapeamento foram os principais desafios enfrentados pelos Negócios de Impacto Socioambiental (NIS). Aproximadamente 41% apontaram a falta de investimento e recursos financeiros como principal fator.

Em seguida, aparece a dificuldade de acesso a mercado de clientes (36%), a gestão e estruturação do negócio (14%) e a mão de obra (9%).

Segundo a coordenadora do Coalizão pelo Impacto em Fortaleza, Carla Esmeraldo, o acesso ao fomento dessas práticas, com instituições estratégicas ou grandes empresas, ainda é mínimo.

"Alguns negócios são informais. Então, essa questão, muitas vezes, não permite que esse negócio seja contratado, por exemplo, como fornecedor de uma grande indústria. Porque aquela empresa precisa que o negócio tenha um CNPJ, que tenha uma certa certificação."

Nesse sentido, avalia que ainda existem muitas barreiras que precisam ser enfrentadas para que esses negócios de impacto entrem em uma cadeia logística e aumentem sua geração de renda. Mas também acredita que Fortaleza tem um potencial para se tornar um polo de economia de impacto.

Entre as 14 cidades brasileiras pesquisadas no estudo "Maturidade dos Ecossistemas Locais de Apoio a Negócios de Impacto", realizado pela consultoria Kearney em junho de 2024, Fortaleza se destacou ao elevar sua nota em 43% em comparação a 2022. A governança local foi o item que mais evoluiu, com um aumento de 138% no período, consolidando Fortaleza como referência nacional em impacto.

"Faz diferença ter universidades engajadas, organizações da sociedade civil, aceleradoras, incubadoras, parques tecnológicos, bancos de fomento... A gente percebe e tem articulado para que estejam engajados na pauta", destaca.

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