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A cidade em você: paisagens de Fortaleza inspiram moda e tatuagem
Vida & Arte

A cidade em você: paisagens de Fortaleza inspiram moda e tatuagem

Paisagens da capital cearense, a aniversariante deste 13 de abril, inspiram moda, tatuagem e mais linguagens. Na capa, a arte da estampa "São Pedro", de Auxi Silveira para a Baba, marca de moda autoral de Gabriel Baquit
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Arte da estampa
Foto: Auxi Silveira/Divulgação Baba Arte da estampa "São Pedro", de Auxi Silveira para a Baba, marca de moda autoral alternativa do fortalezense Gabriel Baquit. A ilustração simboliza o Edifício São Pedro, primeiro prédio da orla da Praia de Iracema, um marco simbólico da Capital que enfrenta entraves sobre seu tombamento, restauração ou destruição há anos. A arte foi cedida ao O POVO para a reportagem "A cidade em você". Todos os direitos estão reservados à Baba

Respirar a maresia na orla da Praia de Iracema, avistar o Edifício São Pedro e observar uma memória em ruínas. Ir à Praça do Ferreira ou ao Passeio Público “bater perna”. Tomar um caldo de cana com pastel do Leão do Sul, assistir a um filme no Cineteatro São Luiz, apreciar o pôr do sol no marco zero da Barra do Ceará, na Lagoa da Messejana ou nas Dunas da Sabiaguaba. Isso – e mais um tanto – é Fortaleza. As paisagens que despertam sentidos num contexto íntimo, baseado na relação do sujeito consigo, também inspiram algo mais amplo: a moda, a tatuagem, as artes visuais e muitas outras linguagens.

Fortaleza, a aniversariante deste 13 de abril, comemora seus 296 anos em estampas de marcas autorais, em corpos de moradores apaixonados e nas mais diversas artes. Isso parece partir de um movimento de pertencimento e identificação com a Cidade. Fortalezenses e radicados na Capital, intimamente ligados ao município onde nasceram ou residem, querem ter um pouco do lugar em si, mostrando ao mundo suas raízes, memórias, identidades, histórias, de onde veio ou onde bate mais forte seu coração. Esse sentimento acaba se transformando em algo mais concreto para, de fato, “levar a Cidade consigo”.

A Baba, marca de moda autoral do fortalezense Gabriel Baquit, carrega essa essência em roupas masculinas, femininas e agênero. Em estampas exclusivas, artistas locais desenvolvem peças coloridas que dialogam o “vestir” com as paisagens da Capital e a memória afetiva de seus moradores. Nas artes de blusas, kimonos, cangas e mais, há representações de lugares como a Praça do Ferreira e a Praia de Iracema.

A capa desta edição do Vida&Arte, inclusive, conta com a arte da estampa “São Pedro”, de Auxi Silveira para a Baba. A ilustração simboliza o Edifício São Pedro – o antigo Iracema Plaza Hotel, primeiro prédio da orla da Praia de Iracema, um marco simbólico de Fortaleza que enfrenta entraves sobre seu tombamento, restauração ou destruição há anos. A marca também aproveita referências do cotidiano, como a estampa “Cadeiras”, com alusão às cadeiras de bares, botecos e barracas de praia daqui; e a “Chuva de Caju”, com um dos frutos típicos da região.

“A proposta sempre foi exaltar a Cidade. Muitas marcas acabam se inspirando em lugares como Itália e Grécia. Nunca entendi porque não se inspirar em Fortaleza. Tem tanta coisa bonita por aqui, por que olhar tanto para fora?”, questiona o diretor criativo, Gabriel Baquit. Além de loja virtual, a Baba conta com um espaço físico, localizado no bairro Aldeota, anexo ao restaurante Casa Patuá. O Baba Lab funciona como uma loja no térreo e um laboratório autoral no 1º andar. Por lá, é possível encontrar não só peças da Baba, mas também outras criações de cearenses.

O desfile de estreia da marca aconteceu em 2019, no Dfb Festival – antigo Dragão Fashion Brasil, o maior encontro de moda autoral da América Latina. Desde então, a Baba vestiu nomes como Max Petterson, Manu Gavassi, Mateus Carrilho, João Luiz Pedrosa e Camilla de Lucas. O nome surgiu do próprio sobrenome de Gabriel. Fortalezense, ele conta que cresceu na Cidade, em meio à loja de roupas esportivas de seu pai e ao trabalho de sua mãe no setor têxtil. “Adorava ver a serigrafia, meio que tudo foi convergindo para a moda”. Formou-se em Publicidade, mas sempre com atuações na moda durante a graduação. Viajou para o exterior e imergiu na saudade das paisagens de Fortaleza. Após trabalhos com a grife Água de Coco, resolveu lançar sua própria coleção. “Sempre tive vontade de criar e a Marina Bitu (da marca homônima) me ajudou a criar a primeira coleção”.

“Quando começamos, uma das grandes propostas era mostrar Fortaleza do jeito que enxergamos. Quanto mais a gente fala da Cidade, mais se entende o quanto a Cidade pode ser uma potência criativa, principalmente colaborando com artistas daqui. Fortaleza é conhecida como grande polo de indústria têxtil, mas ainda não conseguiu grandes destaques como polo de moda e criatividade. Esse trabalho de representar a Cidade, vestir a Cidade, acaba criando uma comunidade em torno disso”, analisa Gabriel. Segundo o diretor criativo, mais marcas integram esse movimento de estampar a Cidade, seja de forma mais gráfica ou mesmo conceitual, como a própria Marina Bitu.

As peças também acabam agregando um valor de artefato. Gabriel conta sobre pessoas que adquiriram peças da estampa “São Pedro” porque a avó morou no edifício, por exemplo, e quer guardar como lembrança. “Hoje, a gente consegue se apropriar de referências tão nossas que as pessoas se identificam, querem vestir, comprar, usar, colaborar. Querem mostrar para o mundo”.

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Mais Fortaleza

Baba. Mais info: @insta.da.baba
Marina Bitu. Mais info: @marinabitu
Foca Off. Mais info: @focaoff
Rima Rica. Mais info: @rimarica

Artista fortalezense, Nathalia Fiuza tatuou na pele a representação do Edifício São Pedro. Raquel - Avoante foi a tatuadora responsável pela arte e pela aplicação
Artista fortalezense, Nathalia Fiuza tatuou na pele a representação do Edifício São Pedro. Raquel - Avoante foi a tatuadora responsável pela arte e pela aplicação

Marcada na pele

Atriz, artista visual, performer, produtora cultural e musicista, a fortalezense Nathalia Fiuza decidiu registrar na pele seu fascínio por Fortaleza. A tatuagem ilustrada em seu corpo apresenta uma representação do Edifício São Pedro num enlace com o mapa do Ceará. Pesquisadora em teatro, Nathalia diz que a ideia surgiu em meio a uma de suas inúmeras investigações em artes cênicas pela Cidade.

A pesquisa "Portas de São Pedro" parte da reflexão não só sobre a história do próprio Edifício, mas também sobre as narrativas que permeiam aquele espaço. Nathalia destaca as histórias de pessoas que moravam no prédio e, também, das pessoas em situação de rua que passaram a habitar o Edifício após sua desativação.

"O que essas pessoas contam da história do prédio? Qual é o momento em que parou de ser Iracema Plaza Hotel para ser Edifício São Pedro? Quando o prédio deixou de ser em formato de navio para ter um formato de favela? Essa dualidade é o que chama minha atenção. Fora que ele é um monumento enorme na Praia de Iracema, onde tem vários arranha céus enormes, luxuosos", aponta. O estudo acontece no âmbito do Laboratório de Criação em Teatro da Escola Porto Iracema das Artes.

Embora o prédio seja algo estático, parado, Nathalia pontua as tramas que atravessam sua estrutura. Segundo a artista, há um movimento de relações que ora convergem, ora divergem. "A atenção que as pessoas têm com ele… De ódio, de amor, de cuidado ou de moradia e memória. Passa por esses caminhos. Fiz a tatuagem por isso. Para mim, ele é um grupo de memórias, um grande álbum de fotografias em poucos metros quadrados. É como se Fortaleza passasse por ele e, enfim, se sentisse afetada, mesmo sendo um prédio estático. Enorme, mas estático".

A artista explica: "O espaço só deixa de existir quando é esquecido ou quando não é registrado". A pesquisa "Portas de São Pedro" atua, então, na perspectiva da memória. "Se esse prédio um dia não existir, se ele cair, se demolirem, ele vai continuar vivo na memória daquelas pessoas que passaram por ele, das histórias que vivem lá. Existe esse movimento de viver a vida lá dentro. Ao mesmo tempo que o prédio naufraga, ele também ganha vida. Na pesquisa, tenho alguns escritos de pessoas que veem o prédio naufragando e de como essa morte é lenta. Um espaço que, enfim, está afundando. Uma cidade naufrágio".

"A tatuagem veio daí, de registrar memórias, de lembrar dessa pesquisa também, de deixar registrado no corpo esse momento, essas pessoas que falaram comigo, que foram abertas. Esse espaço que, de certa forma, me afetou. Receber essas energias, receber os sorrisos delas mostrando fotos no prédio… Ouvir histórias de pessoas que moram lá e eles serem totalmente abertos com uma pessoa que eles nunca viram na vida. Esses movimentos, essas alegrias, esses novos conhecidos, quis registrar no meu corpo, porque meu corpo também já está sendo afetado por essas histórias", acrescenta.

Nathalia conta que sempre morou longe do Centro de Fortaleza e do entorno. "Para chegar nesses espaços, eu cruzava a Cidade. Esse movimento me fez apreciar muito das paisagens, dos locais e das pessoas. Isso me fez criar uma curiosidade sobre o porquê das pessoas, enfim, estarem ali, do que poderia ter acontecido com os espaços, quais as histórias daqueles espaços… Fortaleza é uma Cidade histórica e, a partir da reforma de prédios e revitalizações, os lugares ganham cada vez mais novas histórias. Sempre vai existir pessoas passando por esses locais, construindo memórias".

A tatuadora Raquel-Avonte, responsável pelo traço e pela aplicação, conta sobre como sua arte está ligada à Fortaleza. "Vem muito da observação da paisagem e como ela nos atravessa. Fortaleza vem se transformando e como Urbanista em formação, gosto de enfatizar nossos rios, nossas águas e como é precioso reconhecer nosso território. Sempre aparece pessoas que querem mapas afetivos e isso é muito bonito de registrar. Gosto de colocar as perspectivas dos meus clientes, o processo de escuta é muito importante no meu trabalho, neste processo de criar cicatriz que nada mais é a tatuagem".

A artista também cria artigos de arte, decoração e moda com a marca Riacho Doce. Baseadas em experiências afetivas, artes diversas estampam quadros, telas, camisas e mais.

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Acompanhe

Nathália Fiuza: linkr.bio/nathaliafiuza e @comfiuza
Raquel-Avoante: @avoante_
Riacho Doce: @criacoes.riachodoce

Mais artes

As paisagens de Fortaleza também estão em ilustrações, colagens ou experimentos diversos em artes visuais. O artista plástico fortalezense Raony Bernardo, por exemplo, tem como um de seus objetos de estudo a observação da Cidade. Em algumas de suas produções, há representações em aquarela da Praia do Futuro, do Farol do Mucuripe, do Anfiteatro do Parque do Cocó, da Praça do Ferreira, Catedral e Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC). Raony recebe encomendas de ilustrações e pinturas por meio de seu perfil na mídia social Instagram: @bernardoatelie.

 

Já Arielly Eduarda trabalha com arte digital, seja colagem ou ilustração. Numa de suas obras, a estátua de Iracema – personagem da literatura de José de Alencar – da Lagoa da Messejana aparece num encontro de olhares, mistura de cores e de texturas. Recentemente, a artista desenvolveu uma coleção com uma série de lugares da Cidade ilustrados em cores vibrantes. Forte Nossa Senhora da Assunção, Praia de Iracema com a estátua Iracema Guardiã, Praça dos Leões e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) foram alguns dos lugares retratados. A artista também recebe encomendas pelo seu perfil no Instagram: @aryarty_.

 

No Audiovisual, alguns filmes e séries exploram a Cidade de alguma forma, seja de uma maneira mais explícita ou mesmo implícita. Dirigido pelo fortalezense Karim Aïnouz, o longa-metragem Praia do Futuro (2014) leva o nome de uma das praias mais famosas de Fortaleza. No filme, estrelado por Wagner Moura, o personagem Donato trabalha como salva-vidas na Praia do Futuro. A produção, disponível no catálogo do serviço de streaming Globoplay, conta com diversas cenas rodadas no litoral da capital cearense.

A série cearense “Meninas do Benfica”, gravada em Fortaleza, também está disponível na plataforma Globoplay. Como o título sugere, a produção aborda muito do cotidiano do bairro universitário da Cidade, conhecido pela boemia e discussões intelectuais. Dirigida por Roberta Marques, a trama inicia em junho de 2013, em meio às manifestações políticas do Brasil. Sandra (Larissa Goes), Iara (Amanda Freire), Keyla (Lua Martins) e Andrea (Ariza Torquato), graduadas em Comunicação Social, vão às ruas protestar.

Diversas músicas também retratam Fortaleza em diferentes nuances e referências. O Vida&Arte fez uma seleção com algumas dessas canções. Tem Pessoal do Ceará, Selvagens à Procura de Lei, Fagner e mais.

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