Nascida em Chaval, cidade na divisa entre Ceará e Piauí, a artista Vanessa, A Cantora relembra a Rua da Caçamba como local das suas primeiras aventuras musicais. "Quando eu ganhei o microfone de brinquedo da Avon, se já cantava no chuveiro, agora era o dia todo cantando para as plantas", lembra. Deste contexto, ela hoje desponta com destaque na noite de Fortaleza com interpretações pessoais do forró das antigas.
Com a mudança da família para Fortaleza em 1997, após a separação e posterior reconciliação dos pais, Vanessa passou a mostrar a voz para o mundo quando, aos 10 anos de idade, começou a cantar na Igreja que frequentava. Foram 15 anos nessa aproximação.
A artista ainda recorda que, mesmo quando passou pelo pior momento, em 2007, ainda continuou cantando. Naquele ano, ela descobriu que estava doente, com tuberculose. "Eu fiquei com muito medo, sempre tive a imunidade baixa então acredito que tenha sido por isso. O médico ainda alertou que poderiam ficar sequelas e eu não queria acreditar”, compartilha.
“Fiz todo o tratamento da melhor forma, mas continuei cantando escondido, de teimosa", reconhece. A descoberta da doença foi precoce, o que facilitou o tratamento e combate dos efeitos colaterais. A cantora atualmente não possui nenhuma sequela.
A saída da igreja marcou um momento de redescobertas sobre si mesma e música que buscava apresentar. Aos 25 anos, não queria parar de cantar — não o fez durante o tratamento da tuberculose, então não fazia sentido parar àquela altura —, mas precisava de algo novo.
O sonho de seguir com a carreira musical de forma profissional sempre existiu, mesmo passando antes por áreas como Publicidade e Propaganda, Administração e Turismo. ''Passei por muitos saberes, acho inclusive que a publicidade me deu uma bagagem para conseguir me comunicar hoje com o meu público, com quem eu quero realmente atingir", observa.
A ideia de cantar forró das antigas surgiu a partir de uma necessidade pessoal da artista, que tentava imaginar como seria trazer o estilo musical para a própria realidade e também para o público que ela buscava.
"Gosto da proposta de trazer o forró das antigas ao meu jeito. Esse ritmo tem um tanto de conservadorismo na história, mas quando eu coloco a minha vivência nele, e também para o meu público, tudo flui. É algo contagiante para nós que somos nordestinos, que pode e deve ser cantado por todes", atesta.
A mudança para uma nova fase musical veio acompanhada de bastante estudo e dedicação de Vanessa, que retornou aos palcos no final de 2021, após uma pausa de três anos sem cantar. Interessada em vivenciar uma nova etapa, a cantora começou a receber convites para cantar em festas e bares após o período pandêmico.
Vanessa lembra que após este período sem cantar, havia muitas inseguranças para o retorno. "Eu percebi que precisava estudar mais sobre como interpretar as músicas que eu ia cantar. Era acostumada com o louvor na igreja, agora precisava incorporar o sofrimento de um chifre, uma traição”, explica, destacando “a primeira artista que me ensinou a ser cantora de barzinho: Marília Mendonça".
A cearense recorda que o dia de volta aos palcos aconteceu em um momento específico, o qual guarda até hoje. "Eu estava me arrumando, fazendo a maquiagem. Nessa hora, deram a notícia que o avião da Marília tinha caído. Foi uma mistura de sentimentos. Como ela me ajudou muito nesse retorno, foi algo bem impactante", remonta.
O retorno às apresentações também foi marcado pela chegada de novas pessoas, entre elas Ariana Mércia, figura importante na vida profissional e pessoal da artista. As duas se conheceram em outubro do ano passado, data que lembram com muito afeto, e contam que não se soltaram mais desde então.
Casadas desde maio, Ariana e Vanessa participam juntas na organização da agenda da cantora. "Eu gosto de ser essa rede de apoio para ela, mas a Vanessa consegue organizar tudo sozinha. Ama cantar e também ir para as festas, tem dias que eu quase não acompanho, mas é muito lindo de se ver a energia que ela tem", conta Ariana.
Neste ano, a artista se apresentou na XXII Parada pela Diversidade Sexual do Ceará. “Surpresa” e “gratidão” foram as palavras usadas por Vanessa ao descrever como se sentiu ao receber o convite do Grupo Resistência Asa Branca. "Foi um momento que reuniu tudo que queria, mas não esperava que fosse acontecer tão cedo na minha carreira. Quando fiquei sabendo mal acreditei que ia cantar para um público tão grande, além de serem exatamente as pessoas que eu queria alcançar com a minha voz", afirma.
Vanessa traz consigo, em especial, o desejo de gravar um EP até o final do ano. Há também a possibilidade de incorporar um pouco de pop no repertório, pois confessa que as divas do gênero têm uma representatividade pela qual possui admiração e que conversam com o público que almeja continuar alcançando.
Para além do futuro, a artista foca em comemorar o momento que vive. Vanessa traz a memória do que já passou: de um momento em que tudo parecia não se encaixar para outro no qual as áreas da vida caminham de forma harmônica. "Cantei a vida toda, mas é impressionante como só agora tô vivendo tudo aquilo que queria para a minha música e para a minha arte. Quero continuar com esse sentimento bom”, celebra.
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