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História da beata Maria de Araújo é terma de peça no Teatro Dragão do Mar
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História da beata Maria de Araújo é terma de peça no Teatro Dragão do Mar

Com dramaturgia escrita por Tércia Montenegro, peça "Cavucar" reconta a história da beata Maria de Araújo
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Foto: Jaque Rodrigues/Divulgação Peça "Cavucar", que reconta a história de vida e religiosidade da beata Maria de Araújo, é apresentada no Teatro Dragão do Mar

No Cariri do século XIX, uma jovem negra e de família pobre via sua vida mudar ao ter sua história entrelaçada com as crenças religiosas que guiavam os caminhos de inúmeros fiéis da Igreja Católica.

Nascida em um povoado do Crato por volta dos anos 1861 e 1863, Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo foi mais uma das mulheres violentadas em suas trajetórias de santificação.

O caso da beata Maria de Araújo, uma vez esquecida e apagada, é retratado atualmente na peça “Cavucar”, dramaturgia de Tércia Montenegro, com atuação solo de Monique Cardoso e direção compartilhada com Murillo Ramos.

Lançado no Centro Cultural Banco do Nordeste, no Cariri, no dia 13 de agosto, o espetáculo chega ao palco do Teatro do Dragão do Mar, em Fortaleza, para sessões nos dias 30 e 31 deste mês.

Nome reconhecido na literatura contemporânea cearense, Tércia Montenegro se aventura na dramaturgia após as publicações de “Turismo para cegos” (2015), “O Vendedor de Judas” (2018), “Em plena luz” (2019) e “Um prego no espelho” (2024).

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Convidada por Monique e Murillo para desenvolver a narrativa teatral, a autora tem como base a pesquisa feita pela atriz que protagoniza a peça e conduz uma ficção a partir de uma possível descoberta dos restos mortais da beata.

“Monique, que divide a direção com Murillo, vem desenvolvendo uma pesquisa sobre violência de gênero na religiosidade, além de ter outros trabalhos dentro dessa temática. Então, dentro desse projeto, surgiu a ideia de falar sobre a beata Maria de Araújo, foi quando os dois me convidaram para escrever a dramaturgia”, recorda Tércia.

História da beata Maria de Araújo se mescla com a popularidade de Padre Cícero

Nos relatos difundidos entre os cidadãos interioranos por décadas e certificada por historiadores e pesquisadoras, Maria de Araújo dedicou sua vida à religiosidade ainda na infância, após aconselhamento de Padre Cícero – este já reconhecido enquanto líder espiritual em Juazeiro do Norte.

Entre os documentos e registros encontrados que recontam os passos da beata, Maria de Araújo teve uma juventude marcada por visões, eventos espirituais, sonhos e profecias.

Foi quando adulta que os eventos ganharam notoriedade: em 1889, a beata recebeu uma hóstia de Padre Cícero que "se transformou em sangue", como contam. A partir de então, as hóstias recebidas por Maria seguiram transfigurando-se em sangue, dando início ao Milagre da Hóstia de Juazeiro.

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O evento foi compartilhado e repercutido entre os cristãos em diversas cidades do Brasil, levando numerosos fiéis – não apenas os devotos de Padre Cícero – ao interior do Ceará. A Igreja Católica, no entanto, evitou manifestações sobre os casos envolvendo Maria de Araújo, chegando a solicitar que os milagres da beata não fossem divulgados.

“A motivação [para a criação da peça] sobre a história da beata é justamente a invisibilidade que ela recebeu ao longo do tempo. Quando a gente fala no Cariri, na religiosidade da região e, principalmente, de Juazeiro do Norte, a figura que vem à mente é a do Padre Cícero. Acaba que as pessoas em geral têm essa prevalência, só que a beata Maria de Araújo foi, também, uma figura extremamente importante nessa época, nesse contexto, mas que por razões políticas foi invisibilizada”, lista Tércia, detalhando que a dramaturgia da peça foi construída após pesquisa extensa para transmitir “os aspectos desejados para enfatizar dentro da história da beata”.

Beata Maria de Araújo teve milagres negados pela Igreja Católica

Invisibilizada e excluída pela própria religião, a beata Maria de Araújo foi marginalizada por sacerdotes que seguiam uma cartilha de remoção de santos populares – estes que tiveram suas trajetórias questionadas pelo catolicismo – da adoração dos católicos.

A tentativa de apagamento de Maria teve seu ápice em 1930, segundo historiadores, quando o túmulo da beata foi destruído, restando apenas fios de cabelo e o cordão de São Francisco.

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É a partir dessa motivação que “Cavucar” se desenvolve, recontando a trajetória, de vida e religiosidade, da beata Maria de Araújo. “Existe a urgência de falar sobre ela, não só sobre a vida, mas sobre essa história enquanto símbolo para outras mulheres que se fizeram. Então, a beata está sendo homenageada e tendo o destaque a partir do tema principal da peça”, conclui a escritora Tércia Montenegro.

O espetáculo de teatro “Cavucar” será apresentado em Fortaleza nos dias 30 e 31 de agosto, sábado e domingo, ambos às 19h30min, no Teatro do Dragão do Mar.

Peça "Cavucar"

  • Quando: sábado, 30, e domingo, 31, às 19h30min
  • Onde: Teatro do Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
  • Gratuito
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