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A homofobia nos estádios do futebol brasileiro e a dor do público LGBTQIA+
Reportagem Especial

A homofobia nos estádios do futebol brasileiro e a dor do público LGBTQIA+

Especial do O POVO+ traz à tona as consequências, dores e lutas do público LGBTQIA+ no combate à homofobia nos estádios de futebol

A homofobia nos estádios do futebol brasileiro e a dor do público LGBTQIA+

Especial do O POVO+ traz à tona as consequências, dores e lutas do público LGBTQIA+ no combate à homofobia nos estádios de futebol
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Olhares estranhos, "piadas", provocações e ofensas. A homofobia estrutural "É o preconceito contra pessoas LGBTQIA+ incrustrado no cotidiano expresso em conversas, opiniões, atitudes do dia a dia" no futebol, reflexo de uma cultura construída no esporte desde seus primórdios, em que a masculinidade exacerbada criou um ambiente hostil dentro dos estádios brasileiros, ainda causa enormes impactos no público LGBTQIA+.

A luta diária daqueles que escutam e sofrem, na maioria das vezes em em silêncio e por muito tempo, é incessante e está longe do capítulo final.

Os episódios de discriminação sexual em estádios no Brasil aumentaram nos últimos anos. De acordo com o Anuário do Observatório do Coletivo de Torcidas Canarinho LGBTQ+, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), aconteceram 74 casos de homofobia ao longo de 2022, o que representa um crescimento de 76% em relação a 2021. A pesquisa foi divulgada em 17 de maio de 2023, data em que se comemora o Dia Mundial contra a LGBTfobia.

Bandeira LGBTQIA  no escanteio da Arena do Grêmio(Foto: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA)
Foto: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA Bandeira LGBTQIA no escanteio da Arena do Grêmio

A sensação de impunidade proporcionada dentro das arenas brasileiras corroborou — e segue corroborando — com a prática livre de crimes, quase sempre sem qualquer consequência grave. No país tupiniquim, as mulheres foram proibidas de praticar o esporte por mais de 40 anos (1941-1983), durante o auge da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, o que consequentemente criou um ambiente masculinizado.

“É uma espécie de escape para esses homens, especialmente os homens, que são a maioria que frequentam o estádio, destilarem esse tipo de preconceito. Eles utilizam esse card da homofobia como uma provocação aos rivais, não entendendo que isso, na verdade, é um crime. O STF já igualou a homofobia ao crime de racismo. Sem punição, esse ambiente ainda não é totalmente organizado”, explica João Abel, jornalista e autor do livro “Bicha!: homofobia estrutural no futebol”.

Neste espectro da prática de discriminação, os cânticos homofóbicos, enraizados e normalizados nas torcidas há décadas, tornaram-se um tema de debate e discussão mais aprofundado nos tempos mais recentes, numa sinalização de que parte da sociedade caminha para a evolução. Embora as músicas pareçam inofensivas para aqueles que não entendem o verdadeiro dano, as palavras ofendem e tiram a sensação de pertencimento de quem vê sua sexualidade ser atrelada a algo pejorativo e depreciativo.

Capa do livro do jornalista João Abel (Foto: DIVULGAÇÃO )
Foto: DIVULGAÇÃO Capa do livro do jornalista João Abel

“É aquela velha história: 'É só uma piada, é só uma provocação, é só isso, só aquilo'. Ninguém pensa nas consequências disso. Como você vai vivenciar um ambiente onde a sua identidade, quem você é, é associada diretamente a algo ruim? Usado para tentar ofender o adversário? Isso indiretamente diz que não somos bem-vindos naquele ambiente. Sem falar que esse tipo de conduta enfatiza um problema social gravíssimo que temos no Brasil, casos de LGBTfobia, de violência transfóbica, morte de pessoas LGBT”, alerta Onã Rudá, fundador da Canarinhos LGBTQ+.

João Abel também entende que os cânticos homofóbicos afastam o público LGBT do estádio. O escritor, embora reconheça que algumas torcidas brasileiras já possuem uma cultura mais progressista e abominam esse tipo de música, reforça que o clima hostil na maioria das praças esportivas segue predominante no país.

“Algumas torcidas já conseguiram criar uma cultura mais progressista, como a do Vasco e do Bahia, onde esse tipo de cântico não é mais aceito. É claro que isso tem um impacto direto no público LGBT que frequenta o estádio. Se você não é bem-vindo em um local, por que vai frequentar? Existem muitos LGBTs que querem frequentar o estádio, que querem consumir o futebol de uma maneira geral, mas é um ambiente muito hostil. Especialmente para alguns LGBTs, como homens gays e pessoas trans, que, em um contexto geral, são afastadas dos estádios, muito por esse comportamento da torcida”, refleta o jornalista.

Bandeira LGBTQIA  no escanteio do gramado do Mineirão em jogo do Cruzeiro(Foto: Staff Images / Cruzeiro)
Foto: Staff Images / Cruzeiro Bandeira LGBTQIA no escanteio do gramado do Mineirão em jogo do Cruzeiro

A LGBTfobia é uma chaga social que se alastrou no futebol e que pode trazer consequências para além do esporte. Segundo um estudo de 2021, realizado pela revista científica americana Pediatrics, o público LGBTQIA+ está mais suscetível ao suicídio e 62,5% já pensaram em tirar a própria vida. A chance aumenta em 20% quando convivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero, o que reforça a necessidade de um combate intenso à discriminação.

“É óbvio que isso tem um impacto social muito grande. Aliás, a existência deles (homofóbicos) denuncia esse impacto social, esse repúdio a essas vidas e pessoas. A gente vê muito isso, de que 'foi uma piada'. Isso vem daquilo que dizem: 'O mundo está muito chato'. O mundo está muito chato para quem violenta, mas pra quem é violentado, não. No fundo, são questões que temos que encarar de frente, com consciência e seriedade”, enfatiza Onã.

 

 

Por trás do olhar de quem já foi discriminada

Apaixonada pelo Fortaleza, Talita Maciel frequenta jogos do Leão desde 2005. O amor pelo clube se manteve inabalável até mesmo nos momentos em que sofreu lesbofobia no estádio, situação que começou a acontecer após ela se assumir bissexual e passar a se relacionar com outras mulheres. Os vários olhares estranhos já eram um incômodo, mas a externalização do preconceito foi um baque por um longo tempo.

“Em meados de 2019, eu estava com uma ex-namorada e a gente costumava ficar no setor da Bossa Nova, na Arena Castelão. A primeira situação que eu senti foram olhares estranhos quando a gente se abraçava ou se beijava quando comemorava um gol. Até que se efetivou em palavras. Uma vez estávamos nesse setor e um senhor falou: 'Isso não é mais um setor para família'. Me senti ofendida, obviamente, porque foi direcionada pra gente. Foi um impacto na hora, mas não consegui reagir. Isso ficou reverberando por um tempo. Não procurei ajuda. Mas alguma coisa aqui dentro me fez perceber que eu deveria reagir”, relembra.

Servidora da Secretaria da Cultura do Estado, Talita voltou a sofrer um ataque homofóbico neste ano, no confronto entre Fortaleza e Coritiba, pela Série A, no PV. Na ocasião, ao tentar ajudar uma funcionária do bar que sofria assédio de um torcedor, foi chamada de “sapatão”.

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“Eu percebi um cara assediando uma das vendedoras do bar. Ele estava coagindo ela com coisas evasivas, tentando a qualquer custo chamar a atenção dela. Ela estava muito incomodada. Em certo momento, ele perguntou se o namorado dela iria se incomodar se ele a beijasse e eu intervi. Interrompi a fala dele e disse que ela estava trabalhando, que a respeitasse. Ele estava muito alterado, bêbado. Pagou a conta e saiu esbravejando, gritando ‘sapatão’ e falando que eu estava me metendo onde não devia. Foi homofobia, mas eu achei que se fizesse algo naquele momento, uma resposta, talvez eu gerasse mais atitudes contra, pois as pessoas podiam não entender o contexto”, explica.

Os casos, que não se resumem somente aos dois citados, marcaram Talita, mas não a afastaram do ambiente em que queria estar. Mesmo passando por isso, ela não ficou com receio de voltar, pelo contrário. Uma faísca, acesa pela frustração e revolta, impulsionou a torcedora a frequentar cada vez mais aquele lugar onde não era bem-vinda.

“Era um lugar que eu queria estar, algo que queria exercer. Torcer pelo Fortaleza sempre me trouxe muita alegria. Isso me impulsionou a ocupar cada vez mais esse lugar”, destaca.

Um movimento nos estádios ganha força contra a homofobia no futebol(Foto: Cláudia Ayuso Ramírez)
Foto: Cláudia Ayuso Ramírez Um movimento nos estádios ganha força contra a homofobia no futebol

Com essa impulsão de querer transformar o estádio de futebol em um lugar para todos, Talita cicatrizou muito dos seus traumas na final da Copa do Nordeste de 2022, quando retornou ao setor da Bossa Nova portando uma bandeira LGBT. O simbolismo do momento foi um ponto de virada.

“De quatro anos para cá, onde eu me deparei de forma mais próxima com a lesbofobia e dessa homofobia institucional, eu comecei a me munir muito mais de um repertório, inclusive crítico e político, para poder me defender e defender os meus. Posso dizer com tranquilidade que na final da Copa do Nordeste de 2022 eu entrei na arquibancada abraçada com a bandeira LGBT e permaneci assim, inclusive, no mesmo setor que eu havia sofrido a lesbofobia. Poder exercer esse gesto político foi uma forma de ultrapassar esse trauma. A partir dali, eu me senti muito mais empoderada”, enfatiza, com orgulho.

Colunista André Bloc

Conteúdos sobre diversidade no esporte podem ser encontrados na coluna do jornalista André Bloc. Confira aqui.

A torcedora, apesar das experiências negativas, vê o cenário atual com perspectivas de melhora, tendo em vista a maior rede de acolhimento disponível, assim como as atitudes dos clubes, entidades e órgãos públicos no combate à homofobia.

“Eu sei que hoje tem uma rede que acolhe, como casas de acolhimento, delegacias especializadas em crimes contra a homofobia. O Ministério Público, o Estatuto do Torcedor que prevê punição, a própria Conmebol, a Fifa e a CBF já fizeram ações contra isso. São ações pontuais e mínimas, mas já vemos avanço. O próprio Fortaleza sinaliza positivamente ao público LGBT quando comemora o Dia do Orgulho. Tudo isso faz parte também dessa rede de acolhimento para que a gente se sinta cada vez mais pertencente a esse lugar”, ressalta Talita Maciel.

 

 

O posicionamento de Ceará e Fortaleza contra a homofobia

Ceará e Fortaleza se viram, neste ano, pressionados a tentar solucionar um problema que foi normalizado por muitas décadas entre as organizadas do Estado. Os cânticos homofóbicos e o repertório musical repleto de preconceito que ambas as torcidas possuem ficaram em evidência nacional, trazendo uma imagem negativa e com possibilidades de consequências esportivas graves aos clubes.

A principal torcida organizada do Ceará foi a primeira a entrar nos holofotes pelos cânticos discriminatórios. Os alvinegros resistiram às tentativas iniciais do Vovô em conter tais atitudes, como os avisos nos telões da Arena Castelão e comunicados proferidos no alto-falante do estádio. Ambas as mensagens foram ignoradas e vaiadas por um grupo de torcedores durante a partida entre o Vovô e o Vila Nova, pela 18ª rodada da Série B.

Dias antes do caso, Fred Bandeira, diretor jurídico do Vovô, havia comentado sobre o tema em entrevista ao programa Esportes do POVO, da Rádio O POVO CBN. “A gente tem feito campanhas na Arena Castelão contra racismo e gritos homofóbicos. Nós temos um grito histórico, que todo jogo, principalmente nos clássicos, a torcida do Ceará faz esse grito, que tem um certo tom de homofobia. Isso tem que acabar. Temos que ir para o estádio para torcer e ver nosso time sair vitorioso do gramado”, pontuou o dirigente à época.

Participantes do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, na sede da CBF(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)
Foto: Lucas Figueiredo/CBF Participantes do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, na sede da CBF

Entre reuniões informais e busca por diálogo com membros das torcidas organizadas, o Ceará resolveu dar um passo além. O clube, tão conservador em gestões anteriores, nas quais sequer falava sobre o assunto, adotou uma postura diferente e no dia 27 de julho de 2023 promoveu o 1º Congresso sobre Racismo, Homofobia e Violência nos Estádios. O intuito era ampliar a conscientização sobre os problemas envolvendo os cânticos com teor preconceituoso.

O evento contou com a participação dos líderes das organizadas do Ceará e também de pessoas ligadas à órgãos públicos, como Edvando Elias de França, coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudetor-MPCE). Regis Alves, representante da Anatorg (Associação Nacional das Torcidas Organizadas), também esteve presente, assim como membros das Polícias Civil e Militar.

Importante citar que em 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Vovô se posicionou, algo que não acontecia há anos. Nas redes sociais, o clube escreveu que "o Ceará tem orgulho de ser o #TimedoPovo. Estamos juntos na luta pelo respeito, igualdade e contra todos os tipos de preconceitos".

João Paulo Silva, presidente do Ceará(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS João Paulo Silva, presidente do Ceará

A atitude vai ao encontro das ideias de João Paulo Silva, presidente do Alvinegro desde março de 2023. O mandatário, em entrevista às Páginas Azuis do O POVO, publicada no dia 10 de junho, assegurou que o Vovô sempre irá se manifestar em temas sociais enquanto ele estiver no cargo.

"É um tema importante. Acho que a gente não pode fazer distinção das pessoas por conta de escolhas. O que me distingue de uma pessoa para outra é o caráter, não as escolhas. Enquanto eu estiver dentro do Ceará, eu vou estar me posicionando em apoio", garantiu o mandatário.

Mesmo assim, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) não só oficializou uma denúncia contra o Alvinegro pelos cânticos homofóbicos no jogo contra o Vila Nova, como multou o clube em R$ 40 mil.

Em fevereiro deste ano, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) passou a estabelecer medidas rígidas e uma série de punições cabíveis para casos de LGBTfobia e racismo. No Regulamento Geral de Competições, a entidade prevê quatro tipos de punições para casos de homofobia: advertência; multa até R$ 500 mil, com o valor a ser revertido em prol de causas sociais; impedimento de registro e transferências de atletas; perda de pontos.

O Corinthians foi o primeiro clube a sofrer uma punição mais severa por conta de cânticos homofóbicos desde a implementação do novo Regulamento Geral das Competições da CBF. As músicas discriminatórias proferidas pela torcida do Timão aconteceram no clássico contra o São Paulo. O árbitro Bruno Arleu de Araújo chegou a paralisar a partida por quatro minutos por conta dos cantos ofensivos vindos da arquibancada.

O STJD, baseado no artigo 243 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que se refere a “praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”, puniu o Corinthians com uma partida como mandante com portões fechados.

 

 

Fortaleza se manifestou de forma incisiva

No confronto entre Fortaleza e RB Bragantino no Castelão, no dia 29 de julho de 2023, pela Série A, O POVO registrou cânticos homofóbicos proferidos pela principal organizada do Leão direcionados à torcida organizada do Ceará. A prática era costumeira em jogos de ambos os clubes, mesmo quando não estavam se enfrentando.

Durante os 45 minutos iniciais do jogo, foram ouvidos gritos preconceituosos. "O Ceará é gay", cantavam os torcedores. Isso aconteceu pelo menos três vezes. Diferentemente de outras oportunidades, a Arena Castelão não soltou um comunicado no telão pedindo para evitar cânticos desse teor.

A cena se repetiu no mês seguinte, em agosto, na partida entre Fortaleza e Coritiba, desta vez no Presidente Vargas. As falas preconceituosas aconteceram, pelo menos, cinco vezes ao longo do jogo e foram puxadas pela torcida organizada.

Diante da repercussão, Marcelo Paz, presidente do Tricolor, posicionou-se com firmeza combatendo a homofobia. Em vídeo, o mandatário afirmou que o Fortaleza “não pode deixar nunca como válida” a ideia de que “sempre foi assim”. O dirigente traçou um paralelo entre a evolução na estrutura do Leão e o comportamento da sociedade. “Sempre foi assim é uma crença limitante”, disse.

 

“Nós repudiamos, veementemente, os cânticos homofóbicos feitos por parte de nossa torcida. As relações no Fortaleza sempre foram pautadas por respeito. E a credibilidade que nós conquistamos ajudou a ter esse respeito e a fazer com que o público cresça cada vez mais”, salientou. “Nem adianta argumentar que sempre foi assim. Porque se sempre foi assim, sempre foi errado. Então é hora de mudar”, finalizou o presidente.

Apesar do recado, a torcida organizada — que posteriormente teve a relação institucional com o clube rompida em razão de episódios de violência — não mudou a postura. Na partida contra o Corinthians, pela semifinal da Sul-Americana, voltou a cantar músicas utilizando “Ceará gay” na letra. O momento foi presenciado pela reportagem do O POVO na Arena Castelão.

Diferentemente do Ceará, o Fortaleza não recebeu nenhum tipo de punição do STJD.

 

 

Coletivos LGBTQIA+: o grito de quem já foi silenciado por muito tempo

A exclusão e hostilidade com o público LGBTQIA+ nos estádios silenciaram, por muito tempo, estes torcedores. O medo de se expressar, de estender uma faixa ou bandeira, já não é tão intimidador assim. Pelo Brasil, surgiram diversos grupos denominados de coletivos, que têm como intuito reunir pessoas de diferentes orientações sexuais e de gêneros que torcem por um mesmo clube.

A primeira torcida LGBTQIA+ do Brasil foi a Coligay, do Grêmio, fundada em 1977 e que se manteve ativa até 1983. A onda de coletivos retornou com força a partir de 2013, com a criação do Galo Queer, do Atlético-MG. Desde então, outros foram formados.

“É importante que essas torcidas existam para exatamente cobrar posicionamentos e mudanças, assim como agregar para o público LGBT a ter uma base segura, de socialização mesmo, no universo do futebol para que essas pessoas não desistam de consumir o futebol, acompanhar o esporte por conta da sua sexualidade, coisa que ninguém deveria passar”, pondera o jornalista João Abel.

No Ceará não foi diferente. A Vozão Pride, do Ceará, e a Resistência Feminista Tricolor, do Fortaleza, foram pioneiras no Estado. Em um ato corajoso, quebraram paradigmas, superaram o preconceito e se estabeleceram como grupos unidos, que, além de apoiar o clube amado, também acolhem pessoas.

 

 

Vozão Pride: mais cores além do preto-e-branco

Membros do Vozão Pride, coletivo LGBTQIA  do Ceará Sporting Club(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Membros do Vozão Pride, coletivo LGBTQIA do Ceará Sporting Club

A Vozão Pride surgiu a partir da ideia de cinco amigos em criar uma página nas redes sociais que falasse sobre o Ceará Sporting Club com bom humor e piadas, com o intuito de ser um espaço saudável para torcedores LGBTQIA+. Além disso, a iniciativa também tinha como objetivo abordar temas da comunidade, como dificuldades de ir ao estádio e episódios de preconceito.

O rumo mudou quando o grupo percebeu que havia uma grande demanda em relação ao público LGBT da torcida. Eles, então, decidiram criar um movimento a fim de virar uma torcida para lutar por respeito e contra a LGBTfobia na arquibancada.

"Todo processo que vá contra ao que a maioria da sociedade acha 'certo' é difícil, no estádio não seria diferente. Sabíamos que a criação da Vozão Pride iria descontentar muitas pessoas, inclusive muitos torcedores do próprio clube, mas tentamos usar isso como mais uma fonte de energia para levarmos o Movimento em frente”, conta Arthur Antunes, membro do coletivo alvinegro.

O coletivo conta com 70 pessoas ativas e integradas ao grupo de WhatsApp, entre torcedores LGBTQIA+ do Ceará e apoiadores da Vozão Pride. O ambiente virtual tem como objetivo, além de troca de mensagens, a organização nos jogos do Alvinegro de Porangabuçu.

Para Arthur, o Congresso sobre Racismo, Homofobia e Violência nos Estádios promovido pelo Ceará na sede do clube foi um passo importante. A atitude do Vovô, além de acenar positivamente para a causa, também indicou uma nova postura em relação ao tema.

"Sabemos que a caminhada contra a homofobia é longa e árdua, principalmente num ambiente primordialmente machista, mas acreditamos que com esses pequenos passos vamos enfrentando a questão e conseguindo cumprir com nosso papel. A Vozão Pride espera que o 1º Congresso sobre Racismo, Homofobia e Violência nos Estádios, promovido pelo Ceará, seja apenas o início de uma nova era no clube com foco na sua torcida por completo, sem discriminação. Esperar que o Ceará apoie a causa, como muitos outros clubes brasileiros têm feito com seus movimentos e torcidas LGBTs. É o mínimo que almejamos", pede o torcedor.

 

 

Resistência Feminista Tricolor: o empoderamento das mulheres

A história de Talita Maciel, vítima de lesbofobia no estádio de futebol, é um dos vários casos entre mulheres que já vivenciaram o mesmo. A dor compartilhada pelo preconceito resultou em um grupo forte de torcedoras do Fortaleza, que se uniram, se acolheram e passaram a lutar juntas por seus direitos.

“Somos um grupo de acolhimento, a gente se acolhe. Tem mulheres de diversas áreas profissionais, professoras, psicólogas. Temos mulheres muito competentes e que sabem dos seus direitos. A gente não costuma ir sozinha para nenhum setor. Quando levamos outras mulheres, ficamos atentas a essas questões, não só a homofobia, mas também de sexismo, machismo e racismo”, explica a Resistência Feminista Tricolor, em um posicionamento coletivo.

Bandeira arco-íris no jogo do Internacional contra o América-MG, em 2021, quando clubes de futebol se manifestam no Dia do Orgulho LGBTQIA   (Foto: SPORT CLUB INTERNACIONAL/DIVULGAÇÃO/JC)
Foto: SPORT CLUB INTERNACIONAL/DIVULGAÇÃO/JC Bandeira arco-íris no jogo do Internacional contra o América-MG, em 2021, quando clubes de futebol se manifestam no Dia do Orgulho LGBTQIA

Em paralelo, o coletivo, que atualmente conta com 49 pessoas no grupo de WhatsApp, busca atrair mais torcedoras para o estádio.

“Nós temos mulheres de várias raças, orientações sexuais e de gêneros. Nós nos propomos a fazer ações ligadas ao gênero, à orientação sexual, feminismo, combate ao racismo e LGBTfobia. Também atuamos em outras causas sociais, como o enfrentamento da violência contra mulheres. Nós temos esse viés político, porque futebol, para nós, também é política. Nós temos algumas missões, que é levar mais mulheres para o estádio, para vivenciar a experiência de torcer pelo Fortaleza. A gente dá ingresso, carona, faz vaquinha”, relata.

 

 

Canarinhos LGBTQ+: referência nacional no combate à homofobia no futebol

Torcedor do Bahia, Onã Rudá já foi chamado de “viado” no estádio e presenciou situações as quais categorizou como bizarras. Fundador da LGBTricolor, o nordestino se uniu a outras duas pessoas, De Luca, do Palmeiras Livre, e Yuri, da Maria de Minas, com o objetivo de ampliar o debate sobre homofobia no futebol a nível nacional.

“O Coletivo Canarinhos é algo que se dá muito orgânica. Eu fundei a LGBTricolor, já existia o De Luca junto do pessoal do Palmeiras Livre, existia o Yuri, que recentemente tinha sofrido um episódio de homofobia no Mineirão, e tinha fundado a Maria de Minas. A primeira pessoa que fez contato comigo foi o De Luca e depois o Yuri. Criei um grupo para conversarmos e escolhi o nome Canarinho (arco-íris e depois LGBT)”, lembra o torcedor baiano.

Onã Rudá, do LGBTricolor e Canarinhos LGBTQ, posa ao lado do técnico Tite no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, na sede da CBF(Foto: André Borges/CBF)
Foto: André Borges/CBF Onã Rudá, do LGBTricolor e Canarinhos LGBTQ, posa ao lado do técnico Tite no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, na sede da CBF

Outras torcidas LGBTQIA+ foram surgindo pelo Brasil e se aproximando da Canarinhos, que servia, inicialmente, como um ponto de encontro e de debates. O cenário externo, de ameaça e pressão constante, motivou o grupo a tomar outras medidas. “Eu acho que o fato de estarmos aqui, existir, não supre nossa demanda de poder vivenciar esse ambiente. A gente precisava de mais mecanismos que nos protegessem”, reflete Onã.

Com o passar do tempo, Rudá entendeu que o coletivo precisava também trabalhar outras questões. Era necessário buscar ampla informação para entender a complexidade do ambiente que cerca o futebol para, assim, atuar em outras frentes. Uma luta localizada — limitando-se somente ao próprio Estado ou clube — não produziria o efeito que a Canarinhos almejava: ter paz para vivenciar o ambiente do futebol.

 

 

“O nosso sonho era poder torcer”

A Canarinhos, então, passou a ser uma importante fonte de denúncia de casos de homofobia no futebol nacional. Ganhou notoriedade e virou referência. Entre os mecanismos, há vários meios para a coleta de dados e muito material é enviado por meio do site, redes sociais e grupos do WhatsApp.

“Nós temos muitos mecanismos para coletar dados, muita coisa chega pra gente. Tem um fenômeno interessante, que é assim: uma torcida de um clube que já foi punido e vê um episódio que a gente não viu, aí manda pra gente. Temos isonomia no processo. Todos os clubes, independente se acontecer episódio, mesmo não sendo registrado em súmula, durante o jogo, a gente denuncia. Fazemos nossa parte no intuito de dar notoriedade desses casos que acontecem no futebol, sistematizar um número para que as pessoas tomem consciência do que está acontecendo no esporte”, aponta Rudá.

Dentre os denunciados neste ano estão as duas principais torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza: Cearamor e TUF. Ambas protagonizaram cânticos homofóbicos em 2023 e os casos não passaram despercebidos. Embora tenha tido resistência no início por parte dos dois movimentos, percebe-se, nos últimos meses, uma mudança de postura e maior precaução com as músicas cantadas.

Relações ficaram tensas entre a diretoria do Fortaleza e as torcidas organizadas do clube, após uma série de  brigas entre as torcidas(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Relações ficaram tensas entre a diretoria do Fortaleza e as torcidas organizadas do clube, após uma série de brigas entre as torcidas

Para Onã, entretanto, não foi simples. O baiano lembrou que nos dois casos de denúncia, tanto envolvendo alvinegros como tricolores, aconteceu uma reação “pesadíssima”. “Eu tive um excelente diálogo com o representante da Cearamor. A gente não faz o discurso de criminalização de nenhuma organizada, nosso debate é outro. Queremos conversar e aprofundar o diálogo com essas entidades. Com a TUF não consegui conversar. Estamos sempre abertos ao diálogo”, reforça.

Por lidar com um tema que ainda tem grande bloqueio por parte do público, Onã convive diariamente com ameaças de morte. Entre os áudios que recebe, há também fotos de armas de fogo. Isso não o intimida, mas ele tem dimensão que as ofensas podem, sim, atingir outras pessoas LGBTQIA+. Pensando nisso, a Canarinhos tem como projeto criar uma rede ampla de acolhimento, mas a falta de parceiros ainda é um empecilho.

Torcida do Ceará. Denúncias e conversas com tentativas de conscientização(Foto: Felipe Santos/Ceará SC)
Foto: Felipe Santos/Ceará SC Torcida do Ceará. Denúncias e conversas com tentativas de conscientização

A ideia é fazer um trabalho de saúde mental e ter centros especializados no tema. Em razão da Canarinhos ser um trabalho voluntário, existe a dificuldade de garantir um acolhimento da forma que almejam. Ainda assim, atuam dentro da possibilidade, conversando e encaminhando para centros de referência.

Um outro importante desafio é mudar a cultura do futebol, que tem a homofobia ainda enraizada. Neste aspecto, a participação dos clubes é fundamental para o desenvolvimento, tendo em vista o poder de influência que possuem sobre os torcedores.

“Cada clube é um mundo e tem sua forma de trabalhar. Eu acho que, em geral, os clubes podem e devem avançar nesse trabalho nas mais variadas frentes. As torcidas, o elenco, a equipe técnica, diretorias, Conselho Deliberativo, os funcionários atrelado ao estádio... É um universo muito grande, os clubes podem ir mais longe. Quando os clubes forem mais longe, com o envolvimento de mais agentes, incluindo as organizadas, vamos ter uma reversão social muito grande, e não é só no futebol, mas na vida”, enfatiza Onã Rudá.

 

 

Como mudar a cultura?

Por mais que não seja uma questão simples, o líder do Canarinhos entende que existem muitos caminhos para melhorar o cenário atual. Dentre eles está o entendimento dos agentes que conduzem as instituições e de quem dirige o esporte em compreender o potencial que é tratar desta temática, como ela amplia a base de torcedores, traz um público engajado e produz aumento nas possibilidades de vendas.

Onã Rudá, criador de conteúdo, palestrante e fundador da torcida LGBTricolor e do Coletivo Canarinhos LGBTQ (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Onã Rudá, criador de conteúdo, palestrante e fundador da torcida LGBTricolor e do Coletivo Canarinhos LGBTQ

É um vetor maior, que, para além do esporte, traz um ganho social da reversão do preconceito não só no ambiente do futebol, mas na sociedade. “Para o universo de clubes que temos, dá para avançar muito. E mesmo os que hoje já fazem trabalhos, também podem desenvolver novos mecanismos. Tem muita coisa que dá para fazer”, alerta Onã.

A percepção do jornalista João Abel é semelhante. Para o escritor, a cultura tem, aos poucos, mudado. Na imprensa, por exemplo, é possível encontrar materiais variados, enquanto os clubes de futebol, de uma maneira geral, estão se posicionando — muito embora ainda superficialmente, com posts em redes sociais em datas específicas.

“Acho que essa mudança estruturada dentro do clubes, e com os clubes também servindo de suporte para que os jogadores comecem a falar mais sobre esse assunto, isso pode mudar o cenário. A torcida precisa estar embasada na forma como o clube se posiciona e na forma que os jogadores se posicionam também. Então esse tipo de mudança estrutural dentro dos clubes pode ser benéfico para mudar essa cultura”, avalia.

Para mudar determinados pensamentos sobre um tema, é preciso falar dele com intensidade. É o que pensa Mitchelle Meira, responsável pela Secretaria da Diversidade do Governo do Ceará.

“Só vamos conseguir romper com esse preconceito, com essa cultura do machismo e da LGBTfobia, falando sobre isso. E falando sobre isso, levamos a consciência e fortalece quem se indigna com isso. Quando a gente não fala, diz que é cultural, que as pessoas vão fazer aquilo e pronto, não vamos enfrentar realmente esse preconceito. Temos que enfrentá-lo falando diretamente, construindo ações diretas no estádio e fazendo capacitações com as pessoas do esporte”, ressalta a secretária.

 

 

A parceria entre Ministério Público e Governo do Estado

O Ministério Público do Ceará desempenha um importante papel de conscientização no combate à LGBTfobia nos estádios e atuou com firmeza no momento de maior resistência das torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza. Neste processo, além da contribuição dos clubes, o órgão também contou com a participação das Secretarias de Esportes e da Diversidade do Governo do Estado.

Em agosto, quando o tema vinha sendo debatido com intensidade, tendo em vista a corriqueira atitude das torcidas em promoverem cânticos preconceituosos, o MP-CE realizou reunião para discutir a implementação de políticas públicas relacionadas à população LGBTQIA+.

O encontro contou com representantes do Ceará e do Fortaleza e teve como tema central a necessidade de criação de um Grupo Temático Interinstitucional de Combate à LGBTQI+fobia nos estádios, assim como a realização de capacitações sobre o assunto entre os clubes e torcidas organizadas. O objetivo, durante a reunião, foi bem claro: ter um ambiente mais inclusivo e menos hostil nas arenas.

Edvando Elias de França, promotor de Justiça e coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor) do Ministério Público do Estado do Ceará (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Edvando Elias de França, promotor de Justiça e coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor) do Ministério Público do Estado do Ceará

O momento serviu também para as partes discutirem ações efetivas para abolir os cânticos homofóbicos nas praças esportivas. Na conversa, chegaram a dizer que os avisos de combate à LGBTfobia reproduzidos nos telões do Castelão não seriam suficientes, tendo em vista o pouco impacto causado nos torcedores.

Principal representante do MP-CE na intermediação da temática com os clubes, Edvando Elias de França, Promotor de Justiça e Coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor), ressaltou ao O POVO que a forma mais rígida que as entidades passaram a adotar em relação aos cânticos homofóbicos, o que inclui punições esportivas aos times, foi um forte aliado para inibir tais atitudes.

Edvando, inclusive, organizou reuniões com os líderes das Secretarias da Diversidade, Mitchelle Meira, e de Esportes, Rogério Pinheiro, em que algumas medidas foram pensadas e colocadas em prática. Dentre elas, a criação de uma campanha chamada “Ceará da diversidade contra a LGBTfobia”, que se propõe a divulgar os direitos da população LGBTQIA+ e também enfatizar que LGBTfobia é crime.

Mitchelle Meira revelou ao O POVO que a Arena Castelão terá algumas adaptações internas, como implementação de placas reforçando a ilegalidade da prática de LGBTfobia e demais campanhas relacionadas ao tema — as mudanças devem ser realizadas em novembro.

“Especificamente no esporte, tivemos uma reunião com o secretário de Esportes para que pudéssemos construir uma ação entre as duas secretarias, para que os espaços esportivos também não sejam discriminatórios. Nesse sentido, compactuamos com a Secretaria de Esportes que iríamos fazer toda a identificação de placas dentro do estádio, isso seria já uma ação direta, onde todas as entradas teriam uma placa avisando que ali não pode haver discriminação”, conta a secretária da Diversidade.

Outra ideia alinhada é de implementar as ações com maior visibilidade no Castelão para que ela esteja presente nas atividades cotidianas do estádio, criando assim maior familiaridade para o público e falando de forma positiva sobre a importância de romper o preconceito.

“Queremos fazer essa capacitação sobre a questão LGBT com os clubes, staffs e para quem coordena e trabalha com futebol”, destaca Mitchelle.

 

 

 

Mitchelle entende a dor

Mitchelle Meira, titular da Secretaria da Diversidade do Governo do Ceará(Foto: Iana Soares em 10/3/2016)
Foto: Iana Soares em 10/3/2016 Mitchelle Meira, titular da Secretaria da Diversidade do Governo do Ceará

Mulher lésbica e frequentadora de estádio de futebol, Mitchelle entende e tem propriedade para falar das dores e medos causados pela homofobia estrutural nas praças esportivas.

“É importante ressaltar que todos os cânticos homofóbicos, independente para quem seja direcionado a discriminação, todos os LGBTs sentem a dor e o preconceito quando estão no estádio. A gente começa a sentir medo, medo de acontecer alguma coisa naquele espaço, que deveria ser um espaço para todos, de esporte e interação. Você vai ali para se divertir e não para escutar cânticos homofóbicos. Tem uma dor na pessoa LGBT que está no estádio”, compartilhou.

Além das medidas iniciais citadas anteriormente, Mitchelle também almeja colocar em prática os Jogos da Diversidade, uma competição saudável e que promova o fim da discriminação e sirva para integrar o máximo de pessoas possível.

“Temos em mente, junto com a secretaria de esportes, de fazer os Jogos da Diversidade, para que possamos fazer essa interação com a diversidade, com a competitividade saudável, no sentido em que ninguém será discriminado. Quando a gente trabalha o esporte, trabalhamos também questões físicas e mentais. O desafio é continuar unindo parceiros. Importantíssimo o Ministério Público ter feito essa reunião para dizer que a LGBTfobia é crime, principalmente nos espaços em que pessoas estão sendo vítimas de preconceito por conta de cânticos homofóbicos”, disse.

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