Quanto vale uma conquista? Os mais virtuosos podem falar em “fazer história” e tecer longas narrativas sobre como “mais importante do que a chegada, é a jornada”. Já os mais práticos, falarão das notas, dos resultados visíveis e das estatísticas.
Para o Fluminense, além do feito histórico e do carinho da torcida, ser o único time brasileiro na semifinal do Mundial de Clubes da Fifa valeu quase R$ 330 milhões de reais.
O novo formato idealizado pela Fifa adotou um modelo de distribuição de prêmios para a competição, que chegou na cifra de US$ 1 bilhão em prêmios para os 32 clubes participantes.
Com tal nível de investimento, usar o ditado popular “todo dinheiro é bem-vindo” seria subestimar a diferença que esse dinheiro pode fazer nas contas de um time.
Em um levantamento especial da Central de Dados O POVO+, entenda como a arrecadação dos clubes brasileiros ganhou um impulso significativo com os prêmios da competição internacional.
“Amor não enche barriga”, conta o ditado popular. Mas quando o amor por um esporte se torna símbolo de uma nação inteira, talvez a história seja diferente.
Afinal de contas: como um time de futebol arrecada dinheiro no Brasil?
Analisando os balanços financeiros dos clubes em 2024, um relatório detalhado da Sports Value revelou o que mantêm essa máquina girando.
E é uma indústria robusta: sem considerar as transferências de jogadores, as receitas operacionais dos 20 principais clubes foram de US$ 1,4 bilhão em 2024.
As principais fontes de receita identificadas pela pesquisa foram: direitos de transmissão em TV aberta, receitas comerciais e marketing, receitas de jogos e, em seguida, a arrecadação com os programas de sócio-torcedor.
Origem da receita dos times de futebol no Brasil
Os direitos de TV são uma fatia significativa do bolo e somaram US$ 571 milhões em 2024.
Por sua vez, receitas provenientes de marketing e acordos comerciais consolidaram-se como a terceira fonte de renda mais importante, totalizando US$ 329 milhões em 2024 e representando 18% da receita total.
Em quarto lugar, ficou o “matchday”, que inclui a venda de ingressos e outras operações de estádio, gerando US$ 337 milhões em 2024.
Apesar de não ter chegado à final do campeonato mundial, o Fluminense bateu o recorde de maior valor recebido em prêmios esportivos em uma única temporada.
A cifra superou a arrecadação de 2023, quando o Flu conquistou a Conmebol Libertadores, ficou em sétimo no Brasileirão, caiu nas oitavas da Copa do Brasil e foi vice-campeão do Mundial. Com essa trajetória, o Tricolor das Laranjeiras somou R$ 194 milhões.
Em 2025, ainda que o time fizesse uma campanha extraordinária, consagrando-se campeão no Brasileirão, na Comenonbol Sudamericana e na Copa do Brasil, sua arrecadação total máxima seria de R$ 161,9 milhões.
Quanto cada time poderia arrecadar no Brasil? E quanto arrecadou no Mundial de Clubes?
Já para os times que não avançaram tanto na competição, a premiação arrecadada no torneio da Fifa pode não ter sido superior, mas certamente foi um bom incentivo.
O Palmeiras, por exemplo, que disputa o Brasileirão, a Libertadores e a Copa do Brasil, teria como teto de arrecadação R$ 266 milhões. Só com a participação no Mundial de Clubes, o Verdão já garantiu 80% desse montante.
Botafogo e Flamengo, que também disputaram o mundial da Fifa, arrecadaram, respectivamente, R$ 144,7 milhões e R$ 150,2 milhões.
O que cada time precisaria ganhar para chegar no prêmio da Fifa?
No cenário em que eles também levariam os prêmios máximos nas competições em 2025 (Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, para ambos), a participação no Mundial já garantiu 55% do valor esperado para o caixa do Flamengo e 53% para o Botafogo.
Posicionando os times brasileiros no cenário internacional, Fluminense e Palmeiras entraram no TOP 10 dos clubes que mais arrecadaram em dinheiro com o Mundial da Fifa.
Times que mais arrecadaram em prêmios no Mundial da Fifa
No topo da lista estão Real Madrid, com arrecadação de R$ 462,1 milhões, PSG, que faturou R$ 419 milhões e o inglês Chelsea, que somou R$ 406 milhões em prêmios.
Em seguida aparece o Fluminense com R$ 373 milhões, o alemão Bayern com R$ 319,8 e logo após o Palmeiras, que levou para casa R$ 315,9 milhões.
Após a eliminação do alviverde, a presidente do clube, Leila Pereira, publicou uma nota comemorando os resultados e agradecendo à torcida.
“Temos um profundo orgulho de estarmos sempre disputando e conquistando títulos, de sermos um clube respeitado por pagar em dia seus compromissos, de sermos um clube superavitário, profissional e transparente, de revelarmos jogadores fantásticos, e sermos um clube com credibilidade”, declarou a dirigente.
Apesar da arrecadação milionária, o Fluminense não leva pra casa o valor cheio. Isso porque há os impostos pagos nos Estados Unidos, onde aconteceu a competição, e no Brasil, conforme a legislação fiscal vigente.
Em uma entrevista a TV Globo, o presidente da agremiação, Mário Bittencourt, declarou estar “batalhando para reduzir os impostos”, e disse estar ciente que o clube ainda precisaria honrar outros compromissos antes de chegar ao lucro líquido.
“Ainda vamos ficar com uma quantia significativa. É uma premiação muito boa e digna da competição. A Fifa não faria nada diferente”, disse.
O colunista de esportes do O POVO+ Afonso Ribeiro analisa que a arrecadação representa um upgrade financeiro importante para os quatro clubes brasileiros.
"Palmeiras e Flamengo já têm orçamentos bilionários e o Botafogo conta com aporte da SAF, mas o Fluminense tem cifras mais modestas em relação ao trio e acabou tendo o maior faturamento, já que foi mais longe", aponta.
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"Para o Flu, o ganho representa uma oportunidade de fazer novos investimentos na equipe e também quitar dívidas, já que não se trata de uma receita recorrente", acrescenta.
"No caso do Palmeiras, aumenta a disparidade em arrecadação na comparação com a maior parte das equipes brasileiras e deve ser aproveitada em contratações", finaliza o colunista.