Por Airton de Farias
Entre o final dos anos 1950 e o começo dos 70, os vassalos do velho esporte bretão, espalhados por todo o mundo, prestavam votos de fidelidade e admiração a um monarca do Brasil. Pelé era um estado de alma e sua condição de rei fora firmada pela bola. Os súditos, amontoados nas arquibancadas, exprimiam-se para vê-lo em ação. Em coro, sabiam das perguntas e das respostas.
Quem é o mais habilidoso jogador do mundo? Pelé. Quem é capaz de criar espaços, desafiando a física? Pelé. Quem é capaz de mudar um jogo em um lance? Pelé. Quem é o amante preferido da bola? Pelé, respondiam com a certeza de que falavam verdades eternas.
Pelé dominava a pelota e driblava os adversários com a naturalidade com que, nós, reles mortais, respiramos. Como diria Nélson Rodrigues, o rei andava em campo como uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Era incomparável.
"...onde houver uma bola, uma trave, um campo de futebol, sua essência e a nobreza de sua genialidade estarão sempre presentes"
Um gênio-rei fruto também de vários outros fatores. Afora sua habilidade assombrosa, a paixão e a dedicação que sempre teve pelo futebol, foi, desde jovem, moldado pelo pai, Dondinho, que o encaminhou pelo “bom caminho da bola”.
Seus feitos foram difundidos, não se pode esquecer, pelo avanço dos meios de comunicação que o mundo vivia, à época. Também evitou maiores polêmicas dentro do mundo do futebol. Sempre se mostrou afável e humilde, um exemplo de virtude, um brasileiro vencedor. Pelé virou sinônimo de futebol e de um Brasil que dava certo.
Como qualquer monarca, não escapou a polêmicas, fosse no campo familiar, fosse em relação a questões políticas, a exemplo de seus contatos com a ditadura civil-militar, ou fatores étnicos, como a falta de uma maior denúncia do racismo do País. Não há como relevar, em país marcado por século de escravidão e genocídio dos povos nativos, que foram um negro (Pelé) e um indígena (Garrincha, esse bem mais rebelde) os principais responsáveis pela conquista do mundo, em forma de taça.
Pelé, enfim, descansou. Longa vida ao rei, pois onde houver uma bola, uma trave, um campo de futebol, sua essência e a nobreza de sua genialidade estarão sempre presentes.
"Airton de Farias é historiador"
Por André Bloc
Se a grama que Edson Arantes do Nascimento desbravou em 1958, aos 17 anos, fosse a de Wimbledon, o Brasil hoje seria o país do tênis.
Pelé apresentou o Brasil pro mundo. Pelé deu vazão à carência nacional por ídolos imbatíveis que pudessem apagar os sofrimentos cotidianos. Pelé trouxe o tri, fez mil gols. Pelé era sobre-humano em tudo que Edson era humano.
Não dá para circunscrever Pelé ao futebol. Ou ao esporte. "Alienado politicamente", ele mostrou a força dos negros, dos latinos. Quebrou a roda da história eurocêntrica e, com a bola nos pés, impulsionou-se como o maior artista no principal palco do mundo.
"Nunca saberemos o que seria do futebol sem Pelé. Nunca saberemos o que seria do Brasil sem Pelé — não há Brasil sem Pelé"
A questão nunca foi se Pelé é ou deixa de ser o maior jogador de futebol da história. Ou o maior esportista da história. Ele é, com todos os contrastes, a síntese do brasileiro. Gênio, contraditório, preto, belo. Um homem de família que rejeitou uma filha. Um ser régio que borrou a linha entre esporte e arte.
O Brasil, recentemente, passou a rejeitar Pelé pelos pecados do humano Edson. Mas ele é Rei, não Deus. A rejeição a seu ícone máximo é sintoma de uma país que trata a própria identidade como doença autoimune.
Nunca saberemos o que seria do futebol sem Pelé. Nunca saberemos o que seria do Brasil sem Pelé — não há Brasil sem Pelé.
Sorte nossa que a arte é imortal.
"André Bloc é jornalista do O POVO"
Por Ciro Câmara
Pelé, para mim, sempre foi um personagem inatingível. Não o Pelezinho, da Turma da Mônica, baseado nele. Algo mais mítico, heroico. Sabe aquela síndrome de "Meia-Noite em Paris"? Algo nessa linha. Só que sem exagero algum. Pois Pelé era o máximo que se podia esperar em relação a futebol. E quanto a isso nem o Messi ou Maradona duvidam. Nem eu, nos meus cueiros.
Pelé já era meu ídolo quando eu nem sabia o que isso significava. Pelé era o ídolo que eu não vi jogar. Dia desses minha avó Concita me entregou uns desenhos da época de criança. Pedagoga, diretora de escolinha, tomou por hábito guardar os rabiscos dos alunos por décadas. Aos cinco pra seis anos eu desenhei: "o Pelé, o campo, a bola, e o chão". De lá pra cá eu, literalmente, já sobrevivi graças ao futebol. Mas nenhuma produção significa tanto pra mim quanto "meu Pelé".
Durante o primeiro contato com o mundo da bola foi ele que me guiou. Pelé era lúdico. Lembro de um "Sonho Maluco", quadro do Programa do Gugu, em que um garoto pediu para cobrar um pênalti com o Pelé. Ah, como eu queria ser ele... O garoto, no caso. Pelé já estava no Olimpo. Repito, sem exagero.
Pouco tempo depois ele completou 50 anos e a Seleção Brasileira (que só é o que é por causa dele) realizou um amistoso contra a Seleção do Mundo. Eu divagava. "Só o Pelé para enfrentar todo o mundo". Cada toque na bola era um deleite. Enfim, eu vi o Pelé jogar. E isso pra mim foi tudo.
Com mais de 40 anos de idade, Pelé ainda desperta em mim aquele menino encantado pela bola. Hoje, mais do que nunca. Quando o mundo se curva para reverenciar o Rei, eu também agradeço. Por me fazer criança todo dia…
"Ciro Câmara é jornalista, escritor e pesquisador de futebol"
Por Felipe Araújo
“Rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. O verso mais famoso de Gertrude Stein, presente no poema “Sacred Emily” (1913), reivindica à palavra “rosa” o enunciado de uma essência, de algo que não pode ser adjetivado; de coisa visceralmente substantiva e, ao mesmo tempo, dessemelhante de qualquer outra.
Recorrendo à poesia de Stein, podemos dizer: “Pelé é um Pelé é um Pelé é um Pelé”. O jogador é uma definição, uma essência, uma distinção. Pelé é ele mesmo, suficiente. E paira inalcançável e extemporâneo às discussões trôpegas (ou vira-latas) sobre quem, eventualmente, teria lhe superado como atleta. Há outros gênios da bola. Mas não há ninguém maior que Pelé; porque não há outro Pelé.
"nessa hora de despedida, prefiro separar autor e obra, prefiro celebrar Pelé, um substantivo que seguirá sendo esse veneno remédio arrebatador da essência brasileira. E do próprio futebol"
O Brasil reinventou o futebol e o futebol, como localiza tão bem o escritor José Miguel Wisnick em seu ótimo ensaio “Veneno remédio”, acabou por nos reinventar enquanto cultura, enquanto identidade. Nesse sentido, termos um herói da grandeza de Pelé fala muito sobre o que somos e sobre o que podemos ser.
Se, na música, o Brasil foi inventado por Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga; se, nas artes plásticas, foi sonhado por Tarsila do Amaral e Portinari; se, na literatura, foi criado por José de Alencar e Machado de Assis; no futebol, foram Garrincha e, sobretudo, Pelé que nos definiram enquanto país.
Cumpre, claro, considerar sempre quem foi o Edson Arantes do Nascimento, esse sim, figura controversa e personagem dos mais adjetiváveis. E que tanto fez para arranhar a imagem do jogador. Mas nessa hora de despedida, prefiro separar autor e obra, prefiro celebrar Pelé, um substantivo que seguirá sendo esse veneno remédio arrebatador da essência brasileira. E do próprio futebol.
"Felipe Araújo é jornalista e advogado"
Por Iara Costa
Desde que comecei a acompanhar e assistir futebol, ouço e leio sobre a tal história que Pelé parou uma guerra. Há várias versões desse enredo que, embora seja bem chamativo, nunca me atraiu. Sendo bem honesta, pouco me importa se o Rei do Futebol travou algum conflito geopolítico ou algo do tipo. Minha história favorita sobre Pelé nunca foi nenhuma que chama manchete, mas as que conheço e que não conheço. Meu conto favorito sobre o Pelé é o que ouço sobre como ele mudou vidas.
O futebol traz consigo uma magia que só quem acompanha sabe: ele é capaz de arruinar nosso dia e ano, mas também, por muitas vezes, é o único artifício e entretenimento que detém o poder de melhorar completamente nossa vida. Quando ouço que Pelé marcou 1.282 gols e ganhou três Copas do Mundo, penso na quantidade de vida que ele mudou com seu dom de futebol.
"apesar de seus defeitos e erros — como qualquer outro ser humano —, eu celebro Pelé. Não por mim, pois nunca o vi jogar, mas por todas as vezes que ele colocou um pouco de felicidade no 'sou brasileiro'"
Quantas pessoas não foram assisti-lo depois de um longo e triste dia e não melhoraram de humor por causa de seus gols e seu futebol? Quantos santistas não se reconheceram com o Alvinegro Praiano por causa do atleta? E quantas vezes o Brasil não chacoalhou ao celebrar suas Copas vencidas? São inúmeras, mais do que ele conseguiu produzir em gols, imagino eu.
Por isso, apesar de seus defeitos e erros — como qualquer outro ser humano —, eu celebro Pelé. Não por mim, pois nunca o vi jogar, mas por todas as vezes que ele colocou um pouco de felicidade no "sou brasileiro". Antes de Pelé, já havia um Brasil feliz. Mas depois que ele chegou e jogou, definitivamente aprendeu a sentir um outro tipo de felicidade no país. Para mim, esse é o seu maior legado, o que será eterno enquanto todas pessoas que o viram jogar estiverem vivas e enquanto sua memória perdurar.
"Iara Costa é repórter e colunista de Esportes do O POVO"
Por João Pedro Maia
Alguns podem se perguntar qual seria a trajetória de Pelé sem o futebol. Já eu prefiro me perguntar qual seria a trajetória do futebol sem Pelé. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, foi um jogador de futebol revolucionário para o esporte. Aos 11 anos, Pelé já jogava futebol. E um jogador da época, Waldemar de Brito, o chamou para participar de um time que estava criando, o Atlético Bauru. Depois de alguns anos jogando lá, o enorme talento de Pelé foi notado por Waldemar de Brito que o levou para jogar no Santos.
Em 1956, Pelé chegava ao Santos, como um jogador com um futuro brilhante. A sua primeira partida foi Santos x Corinthians de Santo André, entrou no segundo tempo. E, em sua estreia, já fez gol. A partida acabou em 7 x 1 para o Santos. Com com 16 anos, Pelé já era conhecido nacionalmente. Desde então, sua carreira só foi melhorando. Em 1957, já era titular do Santos e, em 1958, titular da seleção brasileira, Com apenas 17 anos, foi o principal jogador da nossa seleção, sendo campeão e marcando gol na final. Nessa copa, Pelé se tornou o jogador mais novo a marcar gol em uma final de Copa do Mundo.
Em 1962, Pelé chegava ao torneio com altas expectativas, pois já havia sido campeão e destaque quatro anos antes, porém, ainda na fase de grupos, Pelé acaba se lesionando e perde a copa inteira, mas o Brasil ainda consegue ser campeão. Em 1966, o Brasil foi eliminado na fase de grupos, e Pelé acabou marcando apenas um gol.
Em 1970, a história foi outra. O Brasil contava com uma das melhores gerações da história: Pelé, Rivellino, Carlos Alberto, Tostão, Gérson, entre outros craques. Nessa copa, Pelé marcou quatro gols, um desses na Final contra a Itália. O número de gols marcados por Pelé na seleção é incerto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) diz que ele marcou 95 gols, porém, outras fontes falam que vários desses gols foram em jogos não oficiais e que, na verdade, ele fez 77 gols pela seleção.
"fico impressionado com a forma que ele jogava, bem a frente do seu tempo. Lances que hoje são tidos como de gênio, Pelé já fazia décadas atrás"
Pelé jogou a maior parte da sua carreira no Santos, onde, até hoje, é visto como o maior ídolo da história do clube. Fez 1.116 jogos e marcou 1.091 gols pelo time paulista. Jogou por 18 anos no Santos, tendo conquistado diversos títulos: nove campeonatos paulistas (cinco seguidos), quatro torneios Rio-São Paulo, cinco campeonatos brasileiros, dias Libertadores e dois mundiais de clube.
Infelizmente, não vi Pelé jogar, porém, já vi diversos lances dele nas redes sociais. E fico impressionado com a forma que ele jogava, bem a frente do seu tempo. Lances que hoje são tidos como “de gênio”, Pelé já fazia décadas atrás. Pelé não só era um grande artilheiro, como também era um excelente driblador. Por ter feito diversos gols, sua habilidade de driblar fica “ofuscada”. Muitas pessoas acham que ele era um atacante que ficava só dentro da área, porém, muitas vezes, Pelé saía para buscar jogo. Por isso, muitas pessoas defendem que, na verdade, Pelé era meia.
Pelé é sem dúvidas o maior jogador desse esporte. Foi extremamente revolucionário. Para as pessoas que o viram jogar, eu digo que isso é um grande privilégio. Para mim, que só vi seus lances pela Internet, ele é o maior símbolo do futebol. Sem ele, esse esporte não seria o que representa hoje para o Mundo. Pelé, o rei do futebol, é um dos maiores atletas da história.
"João Pedro Maia, 13 anos, é estudante, torcedor do Ceará e fanático por futebol"
Por Miguel Macedo
Naquela tarde ensolarada do dia 3 de dezembro de 1972, eu era um dos 35.752 torcedores que disputavam espaço nas arquibancadas do Estádio Presidente Vargas. Em campo, o Ceará receberia o Santos Futebol Clube, pelo Campeonato Brasileiro.
Foi a primeira e única vez que vi Pelé em campo. E logo na milésima partida oficial do Rei do Futebol, com a camisa 10 do Santos. Realizava eu ali, no velho e querido PV, com 15 anos de idade, o sonho de ver e aplaudir o melhor jogador de todos os tempos em ação.
Um jogo de tamanha importância merecia gol de Pelé. Como se estivesse na programação, ele deixou sua marca, abrindo o placar aos 11 minutos do primeiro tempo. Não havia como não vibrar pelo gol, mesmo sendo contra o meu próprio time. Veio o segundo tempo, o Ceará empatou, com Samuel, aos 17 minutos, e virou com Da Costa, aos 30. Era a primeira vitória de um time cearense sobre o Santos do Rei, que atuou os 90 minutos.
Entre 1959 e 1974, Pelé atuou nove vezes contra times cearenses: seis jogos no PV, um no Castelão, um no Romeirão, em Juazeiro do Norte, e um no Pacaembu, em São Paulo. O Rei do Futebol fez seis gols, mas nunca venceu o Ceará, contabilizando duas derrotas e um empate.
E, hoje, 50 anos depois, fica a reverência e meu respeito. Porque, em matéria de futebol, Pelé sempre foi, e será, em grau superlativo, o gênio, o Deus do futebol. Como escreveu o mestre Armando Nogueira no livro O Voo das Gazelas e republicado na revista Placar: “Pelé já era o melhor muito antes de ser; e continua sendo, mesmo depois de ter sido”.
"Miguel Macedo é jornalista, professor e admirador de Pelé e do futebol"
Por Patrícia Karam
Começo este texto informando que nunca vi Pelé jogar. Quando eu nasci, ele já havia vencido sua última Copa do Mundo. Mas Pelé foi o jogador certo no momento certo, assim como seu contemporâneo Muhammad Ali: o atleta que transcende o próprio esporte e, assim, desafia a passagem do tempo.
Ambos brilharam nos anos 1960 e souberam se aproveitar das mudanças culturais, sociais, políticas e midiáticas daquele momento. Assim, mesmo sem ter visto Pelé nos campos de futebol ou Ali nos ringues, eu nasci e cresci sob a sombra dessas figuras maiores que o esporte.
Sim, não vi Pelé jogar. Mas ele sempre foi onipresente, pois aqueles que tiveram o privilégio de testemunhar o que ele fez dentro das quatro linhas do Maracanã, da Vila Belmiro ou do Estádio Azteca deixaram seus testemunhos na música, literatura e cinema.
E a lista de craques que homenagearam o Rei do Futebol não deixa nada a dever à seleção brasileira de 1970: Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Caetano Veloso, Wilson Batista, Jorge Ben Jor, Jackson do Pandeiro, para citar alguns.
Como não dá para incluir aqui todas as obras ou canções sobre Pelé, deixo com vocês a obra-prima de Chico Buarque, um fanático por futebol que compôs várias músicas sobre sua paixão. Mas “O Futebol” é insuperável. Ouso dizer que não é apenas a música mais bonita de Chico sobre o tema. É a melhor composição de toda a MPB.
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da ideia quando ginga
Para Mané
Para Didi, para Mané
Mané para Didi, para Mané
Para Didi, para Pagão
Para Pelé e Canhoteiro
(O Futebol – Chico Buarque)
De bônus, também vai o trecho da ficção “O Drible”, no qual o escritor Sérgio Rodrigues recria o “não-gol” mais famoso da história do futebol, na jogada de Pelé contra o Uruguai na Copa de 1970 (se alguém quiser ver, vai o também do link do YouTube).
“Na sua recusa em tocar na bola feito um Bartleby súbito, diz, Pelé refinou o futebol à sua essência mais rarefeita. O futebol virou ideia pura e de repente homens, bola, ninguém mais se comportava como seria de esperar que se comportasse neste mundo vão.” (“O Drible - Sérgio Rodrigues - Companhia das Letras)
"Patrícia Karam é jornalista e editora da Portal de Notícias da Prefeitura de Fortaleza"
Por Sérgio Redes
Ia escrever sobre o Pelé. Tinha começado a crônica ontem à tarde. Parei para beber água quando a TV estampou: "Urgente! Aos 82 anos de idade, morreu hoje de falência múltipla dos órgãos o cidadão Edson Arantes do Nascimento, o Pelé”. Meu corpo balançou.
Dias atrás tinha visto e ouvido em um desses canais de esporte um comentarista dizendo que Pelé jamais morrerá. Desdobrou-se em elogios e finalizou dizendo que morre o Edson Arantes do Nascimento e Pelé estará sempre vivo na memória de quem o viu jogar.
Entendo o que o comentarista disse e me identifico com ele porque Pelé foi meu ídolo maior. E olha que o mundo esportivo me mostrou e meus olhos viram claramente Muhamad Ali dentro de um ringue e Michael Jordan com uma bola de basquete nas mãos.
Todos os três marcaram minha geração. Dois nortes-americanos e um brasileiro. Em comum, a cor negra da pele carregando essa herança africana das danças, dos movimentos e das magias, que, associadas ao treinamento físico, geram uma estética linda de se ver.
"Pelé foi meu ídolo maior. E olha que o mundo esportivo me mostrou e meus olhos viram claramente Muhamad Ali dentro de um ringue e Michael Jordan com uma bola de basquete nas mãos"
A diferença é que Pelé era nosso. Foi ele que viajou, como se fosse um embaixador brasileiro, jogando para as plateias do mundo dizendo "love, love, love". Todos queriam ver o Rei do Futebol. Na África houve uma trégua entre a guerrilha e o governo para que pudessem vê-lo jogar.
Disputando uma partida amistosa na Colômbia, contra a seleção olímpica local, o árbitro o expulsou do campo. Os torcedores reagiram e começaram a gritar: "Pelé! Pelé! Pelé!". Não teve outra saída. Os promotores do jogo trocaram o árbitro e, sob os aplausos, Pelé voltou ao campo.
A fama de Pelé era tanta que tinha um time argentino, San Lorenzo D`Almagro, que se proclamava “Los Hermanos de Pelé”. O time se vestia de branco como o Santos, jogava bonito, distribuía brindes e seus torcedores cantavam “Y ya los ve/son los hermanos de Pelé”.
Certo dia, o San Lorenzo convidou o Santos para um amistoso. Um jogo entre irmãos. Teve banda, troca de camisas e o jogo começou. O Santos não teve a menor gentileza. Tome um, dois, três, e o Santos ganhou de 7 a 1. No dia seguinte, a manchete de um jornal argentino: “Pelé é filho único”.
"Sérgio Redes é colunista do O POVO"
Especial em despedida a Pelé, que mostra a carreira e o legado do Rei do Futebol