Jornalista, repórter especial do O POVO, tem mais de dez anos de experiência em jornalismo econômico
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A pouco mais de um mês da data limite de marcação das audiências públicas sobre a exploração de urânio e fosfato no Ceará, a articulação antinuclear no Estado prepara "uma leitura sobre o estudo de impacto ambiental" entregue pelo Consórcio Santa Quitéria ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. Na prática, segundo explicam as professoras universitárias Raquel Rigotto e Talita Furtado, serão elaborados pareceres técnicos sobre o impacto desta exploração por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, Universidade Estadual do Ceará, Universidade Estadual Vale do Acaraú e Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
De posse de informações preliminares e estudiosas do projeto há mais de dez anos, as duas docentes afirmam que o custo-benefício da mineração de urânio e fosfato não é vantajoso para o Ceará em vários aspectos, inclusive o mais destacado: o econômico.
A geração de mais de 8 mil postos de trabalho diretos e indiretos durante as obras e cerca de 2.800 na fase de operação e o investimento de R$ 2,3 bilhões são sobrepostos, de acordo com a percepção da articulação antinuclear, por uma vida útil de exploração estimada em 20 anos e cerca de 90 milhões toneladas de rejeitos - quando somados os beneficiamentos de urânio e fosfato - e os riscos de contaminação de solo, água, animais e pessoas por esse material.
Idealizado há mais de 20 anos e reformatado em 2020, o projeto da Mina de Itataia, em Santa Quitéria, tem a credibilidade comprometida pelas experiências de exploração de urânio em outros locais do País. Caetite é alvo de estudos da UFBA por contaminação de solo e água na Bahia enquanto Caldas, em Minas Gerais, teve processo de descontaminação feito apenas dez anos após o fim da operação.
"Isso reduz nossa confiança de que as medidas colocadas no EIA sejam colocadas em prática", declara Raquel Rigotto, professora da Faculdade de Medicina da UFC e coordenadora do Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.
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Outra observação, feita por Talita Furtado, advogada e professora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, é sobre o ineditismo da extração associada de fosfato e urânio. A metodologia é alvo de pesquisas para assegurar que os fertilizantes e alimentação animal não sejam contaminados por material radioativo. O alerta rompe as barreiras das comunidades e chega em um dos setores produtivos mais interessados na atividade da mina: o agronegócio.
Afinal, a produção anual estimada gira em torno de 1,05 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico (usado na nutrição animal) para atendimento da agropecuária no Norte e Nordeste, além de 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio - que será convertido em hexafluoreto de urânio (UF6) no exterior.
A investigação para a formatação dos pareceres técnicos conta ainda com movimentos sociais e ambientais e lideranças das comunidades, segundo acrescentam as docentes. Uma versão consolidada é preparada para antes de 9 de maio, quando as audiências públicas devem ter a agenda definida entre Ibama e o Consórcio. O objetivo da articulação antinuclear é munir os entes responsáveis pela aprovação do projeto de mais informações técnicas ao longo do processo de licenciamento.
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