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Escuto falar da "Ceará Filmes" há quase 10 anos. Cadê?
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Arthur Gadelha é crítico de cinema do O POVO, ex-presidente da Aceccine e membro da Abraccine. Acompanha as estreias nacionais e os passos do cinema cearense, cobrindo eventos internacionais como Cannes, Gramado, Globo de Ouro e Oscar. Nessa coluna, propõe uma escrita mais imersiva com análises e reflexões pessoais, trazendo também bastidores de filmes, festivais e premiações, além de refletir sobre o papel da crítica de arte no mundo

Arthur Gadelha arte e cultura

Escuto falar da "Ceará Filmes" há quase 10 anos. Cadê?

Movimento pela criação de uma empresa pública de cinema no Ceará chegou em estado de urgência. O que falta?
Guto Parente, Ivo Lopes Araújo e Leon Reis no palco do 35º Cine Ceará - 26.09.25 (Foto: Divulgação/Guilherme Silva)
Foto: Divulgação/Guilherme Silva Guto Parente, Ivo Lopes Araújo e Leon Reis no palco do 35º Cine Ceará - 26.09.25

Quando cheguei em Recife para o 29º Cine PE, na segunda semana de junho, a coincidência me colocou no mesmo carro que Rosemberg Cariry, grande cineasta brasileiro que até hoje tem sido uma das vozes cearenses que mais ecoam pelo país.

Enquanto conversávamos sobre o estado do cinema cearense, chegamos à pauta do momento: Ceará Filmes, uma aguardada empresa pública de cinema que poderia operar diante da vasta produção audiovisual no estado como atuam as bem-sucedidas Rio Filmes e SP Cine no eixo do sudeste.

Muito além dessa percepção contemporânea, Rosemberg me contou sobre quão antiga era a natureza dessa demanda, lembrando da articulação nacional com diversas instituições passando por uma conexão na região nordeste que chegou a ter base até em Pernambuco.

Eu já tinha ouvido várias histórias de como essa mesma geração insistiu para a formação de leis de incentivo à cultura no Ceará no largo século XX, e lembro especialmente das histórias de Francis Vale, um grande amigo que fez parte diretamente desse debate jurídico.

A primeira vez que escutei falar da Ceará Filmes foi no dia do seu “glorioso” lançamento em cerimônia no Cinema do Dragão, em 2017, com grandes presenças institucionais: Camilo Santana, então governador, Fabiano Piúba, então secretário de cultura, e Manoel Rangel, então presidente da Ancine. No dia seguinte, escrevi uma matéria com o título: “Ceará Filmes: um projeto bom de promessa”. Ao fim, o parágrafo:

“Depois de tudo que a conturbação de 2015 causou em todas as esferas brasileiras (não só economicamente, como também tragicamente cultural), fica difícil acreditar em qualquer ideia que preze por um longo prazo. Mas o Ceará Filmes tem uma cara de imediatismo, de execução para ontem. Pelo menos foi o que a energia do momento deixou dizer. Vejamos se é verdade”.

Até hoje, quase 10 anos depois, estamos esperando para ver se é verdade. Mas os esforços estão aí. Em dezembro de 2021, Rosemberg também estava no palco do Cineteatro São Luiz, em noite de encerramento do 31º Cine Ceará, para acompanhar Camilo assinar “mensagem de lei” que instituia o chamado “Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual” e criava o Sistema Estadual do Cinema e Audiovisual e o Fundo Setorial do Audiovisual do Ceará.

Cine Ceará - 2021 - Assinatura Ceará Filmes(Foto: Divulgação/Luiz Alves)
Foto: Divulgação/Luiz Alves Cine Ceará - 2021 - Assinatura Ceará Filmes

O Governo do Ceará, há mais de 10 anos guiado pelo PT, agora está no jogo, sempre reiterando nos discursos públicos. Nos últimos meses, temos visto uma ação cada vez mais intensa da Associação de Produtoras Independente do Ceará (Ceavi) na criação de um sentimento coletivo de que estamos em estado de urgência.

No Cine Ceará deste ano, o assunto voltou a subir ao palco do São Luiz. Ivo Lopes, fotógrafo do filme de encerramento “Morte e Vida Madalena”, ergueu uma grande claquete feita para a campanha de promoção do projeto, como vemos na foto que estampa essa coluna.

Hoje acordei me perguntando: escuto falar da Ceará Filmes há quase 10 anos e a ideia dela é ainda mais antiga do que mim mesmo. Cadê?

Procurei Roger Pires, cofundador da Nigéria Filmes e atual presidente da Ceavi, para entender o que estava faltando.

Celebrando o engajamento do poder público, ele foi direto: “tecnicamente, me parece que falta o convencimento de outras secretarias centrais do governo, como Planejamento, Fazenda, Procuradoria Geral, de que essa empresa é sustentável. Politicamente, eu imagino que estejam apenas esperando o melhor momento”.

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No começo de setembro, a Assembleia Legislativa sediou uma audiência pública para debater a implantação da empresa. Com presença expressiva de representantes do setor e da esfera pública, incluindo Luisa Cela e Helena Barbosa, secretarias estadual e municipal, e Paulo Alcoforado, diretor da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o clima foi amistoso.

Guilherme Sampaio (PT), líder do Governo Elmano, acertou que em operação conjunta com a Secult enviaria ainda em outubro o texto para a Assembleia Legislativa apreciar e colocar em votação a criação da empresa.

“A gente espera que isso seja cumprido”, pontua Roger, reiterando a importância que esse projeto não seja colocado de lado: “O audiovisual cearense assumiu uma força, uma envergadura econômica que necessita de mais estrutura e base para que continue forte, ou ele se desmonta.

Se todo mundo está envolvido, da sociedade civil e empresariado ao poder público, parece então que essa decisão está para se desenrolar antes que seja engolida pelo duro ano eleitoral que se aproxima. Vejamos se é verdade.

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