Prefeito, em área de conservação, turismo deve ser secundário
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Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
Prefeito, em área de conservação, turismo deve ser secundário
Prefeito Evandro Leitão (PT) reforçou que a Sabiaguaba será tratada com "carinho" pela gestão por ser um "ponto turístico" referencial da Cidade; região abriga uma unidade de conservação de proteção integral
Foto: FCO FONTENELE
Durante a tarde de visita ao Parque das Dunas da Sabiaguaba, nossa equipe avistou pelo menos três carros trafegando ilegalmente na região, incluindo um buggy (da imagem)
Deveria ser de conhecimento geral de que a prioridade de uma unidade de conservação é a segurança e o equilíbrio ambiental. As atividades humanas nessas regiões são secundárias e dependem, antes de tudo, do bem-estar da fauna e flora. Pelo visto, nem todos (a maioria, devo dizer) não entendem assim.
Em entrevista exclusiva ao O POVO+, o prefeito de Fortaleza Evandro Leitão (PT) destacou que a Sabiaguaba receberá atenção carinhosa da gestão. Por que é um ecossistema vulnerável e abriga espécies em perigo de extinção? Por que presta serviços ecossistêmicos essenciais para a Capital? Por que, na lei, é uma unidade de proteção integral? Não. Porque é um “ponto turístico” referência de Fortaleza.
Entendo o posicionamento do prefeito. A Sabiaguaba recebe diariamente centenas de pessoas ao entardecer, subindo a duna para admirar o pôr-do-sol, ou para aproveitar a culinária do Complexo Gastronômico.
O local também atrai banhistas que adoram piscinas naturais, e motoristas radicais que testam a tração 4x4 de buggys e caminhonetes nas dunas.
Foto: FCO FONTENELE
No primeiro dia de visita à Sabiaguaba, vimos pelo menos três carros trafegando ilegalmente na Sabiaguaba, entre eles um buggy. No segundo dia, da imagem, flagramos ao menos cinco buggys no topo da Duna da Baleia durante o entardecer. No terceiro dia de visita, vimos mais dois carros andando ilegalmente na região
No entanto, é justamente por ser um movimentado ponto turístico da Cidade que a Sabiaguaba está sendo destruída. Tanto pela visitação desordenada e massiva, esmagando a Duna do Pôr-do-Sol, quanto pela expansão e especulação imobiliária.
Reduzi-la ao turismo é ignorar, antes de tudo, que a região abriga o Parque Municipal das Dunas da Sabiaguaba — uma unidade de conservação de proteção integral. Isso implica ampla limitação de usos, nos quais qualquer ação com impacto ambiental direto é proibida. O turismo, quando mal feito e descontrolado, pode entrar nessa lógica.
É por isso que carros são proibidos de trafegar no Parque. Aos passarem, eles esmagam ninhos de pássaros e seres pequenos, como lagartos e sapos. A visita desordenada nas piscinas naturais é geralmente acompanhada de caixas de som e lixo, perturbando a fauna silvestre e poluindo um espaço de preservação.
Nessa brincadeira de tratar unidade de conservação unicamente como ponto turístico, nós terminamos de destruir o que deveria ser protegido. Junto à ausência de gestor e de sede, está a completa incapacidade de fiscalização da Sabiaguaba.
Diariamente, é fácil flagrar carros trafegando na unidade de conservação. Em três dias visitando as dunas, nossa equipe contou pelo menos dez veículos na região; no entanto, entre 2019 e 2024, a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) só fez 13 operações de fiscalização e realizou seis autuações com apreensão de veículos. Os dados são da própria agência, ao especial Dunas da Sabiaguaba do OP+.
Foto: FCO FONTENELE
A longo prazo, a preservação da paisagem costeira, incluindo as dunas móveis, contribui para amortecer as consequências previstas pelo aquecimento global, atuando de forma preventiva para minimizar os impactos
Enquanto o secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Fortaleza, João Vincente, ainda está "estruturando" a pasta e "se apropriando" do cenário na Sabiaguaba — como destacou o prefeito Evandro na mesma entrevista —, a Sabiaguaba segue em perigo.
É urgente a nomeação de um gestor, a definição de uma sede, a atualização do novo Plano de Manejo e a implementação correta e íntegra do documento.
Não porque a Sabiaguaba é um ponto turístico da Cidade, mas porque é um ecossistema com direitos resguardados por lei, sem o qual Fortaleza viraria uma Capital cada vez mais quente, salobra e vulnerável.
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