Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Dias desses, aquele meu amigo “machista normal” me contou mais uma dele. Recentemente, inauguraram um restaurante francês na Varjota, e a esposa dele queria conhecer. “Nem pensar”, foi sua primeira reação.
“Comida francesa é cheia de frescura e só tem molho e uns raminhos de salsa para enfeitar. Além de você ter que empenhar até a coroa do último rei decapitado por lá”. Mas, ele conta, “conversa vai, conversa vem, ela e os meninos me convenceram. Fui, mas com uma condição: se eu não gostar, não pago e vocês que se virem”.
Trato feito, lá foram eles: o machista normal, a esposa, o filho Marcos e a namorada. A filha tinha outro compromisso e deu o checho.
Segundo ele, o restaurante fez tudo para parecer um típico restaurante francês, com minúsculas mesinhas do lado de fora e um ambiente interno charmoso, com um toque de sofisticação.
— Eles capricharam, viu? Têm umas janelas grandes com arcos e paredes decoradas com quadros antigos ou fotos em preto e branco. Reconheci até alguns cantos aqui de Fortaleza mesmo. As mesas são amplas e algumas têm até sofás. E sofá que você não afunda, sabe? — contou animado.
Mas ele confessou estar tenso e apreensivo.
— Minha questão era pura lógica: se o restaurante é francês, certamente os garçons são bestas e com um cheirinho de alho azedo. Aí já é demais. Não vou sair da minha casa para ser maltratado por garçom fedorento nenhum — anunciou.
— Já estava pronto para dar um taboeuf — como dizem os franceses — em qualquer um que me destratasse, mas o máximo de frescura que percebi foi quando o garçom me ofereceu a “carte de vã”. O resto foi normal. Dei umas cafungadas no ar — disfarçando, é lógico — e o cheiro era de alfazema. Até comentei com o que me serviu que eles nem pareciam franceses. E não são. São todos cearenses mesmo e nos trataram como se fossemos clientes antigos. Se duvidar, o chef é de Iguatu — arriscou.
E a comida?
— Isso era outra questão crucial para mim. Como eu disse, não ia sair de casa pra comer um prato com umas coisinhas de nada, cheio de molho e pagar os olhos da cara. Mas, aí, também me surpreendi. A comida é francesa mesmo, mas daquelas simples e em boa quantidade. Nada de fiapos desconstruídos, sementes glaceadas ou redução de chuchu ao molho de sei-lá-o-quê — suspirou aliviado.
— Pedi um “bôfe burguinhon”, que é uma carne cozida no vinho tinto, mas vi mesas pedindo umas coisas bonitas e mais diferentes. Na próxima vez vou pedir uma dessas só pra ver como é — garantiu.
— Para finalizar, pedi um “creme brulê” para dividir e o Marcos e a namorada pediram umas madeleines, que são aqueles bolinhos que ficaram famosos por conta daquele inimigo do Senna — arriscou, confundindo Alain com Marcel e Prost com Proust.
— E o preço?
— A conta vem numa bandejinha de prata, com um cartão postal enfeitando. Eu já esperava uma adicion que faria até Maria Antonieta empenhar as perucas, mas, levando tudo em consideração, até que o preço é justo. Só que teve uma coisa que não gostei.
— E o que foi? Pediram para você comprar um Clio, Peugeot ou um Citroën?
— É que nessa hora, já na saída, o Marcos fez questão de chamar o “métre” e dizer, bem na minha frente, que tudo estava ótimo e que “Meu pai achou todos vocês uns fofos cheirosos”. Aí é francês demais pra mim.
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