Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Os mais de 300 mil "desaparecidos da pandemia" no Brasil marcarão Bolsonaro tal qual os desaparecidos políticos marcaram os presidentes da ditadura militar
Bolsonaro reinventou para ele a figura do "desaparecido". Tal qual torturadores da ditadura militar (1964-1985), provavelmente, responderá até depois de sua morte por mais de 300 mil brasileiros sumidos e por outros que ainda serão tungados, repentino, pela tragédia da Covid-19.
Será responsabilizado, mas não será julgado nem condenado por tanta cova aberta e pelo dolo de ter matado parte de um País. Arrisca até ser reeleito em meio a tanta antiutopia.
Se hoje já o incomoda o adjetivo chiclete de "genocida", terá de fazer terapia para aprender a conviver com uma palavra que não sairá mais de sua biografia.
Irá ser atrelado, no restante de sua vida e em memórias póstumas, ao desaparecimento da existência alheia como vem se dando na catástrofe sanitária. E, ainda, pela perturbação mental coletiva exacerbada pela leva de sumiços em família.
É injusto responsabilizá-lo pela pandemia no Brasil, desequilíbrio mundial rebentado na China e que se alastrou pela Casa Comum.
Porém é inegável todos os movimentos do tenente reformado do Exército na contramão da ciência, das medidas de enfrentamento, na falta de antecipação da compra de insumos, de oxigênio e de vacinas.
E só se consegue entender gente que ainda permanece na relação abusiva com macho autoritário, por enquanto presidente, porque a acomodação de tragédias históricas em nosso corpo, parece, ser um traço sacro e perpétuo. Desde as invasões bárbaras europeias por aqui, demos bastas acanhados aos traumas.
"Nenhum torturador foi submetido ao processo legal, ao contraditório nem foi sentenciado ou inocentado pelo que produziu de dores, de infelicidades, de estupros, de mortes e desaparecimentos políticos. Isso também vem de Getúlio, da Coroa..."
Em 21 anos, os presidentes da ditadura militar/civil (1964-1985) mataram ou desapareceram com 434 filhas, pais, irmãos, mães, noras, tios, avós, sogras, sobrinhas, genros, primos, vizinhos, amigos e conhecidas...
Mais de quatro centenas de opositores políticos foram extintos (e sobreviventes sequelados) e, ainda assim, concordamos até hoje com uma anistia geral, irrestrita e que perdoou criminosos.
Há um ano, a pandemia no governo Bolsonaro desfalca famílias e ameaça chegar a mais de meio milhão de pessoas retiradas até o fim de 2021. É sem precedente.
Na Colônia desapareceram com pretos e prestas da África, estupraram suas filhas, venderam carne humana negra. E ainda reclamamos de políticas afirmativas aqui, em Portugal, na Holanda, na França e na Inglaterra. Os escrotos que nos invadiram.
E o que dizer sobre a ordem pombalina no Brasil, outrora e ainda doravante, que decretou indígenas sem direito à vida, ao nome de nação e à terra invadida? Sumiu muita gente, bicho e rio, muito pé de pau...
Bolsonaro nunca respeitou os desaparecidos políticos nem a dor pela ausência deles nas casas onde até hoje fazem falta.
Como ter empatia por dizimados da Covid-19 e pelas famílias desse povo? Mortos disgramados! Culpados pela quebradeira dos lucros e que daqui a pouco terão de pedir desculpa porque morreram e inflacionaram o mercado de oxigênio.
Quem concorre para ferir com a morte (cida) troncos familiares (geno) poderá, sim, ter a a lápide ou as paredes da cela pichada com o substantivo "genocida". E também quem cumpre ordem às cegas voz de comando errada.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.