Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Ninguém é obrigado a visitar um tio que está para morrer na UTI. Nem contribuir com vaquinhas eletrônicas porque "o pobrezinho" do irmão da mãe está na pindaíba.
Família talvez seja a coisa melhor do mundo, quando presta. Mas não deveria existir quando é embusteira. Pior ainda quando se vale de "Evangelhos" para ser maledicente com o corpo dos outros.
Digo assim porque um tio meu está sendo acudido em uma UTI e, de repente, virou o candor de Plutão e da Terra. E na "melhora da morte" começou a cobrar a visita de uma tia, irmã dele.
Insistiram e encheram o saco da "desalmada"
A família se mobilizou para pressionar a fulaninha, "pessoa desatenciosa!". Pouco generosa com o irmão enfermo, um senhor de igreja.
Insistiram e encheram o saco da "desalmada". Afinal, era hoje e não seria amanhã o restinho de existir do irmão mais velho. Coitado! Naquela condição de finalização e a pedir perdão.
O tio não queria fazer a travessia sem abraçar um a um e abençoá-los. Ele foi ministro da Eucaristia, depois se entregou ao Jesus dos crentes e até tomou passes em centros espíritas de amigos.
Filho é meio isso, o catecismo e a própria mãe reforçaram que "honrar pai" é pétreo
Titia veio me perguntar, talvez porque virei jornalista, sobre uma palavra que ela andava caçando por causa da situação desse tio.
- Qual é meu filho? Aquela coisa de sentir pelo outro na hora que a criatura tá se lascando?
"Pena, tia?".
- Não, não. É outra palavra, mas esqueci. Tô com ela na boca, mas não sai. Aquela, quando você é obrigada a se compadecer da penúria de um filho-da-puta?
É "compaixão", tia?
- Isso, meu amado! Compaixão. Suas outras tias e tios estão me tirando o juízo, pedindo que eu tenha e vá à UTI. O que você acha, sobrinho?
Sem saber das coisas, falei pra minha tia que não fosse ao hospital nem alimentasse culpa. Restasse ele lá, estava bajulado por alguns filhos.
E várias pessoas sabiam, a própria mãe dos dois. O pai dos dois
Filho é meio isso, o catecismo e a própria mãe reforçaram que "honrar pai" é pétreo. Mesmo que "o paizinho ou o painho" tenha estuprado a irmã mais nova dele. A tia que não quis visitá-lo.
E várias pessoas sabiam, a própria mãe dos dois. O pai dos dois. Os irmãos mais velhos... e o calado por isso ficou da porta para dentro.
Mas chega o dia em que o silêncio depõe sobre o histórico de parentes e os estupros em família.
Comeu todas que ela botou em casa. Meninas, mocinhas, velhas... Ela descobria e apenas mandava as mulheres embora. Arrependia-se.
Por último, um leitor não gostou do que escrevi sobre o léxico do machismo. É também da crônica não se apetecer.
Ele escreveu: "Não sabia que o Demitri Túlio era adepto do policiamento linguístico da extrema-esquerda".
Continuou: "Uma afirmação dessas aí é de uma ingenuidade (ou ignorância) sociolinguística de dar pena!".
Eis o que havia escrito. "É do léxico machista o "mah, o "macho" e o "má" na boca de garotos e até de moças. Perpetuação do machismo "sem intenção". Coisa ainda do arquétipo da senzala, da escrotice dos invasores europeus, de indígenas, de negros e de judeus". Foi na crônica "Como criar filhos não machistas".
Minha resposta: É da língua e da cultura dos machos feito nós.
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