Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Fortaleza está cada vez mais feia, fedorenta e sem flores nas coxias. Porque gosto dela e tenho devoção por ter sido parido aqui, enxergo-a também sedutora e olorosa em alguns recantos que guardo feito álbum de figurinha, revista pornô ou memórias.
Há lugares encantadores, balsâmicos, mas no geral é malcuidada. Malamanhada, tomada por lixo, bichos e pessoas em ruínas. E de uma arquitetura sobrevivente nas ocupações (desmilinguidas) e, também, arrogante com seus super prédios e desconstruções.
É chato escrever sobre o que não apraz na Cidade que nos amanhece, mais incomodante ainda é bradar (exaustivo) sobre o derrubamento de árvores e a extinção de resquícios de floresta. Não deveria mais ser pauta de jornais nem de nada.
A Cidade, daqui a pouco, terá regadores para aguar tamarineiros de borracha
Assumir assim: ou uma Fortaleza sombreada - para o deslocar-se debaixo de espécies do Semiárido e do Atlântico - ou uma cidadela despedaçada e de flores de plástico nas janelas e nos espaços Dubai.
As flores de plástico não morrem no São João Batista, mas as begônias são arrancadas das calçadas imobilizantes e, ainda, tomadas por cocôs (plastificados) de cachorros caros.
A Cidade, daqui a pouco, terá regadores para aguar tamarineiros de borracha fabricados na China e vendidos no Centro descuidado e nos shoppings metidos a besta da província excludente.
É fato que o Fortal existe e precisa continuar rendendo excedente para quem é fortunoso
É a Cidade plastificando os peixes e os pássaros se engasgando com tampinhas de refrigerante. Homens, cobras e mulheres, também, descartáveis.
Ao ler sobre a última peleja ecológica, lá no bairro dos aviões e do aeroporto alienígena, o que pensar de uma Fraport esnobe e de secretarias de Meio Ambiente (estado e município) talvez confusas?
É fato que o Fortal existe e precisa continuar rendendo excedente para quem é fortunoso; e ainda gera trocados para a arraia miúda! É capital! Mas obriga ser sustentável para seres não humanos e invisíveis.
A história é bastarem os desmatamento e há áreas onde o Fortal seria muito mais feliz
Vai ter Fortal, claro. Esta não é a discussão, ninguém é besta e os rios de dinheiro têm de continuar preservados. Dizem que é bom para o turismo. É. Mas tem de ser bom, também, para quem é árvore e quem mora no mato cada vez mais acuado.
E se o entorno do Pinto Martins é mata atlântica, caatinga, cerrado ou mangue... é o de menos, faz-se investigação. Não sei por qual motivo nem Sema nem Semace nem Seuma ainda não fizeram.
A história é bastarem os desmatamentos e há áreas onde o Fortal seria muito mais abençoado. Todo mundo beijaria na boca e a usura não deixaria de encher a burra.
O espaço é público, mas há jeitinho de se pagar caro por ele quando há conveniências
A avenida Dioguinho, na Praia do Futuro, por exemplo, seria revitalizada pela alegria desmedida do Fortal. A via é larga, morta à noite, mal iluminada e deserta à beira do mar e insegura... Imaginou a ressurreição urbana dali?
O espaço é público, mas há jeitinho de se pagar caro por ele quando há conveniências e famigerados termos de ajustamento de condutas ou de dadivosas outorgas onerosas.
Apurei que um Observatório do Meio Ambiente em Fortaleza está para nascer. Com listas periódicas de desmatamento e desmatadores; de empresas sem árvores nos estacionamentos; de gente que detesta rios e destrói dunas; de políticos da devastação... E vai ter muito barulho numa radicalização pelo direito de existir dos não humanos. Bicho, mata, duna, mangue, rio e mar...
Ninguém aguenta mais quem despedaça flores e alardeia que compensou com 40, 50 ou 100 mil mudas de árvores invisíveis.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.