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Do rés do chão pra cima
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Do rés do chão pra cima

O general que me amou voltou a se prevalecer de mim, mas não das minhas intimidades. Foi por interlocução insubmissa
Tipo Crônica
2411demitri.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2411demitri.jpg

Do que dança no corpo brincante, mesmo com os 106 anos do dr. Pinho, eu desejo. Escrevi algo assim para alguém porque me perdi novamente no descaminho de dizer gostar mais da paixão do que do amor.

E, também, porque havia magoado alguém muito importante em minha vida. Talvez o machismo supurante, embora diga que brigo com esse desterro original insistente. Falo por mim.

Numa semana tão violenta quanto outras de notícias aterradoras e a necessidade de passar importâncias a limpo, vi que titubeio fácil no prumo. É a precisão de ser honesto no discurso e no que sente o corpo, não somente na performance.

 

"Ainda bem que Francisco do bairro das Flores, em Buenos Aires, parece ser amante de Francisco da encantada Asis"
 

 

Eu sei, aqui não é o espaço de pessoalidades amiudadas, mas a crônica é dessas tocaias. Melhor seria se fosse uma encruzilhada. Caminhos guardados, movimento sobrenatural manifestado entre o mar revolto, a lua feminista e todas as incertezas, e ok, do rés do chão para cima.

Ou ser enfiado nas entocas do desconhecido seduzente para as profundezas e a ilusão de ter na morte um evento de exéquias papal, soberbas de uma quimera e o corpo finado entre três caixões. Um de cipreste, um de chumbo e um de carvalho.

Ainda bem que Francisco do bairro das Flores, em Buenos Aires, parece ser amante de Francisco da encantada Canindé, daí o ódio de gente que aplaude a morte crudelíssima em Gaza e no Jangurussu. O papa deveria ser um defunto comum, que nem Jesus!

 

"E aqui, na maioria dos dias, são sete infelizes assassinados na periferia e os caixões são pebas"

 

Em Gaza, os corpos nas ruas apodrecidas de gente matando o faminto dos cachorros. Cena escrota e necessária do Instagram para impingir os sonos. Ou não. E aqui, na maioria dos dias, são sete infelizes assassinados na periferia e os caixões são pebas.

O texto seria uma declaração de amor, mas cruzo com a dúvida se "tenho desejo de matar alguém". E isso é prosaico, disse um dos Bolsonaro na ineficácia de justificar o ódio e produzir loucos-bombas desde 2018. Eles não aquietarão a ira.

Não respeito quem chama alguém de "vagabundo". Para os meus ouvidos, o pior dos distratos. Lula não é vagabundo como disse o coitado de um general, talvez nem ele seja, mas diz com o que foi criado no privilégio e a arrogância da aporofobia hereditária.

 

"Foi ele que me disse que entre a paixão e o amor não há a necessidade de empacar "

 

Pois então, o general que me amou voltou a ter comigo por causa das fossas estouradas na última semana. Voltou a se prevalecer de mim, mas não das minhas intimidades. Foi pela interlocução insubmissa.

Foi ele que me disse que entre a paixão e o amor não há a necessidade de empacar (ou empancar) numa ou noutra apenas. Entre os dois há ínfimos e infinitos sentimento possíveis.

Ele amava, ama a namorada dele até hoje feito namorado. Um senhor já passando dos 70 e ela também. Em rugas dele, em lindezas das virilhas dela, em impotências e furacões quando se acham quase sempre e lembram-se um do outro ali do lado.

 

"E há dias em que ela sente falta de me ver longe dali dela"

 

Mexeu até nos meus ciúmes de amante a declaração que o quatro estrelas fez à moça dele. Tenho taquicardias, tenho reapaixonamentos por ela e, de repente, a amo loucamente sem querer sair de perto e sentir falta quando vai ao salão de beleza. Conto as horas para ter o presente do abraço dela.

E há dias em que ela sente falta de me ver longe dali dela. Cansada por causa dos meus caminhos cheios de becos. Ela aprendeu a transitar mais entre a paixão e o amor.

Perdão por esta crônica em devaneios e descaminhos amorosos... Pois na encruzilhada, flores vermelhas, champanhe, licores, cigarras, turíbulos, suores, anis, chás e odores!

 

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