Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Plano de ataque terrorista em Brasília remonta a série de atentados de extrema-direita no fim da ditadura militar, com motivação anticomunista. Ceará foi um dos alvos
Um empresário, chamado George Washington, foi preso sábado por colocar explosivo num caminhão de combustível em Brasília, numa via de acesso ao aeroporto da capital federal. No apartamento dele, a Polícia achou mais explosivos, fuzil, espingardas, revólveres e bastante munição.
O sujeito com nome de presidente dos Estados Unidos confessou o crime. Conforme a Polícia, ele disse que o objetivo era político. Ele é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). O plano era provocar tumulto e instabilidade. Segundo o preso, provocar "caos" para que fosse decretado estado de sítio no País.
No domingo, em Gama, cidade-satélite de Brasília, mais material explosivo foi encontrado, embora não se saiba se tinha ligação com o outro caso.
É grave, preocupante, inaceitável. A não ser que seja constatado que ele inventou a história, o episódio tira qualquer vestígio de máscara de combate à corrupção, defesa de liberdade, suspeita de fraude nas urnas. O que se vê é uma ação criminosa e terrorista. O motor, ao que se indica é fanatismo na defesa de um líder político que, por sua vez, demonstra apego ao cargo e sede insaciável de poder.
A ocorrência terrorista reedita um fenômeno que o Brasil já conheceu, no ocaso da ditadura militar.
Atentados no fim da ditadura
O professor, historiador e escritor Airton de Farias pesquisa, em pós-doutorado em História na Universidade Federal do Ceará (UFC), atentados cometidos por grupos de extrema-direita nos anos finais da ditadura. Escrevi sobre o assunto no O POVO, em março passado, quando a pesquisa de Farias já apontava mais de 400 ocorrências entre 1976 e 1985.
Neste mês, ele publicou artigo sobre o tema na Locus, revista de história da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O professor relembra a morte de Lyda Monteiro da Silva, secretária de 59 anos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em 27 de agosto de 1980, ela abriu a correspondência endereçada ao presidente da entidade. Uma delas, uma carta-bomba. No mesmo dia, outra explosão de correspondência aberta ocorreu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Feriu gravemente José Ribamar Sampaio de Freitas, chefe de gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho (PMDB).
Farias localizou pelo menos 13 ataques ou ameaças ocorridas em Fortaleza no período pesquisado, e um em Juazeiro do Norte.
Ontem e hoje
Em comum entre os episódios ocorridos quatro décadas atrás e o perigo de agora, Farias aponta a intenção de criar instabilidade para forçar as Forças Armadas a intervirem e, assim, interromperem processos políticos em curso. Na década de 1980, era o fim da ditadura e a reabertura política. Agora, o fim do governo Bolsonaro e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em ambos os casos, havia a ideia de que as ações violentas eram necessárias e justificáveis para combater o terrorismo.
Nas duas situações, as autoridades agiram de forma hesitante. Em ambos os casos, havia afinidade ideológica entre os governos — que estavam no ocaso — e os responsáveis pelos atos.
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