
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Há uma disputa projetada nas eleições cearenses de 2024, espalhada pelos municípios, que o senso comum talvez não seja capaz de captar de maneira clara. Só que ela existe e envolve gente grande da política contemporânea, dois aliados que montaram estratégias compartilhadas onde parecia possível e necessário, mas que, de outra parte, estão posicionados em palanques separados em vários municípios. A história diz respeito ao senador Cid Gomes, que comanda um grupo político atualmente abrigado no PSB, e ao ministro (e senador licenciado) Camilo Santana, que dá as cartas no PT.
O mapa das alianças e das chapas majoritárias, visto sem cuidado maior, até parece indicar Cid e Camilo como aliados inquestionáveis. É verdade que as situações que poderiam gerar mais fofoca política - Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral, por variadas razões - foram blindadas e acertou-se logo uma união em torno de candidaturas de um e de outro partido. Seria exagero falar que há uma briga anunciada entre eles, mas, sim, deve-se esperar uma disputa silenciosa pelo título simbólico, ao final do processo, de maior vencedor das eleições através de aliados que estarão candidatos.
Mesmo assim, a tal blindagem cirúrgica enfrentou algumas dificuldades que exigiram que fosse aplicado um sistema de compensação que revelou-se suficiente para conter os problemas potenciais percebidos. Deu-se um cruzamento objetivo de interesses, onde, por exemplo, o apoio do PSB a Evandro Leitão em Fortaleza seria correspondido pela forte atuação de Camilo e da cúpula petista (governador Elmano de Freitas incluído) para neutralizar movimento em Sobral que indicava o caminho de uma candidatura própria à prefeitura, enfrentando o grupo de Cid. Resultado: o partido terá o professor Paulo Flor como vice de Izolda Cela, o que significa que tudo segue como dantes. Mudaram apenas os personagens.
Como o quadro é confuso e envolve algumas operações cruzadas que ainda precisam ser codificadas, a coluna ainda não conseguiu finalizar sua análise sobre o cenário que está desenhado. Trarei aqui para dividir minhas conclusões com o leitor, quando as tiver, mas, por enquanto, vale discutir o que estaria por trás dos movimentos aparentemente contraditórios de dois políticos influentes que, nas aparições públicas, seguem demonstrando total afinidade.
Camilo Santana passou a ser um nome considerado a sério no petismo nacional. O próprio Lula costuma citá-lo quando provocado a falar do futuro do partido, até mesmo entre as possibilidades de candidatura presidencial para mais adiante. Um status que passou a exigir dele uma performance que chame atenção agora, aquele fundamento de que o político precisa mostrar força em sua própria casa, de início, para depois buscar o direito de sentar na mesa dos grandes com a perspectiva real de ser ouvido por eles. É isso que move seus passos como um dos principais articuladores nas eleições cearenses deste ano.
O caso de Cid é mais complexo e envolve dúvidas maiores. Um tempo atrás ele andou falando em deixar a vida pública, indicou que o atual mandato de senador poderia ser o último na política etc. Palavras reforçadas por um desinteresse evidente em relação às atividades no Congresso durante bom tempo, combinado a uma ausência quase absoluta dos movimentos políticos locais. Aqueles que se consegue perceber, pelo menos. O que mudou no 2024 eleitoral que experimentamos pode ter a ver com o 2026 eleitoral que se aproxima, indicando que a ideia de aposentadoria está a caminho de ser aposentada. Falta entender se falamos de alguém disposto à reeleição ou de olho, por exemplo, num retorno à cadeira de governador. Dúvida que apenas o tempo será capaz de esclarecer.
Precisamos falar de Pablo Marçal. Sua entrada na política, agora como candidato à prefeitura de São Paulo, pelo PRTB, tem potencial para piorar o que já é desafiador hoje na democracia brasileira. No esforço básico de mantê-la de pé. A verdade é que não tínhamos um personagem com o potencial destrutivo da institucionalidade que ele apresenta diante de sua falta de modos e da indisposição flagrante de lidar com o contrário, numa postura que consegue constranger até o extremismo bolsonarista, já difícil de encarar. Será um erro entendê-lo como uma figura folclórica e as instâncias responsáveis, no Ministério Público e na Justiça, em especial, devem estar atentas para agir com o rigor que a lei prevê em relação aos abusos que ele comete e ressalta. Outra coisa: para um coach que ganhou fama e dinheiro preparando quem o contrata para lidar com pressão e risco sem perder a calma, o comportamento desequilibrado do político tem sido uma má propaganda para o que vende o profissional, considerando-se os dois como a mesma pessoa. Nem precisa pagar pelo aconselhamento, basta considerá-lo.
Aliás, a abertura da temporada de debates televisivos nas eleições de 2024, que aconteceu quinta-feira passada com eventos do tipo promovidos em várias capitais pela Rede Band, mostra que a previsão pessimista que a coluna fez sobre o nível de campanha que deveremos ter não vale apenas para Fortaleza. Em Teresina registrou-se até agressão física, do prefeito Doutor Pessoa (PRD), candidato à reeleição, contra o adversário do Psol, Francinaldo Leão. Igualmente lamentável foi o caso de São Paulo, especialmente pela participação do tal Pablo Marçal, objeto de nota acima, que protagonizou algumas molecagens para provocar adversários. Infelizmente, o cenário é realmente preocupante.
Roberto Pessoa, prefeito de Maracanaú, sabia de antemão que lhe geraria problemas a saída que encontrou para ter um vice do PT na sua chapa, filiando ao partido o antigo e leal assessor Gerson Ceccini. A reação forte do deputado Firmo Camurça à escolha, ausentando-se da convenção e divulgando nota na qual tornava pública sua insatisfação com o fato de ter sido preterido, ganhou destaque apenas pela originalidade. No entanto, há mais gente dentro da aliança queixando-se da história e o veterano político precisará usar muito de sua reconhecida habilidade para evitar que insatisfações por enquanto contidas virem uma crise dentro da aliança.
Há gente querendo criar um falso paralelo entre as decisões das mesas diretoras da Câmara de Fortaleza e da Assembleia Legislativa quanto aos respectivos calendários de sessões durante a campanha eleitoral. A ideia é dizer que os vereadores demonstraram mais compromisso com os mandatos do que os deputados ao decidiram manter a mesma rotina de sessões, enquanto os parlamentares devem abrir o plenário apenas uma vez por semana até o final de outubro. Forma bem simplista e meio inocente de ver as coisas, porque, na verdade, a intenção dos representantes municipais por trás da iniciativa é garantir um palanque eletrônico poderoso para suas campanhas, a partir da divulgação das atividades pelos órgãos de comunicação da Casa. Nada a ver com respeito ao mandato ou ao trabalho legislativo, mas estão no direito deles.
Frustrou um pouco expectativas no PT o resultado da primeira oportunidade em que se conseguiu colocar Evandro Leitão e Luizianne Lins no mesmo ambiente. Foi durante a convenção que homologou a candidatura de Waldemir Catanho em Caucaia, quando os dois subiram ao palco e ficaram próximos um do outro. Ou, uma do outro. Cumprimento frio, distante e protocolar, nenhuma interação e, admitiu uma fonte, fortaleceu-se a percepção de que o esforço de trazer a deputada federal à campanha de Fortaleza, explorando sua influência sob parcela do eleitorado pela condição de ex-prefeita, exigirá mais do que se imaginava inicialmente. E olha que a missão nunca foi vista como fácil.
Há um clima de relativa surpresa na coordenação da campanha do Capitão Wagner pela postura inicial do candidato do PL em Fortaleza, André Fernandes, que se considera agressiva além do ponto. Já era esperada a tentativa de cravar nele a ideia de "traidor" ou coisa que valha, considerando que o bolsonarismo trabalha sempre com a escala plena, é tudo ou nada o tempo todo, caminho que o representante do União Brasil nunca adotou. Mesmo quando frequentava o palanque do ex-presidente. A situação exige uma administração cuidadosa, porque nas campanhas anteriores ele sempre teve o voto e apoio do grupo, obrigando-se agora a responder aos ataques num tom que mantenha a porta aberta para uma recomposição da aliança mais adiante. Ou seja, vai ter que segurar a vontade de devolver a granada com a mesma forma.
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