
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O erro é de todos nós, até da cobertura em certo sentido. Dá-se menos atenção do que merecia uma discussão sobre os programas de governo nas campanhas eleitorais, aquilo que cada candidato aos cargos majoritários apresenta como solução para os problemas e desafios que sabe que encontrará caso eleito. Por isso me propus para hoje, olhando os quatro principais blocos na disputa de Fortaleza, a entender como cada um deles lida com o assunto.
Iniciemos pelo atual prefeito, José Sarto, candidato à reeleição pelo PDT. A tarefa do coordenador designado, Luiz Alberto Saboia, até parece mais simples, considerando que já existe um projeto em curso, restando-lhe, talvez, organizar as coisas para um sentido geral de ajustes. Na perspectiva de um novo mandato, para consertar o que parece errado, reforçar e ampliar o que tem dado resultado e, enfim, apresentar novidades que apontem para o salto de qualidade que o futuro exige. Optar por mais do mesmo não atende às expectativas, em regra.
Saboia sabe disse e informa estar orientado pelo prefeito a apresentar um trabalho que esteja de acordo com as expectativas da população, "mas que também seja realista, factível e responsável". Segundo ele, segue viva a ideia presente às discussões do plano de governo da candidatura anterior, das quais também participou, "de olhar Fortaleza como uma cidade só, mais justa e igualitária". Com 80% das metas previstas já executadas, diz ele, o termo "qualificação" tem aparecido com frequência nas conversas do grupo organizado pela campanha pedetista.
O PT, por seu lado, aposta muito na experiência de Eudoro Santana, a quem foi entregue a coordenação geral dos trabalhos. São 23 grupos temáticos cumprindo calendário de reuniões acompanhadas de perto por Artur Bruno e a síntese das conclusões e propostas está sendo encaminhada até Eudoro para que ele, com equipe técnica de sua escolha, sistematize para validação, ou não, do candidato. Deste filtro resultará o programa que Evandro Leitão apresentará e defenderá em campanha, também fazendo parte do processo o que está sendo colhido em reuniões do próprio candidato em rodas de conversas com a comunidade. Já houve a primeira na regional I, programa-se para o fim de semana em curso algo semelhante nas Regionais 5 e 6, e o total previsto é de 13 eventos até o fim da campanha.
No caso do Capitão Wagner, do União Brasil, a tarefa também está entregue a uma pessoa experiente no mister. Ex-deputado e com capacidade técnica reconhecida, Carlos Matos parece entusiasmado com o estágio das coisas e promete apresentar um documento realmente apto a tocar nos problemas de Fortaleza, apresentando soluções para eles, e que também se volte para as suas potencialidades com a perspectiva de explorá-las. "Analisamos o contexto para identificar déficits e oportunidades", diz ele, adiantando existirem 56 propostas elaboradas e que alguns programas já estão validados pelo próprio candidato e constarão no programa. Dois exemplos que cita: "temos o 'Tô de Olho', ação de inteligência governamental para acompanhamento de indicadores-chave, e o "Cuquinha", pelo entendimento de que os Cucas desenvolvem um bom trabalho, de que há boa aprovação popular desses equipamentos, mas que existe potencial para ampliar seus efeitos positivos para comunidades mais pobres. Ele fala em 50 unidades do tipo espalhadas pela cidade e a coluna oportunamente detalhará melhor a história.
Representante bolsonarista na campanha de Fortaleza, André Fernandes, do PL, vai por uma estratégia diferente e se deu a tarefa de coordenar o programa de governo. Um caminho complicado, porque em geral exige um nível de dedicação incompatível com a agenda de quem precisa estar na linha de frente da conquista dos votos. Não parecem atividades conciliáveis, a menos que se entenda como de importância menor dispor de uma base de estudos sobre a realidade que vai ser encarada, para além dos olhares ideológicos, e ter um plano elaborado para, como deve ser sua intenção - considerando que é oposicionista -, transformá-la em favor da população. Aposto nesta última hipótese, mas o certo é que anuncia-se um corpo-a-corpo para ouvir diretamente o fortalezense e disso nascerá o programa de governo. Uma simplificação, de início, equivocada.
Com os times que estão em campo, especialmente considerados alguns dos técnicos envolvidos, a maior parte dos candidatos à administração de Fortaleza a partir de janeiro de 2025 até pode ignorar o que lhes chegar como ideia do que deve ser feito pelos quatro anos seguintes, mas, certamente, será uma opção política deles e não o resultado da falta de consistência do programa que suas equipes designadas terão elaborado. Talvez nos caiba, sociedade e imprensa, cobrar os eleitos mais do que temos feito para que olhem com mais atenção os compromissos assumidos na época em que eram candidatos.
Há um movimento que parece partir do governo e está sendo percebido em alguns casos espalhados pelo Ceará. Ele prevê que onde o acerto geral em torno de um nome apenas da aliança pareça impossível, faz-se a opção preferencial por lançar o máximo de candidaturas objetivando barrar espaços para quem realmente se quer ver derrotado. Deu para entender? Vou exemplificar, a partir de uma situação apontada à coluna: em Iguatu, onde o objetivo prioritário passou a ser criar dificuldades para o caminho de Roberto Filho (PSDB), apoiado por Tasso Jereisati e Ciro Gomes, dentre outros, surgiram nomes novos na disputa com a perspectiva de dividir o eleitorado. Sendo o último deles o vereador Rafael Gadelha (PSD), apresentado pelo prefeito e correligionário Ednaldo Lavor. Consta que fundamentalmente para tirar voto do tucano. Por enquanto, além do PSDB e PSD, PT e PSB apresentaram nomes, ou seja, três nomes da base e um da oposição estadual. É matemático.
A mulher terá pouco protagonismo na campanha de 2204 em Fortaleza, por enquanto com papéis apenas secundários a elas reservados pelos partidos. Representará o gênero, pelo que está programado, a maior parte das vices de chapas majoritárias comandadas por homens. Uma espécie de compensação. Olhando-se o mapa das disputas Ceará afora(ou adentro), no entanto, estão se desenhando avanços importantes e interessantes. Prevê-se candidatas em quase uma centenas de municípios e, fato relevante, algumas delas com chances muito fortes de vitória, inclusive em cidades de influência, como Sobral, Aracati, Tauá e Crateús. Para lembrar, hoje são apenas 30 prefeitas cearenses de um total de 184 municípios.
Seja nos discursos de pré-candidatos, naquilo que circula pelo mundo descontrolado das redes sociais e em oudtdoors espalhados por pontos estratégicos da cidade através de um movimento identificado pela hastag (#)basta, demonstra-se meio inevitável que o tema da segurança pública ganhe protagonismo inédito na campanha de Fortaleza em 2024. O que explica, também, o tom crescente do governador Elmano de Freitas (PT) de desafio às tais organizações criminosas, dirigindo-se a elas de maneira desafiadora. Será útil não apenas na Capital, mas aos demais candidatos ligados ao governo em outros municípios dos quais será cobrado, certamente, o momento delicado que o Ceará apresenta no setor. Há números recentes que até apontam uma melhoria, mas, admite o próprio Elmano, é preciso que a população perceba o que nesse momento aparece apenas nas estatísticas.
A Argentina anda precisando de um olhar mais atento diante da gravidade das coisas que ali se sucedem no campo político. Não tem a ver com o viés liberal, conservador ou de direita que marca a toada do presidente Javier Milei, afinal é o que ele vendeu na sua campanha vencedora. No fato preocupante mais recente, um grupo de deputados do partido do presidente foi visitar na cadeia, como uma espécie de homenagem, militares responsáveis, como governantes da época da ditadura, por milhares de mortes de argentinos. Eles cumprem prisão perpétua, condenados por crimes de lesa humanidade, para se ter uma ideia. Os livros sérios, os estudiosos e as famílias que lidam com as perdas indicam mais de 30 mil desaparecidos, Milei e sua turma querem uma recontagem e alegam que foram "apenas" 8 mil. É demais e até gente da base governista quer punição dos parlamentares.
A coluna não deixará de tratar de um dos fatos noticiosos mais realmente importantes da semana: o início de tramitação na Assembleia de projeto apresentado pelo deputado estadual Guilherme Sampaio (PT) que institui o 30 de janeiro como dia oficial da Vaia Cearense. Alguém poderá dizer que é falta do que fazer etc, mas, concordo eu, poucas coisas são tão características do nosso jeito próprio de ser e o assunto é sério. Falo sério. Vale apenas avisar aos mais apressados que caso a proposta seja aprovada, como se espera que aconteça sem dificuldades maiores, não se estará criando um novo feriado estadual. Talvez já seja o caso de uma vaia (a partir daqui o leitor fica autorizado a acionar o modo ironia).
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