Logo O POVO+
Fala e não faz: o prefeito Evandro sabe o que é uma área verde?
Foto de Catalina Leite
clique para exibir bio do colunista

Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste

Catalina Leite meio ambiente

Fala e não faz: o prefeito Evandro sabe o que é uma área verde?

Não adianta enviar projeto de lei climática com urgência para a Câmara se a mesma mão aprova redução de área verde
Tipo Opinião
Terreno desmatado no entorno do Aeroporto Internacional de Fortaleza, antes do fim do relatório ambiental do Ibama. Local fica na altura da passarela da Praça da Aerolândia, entre a Base Aérea e o Aeroporto (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Terreno desmatado no entorno do Aeroporto Internacional de Fortaleza, antes do fim do relatório ambiental do Ibama. Local fica na altura da passarela da Praça da Aerolândia, entre a Base Aérea e o Aeroporto

Em abril deste ano, quando o prefeito Evandro Leitão (PT) estava alcançando os 100 dias de governo, ele disse com todas as letras: “Fortaleza não pode perder mais áreas verdes”. Cinco meses depois, o prefeito sanciona um projeto de lei que flexibiliza a proteção da Zona de Interesse Ambiental (ZIA) da Sabiaguaba.

Quando Evando afirmou que “não abriria mão” das áreas verdes de Fortaleza, ele estava aproveitando a recepção negativa da sanção do ex-prefeito José Sarto (PDT), já no final do mandato, que excluía dezenas de áreas ambientais protegidas em Fortaleza.

Agora, no mesmo dia em que o vereador Gabriel Aguiar (Psol) denuncia o revoltante desmatamento de quase 40 hectares de Mata Atlântica para obra de Centro Logístico da Fraport com permissão da Semace, Evandro permite a expansão imobiliária na Sabiaguaba.

Chega a ser cômico. Em abril, entrevistado pela colunista que vos fala, Evandro disse o seguinte: “É claro que a questão imobiliária é importante, a cidade tem que crescer, isso é natural; mas a gente tem que preservar nossas áreas verdes e isso eu não vou abrir mão.”

Será que o prefeito sabe, então, o que é uma área verde? Talvez nossos conceitos estejam desencontrados. Talvez ele veja o que era a Mata Atlântica ao lado do aeroporto como um terreno baldio, sem vida.

Desmatamento em área verde do entorno do aeroporto de Fortaleza(Foto: Via Whatsapp O POVO)
Foto: Via Whatsapp O POVO Desmatamento em área verde do entorno do aeroporto de Fortaleza

Talvez ele encare as dunas da Sabiaguaba como "só" areia; logo, não configurariam uma área “verde”. Para quem acompanha nossas reportagens, pelo menos, sabe muito bem as intrínsecas relações ecossistêmicas na região.

Prefeito, área verde urbana é todo “conjunto de áreas intraurbanas que apresentam cobertura vegetal, arbórea (nativa e introduzida), arbustiva ou rasteira (gramíneas) e que contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas cidades”. A definição é do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

Em 2019, a área verde total calculada para o município de Fortaleza era de 3.646 hectares; apenas 11,6% da área total do município. São cerca de 13,6 m² de área verde por habitante. O quanto esse número deve ter reduzido somente neste ano ainda há de ser calculado.

O problema da política ambiental brasileira é que ela é feita de discursos, mas quase nunca de prática. Em entrevistas e coletivas, os governantes que desejam ser vistos como eco-aliados sorriem e prometem que nenhuma árvore a mais será derrubada e nenhum bicho será expulso do lar.

No outro dia, assinam projetos de leis que resultam no total oposto.

No dia 22 de setembro, o prefeito Evandro Leitão enviou à Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), em caráter de urgência, um projeto de lei para criar a Política Municipal sobre Mudança do Clima. “A nova proposição visa dar concretude a esse arcabouço legal, estabelecendo princípios, objetivos, diretrizes e mecanismos institucionais voltados à mitigação das emissões de gases de efeito estufa, à adaptação aos efeitos climáticos extremos, à promoção da justiça climática e à preservação da qualidade ambiental urbana.”

Além de abrigar fauna e flora, as áreas verdes urbanas são essenciais para o equilíbrio e conforto climático das cidades. Sem áreas verdes, os efeitos da crise climática são intensificados, resultando em diversos problemas, incluindo a piora da saúde da população(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Além de abrigar fauna e flora, as áreas verdes urbanas são essenciais para o equilíbrio e conforto climático das cidades. Sem áreas verdes, os efeitos da crise climática são intensificados, resultando em diversos problemas, incluindo a piora da saúde da população

Um dos arcabouços legais é o Plano Local de Ação Climática (Plac) de Fortaleza, no qual a meta R.1 é especificamente ampliar a quantidade e a acessibilidade de áreas verdes na Cidade.

O objetivo é “promover conexão ecológica, integração social e fortalecer a relação entre sociedade e espaço verde urbano, por meio da implantação de um projeto piloto de Conector Verde, ampliando a área verde da cidade de 17,33 m²/hab em 2017 para 20 m²/hab até 2030 e 26,48 m² até 2040”.

Destaco que de 2017 para 2019 foram perdidos 3,73 m²/hab de áreas ambientais. Seis anos depois, a situação com certeza está pior. Há de se questionar como a prefeitura planeja alcançar as metas definidas enquanto extingue sistematicamente as áreas verdes de Fortaleza.

Foto do Catalina Leite

Análises e fatos sobre as pautas ambientais. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?