Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foto: FCO FONTENELE
LULA, Camilo e Elmano em evento político
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Já se sabe que o presidente Lula disse que deve sentar com o ministro Camilo Santana (Educação) em janeiro de 2026 para discutir a possibilidade de candidatura ao Governo do Estado ano que vem. Em coletiva de imprensa na quinta passada, 18, o líder do Planalto assinalou que pretende ter essa mesma conversa com Fernando Haddad, da Fazenda, que vai se desincompatibilizar da pasta para ficar à disposição do PT, seja com vistas ao Governo de São Paulo, seja ao Senado.
"Vou sentar com Camilo, vou sentar com todos os ministros, eu sei que tem muito candidato. Vou sentar para saber o que pretendem fazer. Na hora que forem saindo, vou ver quem coloco no lugar", declarou Lula. Dias atrás, em entrevista ao O Globo, Camilo afiançou que o governador do Ceará, Elmano de Freitas, é o candidato à reeleição.
"Eu não sou candidato. O Elmano tem sido um grande governador. Ele tem direito à reeleição e está bem avaliado", disse o ministro, acrescentando: "Mas claro que política é dinâmica". Entre petistas e outras lideranças do entorno de Elmano, contudo, há o entendimento de que, a depender do cenário da disputa, Camilo pode ser acionado para concorrer a um terceiro mandato estadual. Esse é o pano de fundo do acerto pendente.
Que haja uma rodada derradeira de papo entre o presidente que fica e o ministro que sai, nisso não há qualquer assombro. O importante no episódio é o que está nas entrelinhas: a necessidade de examinar melhor a hipótese de que Camilo postule o Abolição, tornada pública pelo próprio chefe do Executivo, segue-se à divulgação de uma série de pesquisas cujo quadro desenhado no Ceará é o mesmo, com uma vantagem persistente para o ex-presidenciável Ciro Gomes (PSDB).
Ora, ainda que se relativize o peso de qualquer levantamento a esta altura (recorrendo-se ocasionalmente a argumentos débeis), uma luz amarela se acendeu no PT e na cúpula palaciana. Por dois motivos: manter o Governo do Estado é tarefa primordial para assegurar que Lula vença ano que vem; segundo: uma vitória em 2026 é condição para a reeleição de Evandro Leitão na capital cearense em 2028. Logo, um tropeço na corrida para o Abolição poderia desencadear um efeito cascata imprevisível.
Ouvi de um interlocutor que Elmano só não deve se candidatar à reeleição se não quiser - e, ao que parece, o petista quer, sim. É do perfil do gestor, afinal, essa disposição para embates mais duros, dos quais não costuma fugir. Ocorre que há muita gente dentro e fora da administração com receio da margem de risco para um revés.
Para esse pessoal, as chances para a contingência seriam menores se Camilo fosse o "cabeça". Mas até nisso existe uma operação delicada, ou seja, não é uma engenharia corriqueira substituições dessa natureza, tal como a que se pretendia em 2024 quando uma ala dos então pedetistas desejava rifar o impopular José Sarto para que Roberto Cláudio fosse o candidato.
Um elemento foi adicionado ao discurso daqueles aliados que se atribuíram a dura missão de convencer o senador Cid Gomes (PSB) a tentar a reeleição: a chapa governista não tem ainda "um puxador de votos". Por puxador entenda-se o candidato com perfil mais palatável ao eleitorado, cujo humor tenderia a segui-lo até as urnas. Um exemplo: Camilo em 2022.
Caso o Ferreira Gomes se mantenha fora da cédula eleitoral, no entanto, o bloco teria de se virar sem esse candidato "influenciador". Daí que, dentro do PSB, a ausência do ex-governador acabe preocupando mais, sobretudo para sigla que tem o projeto de fazer a maior bancada de federais e de estaduais - objetivo mais difícil sem Cid na briga.
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