
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
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Imagine um estado onde o principal desafio histórico sempre foi a água, em função das secas severas e da dificuldade de abastecimento para a população. Esse mesmo lugar, após muitos investimentos realizados, agora atrai empreendimentos tecnológicos capazes de consumir 30 mil litros de água por dia. Esse estado é o Ceará, que tem despontado no mercado de data centers (instalações físicas que abrigam equipamentos capazes de realizar armazenamento de informações digitais).
Durante a edição do Futurecom 2025, evento latino-americano de tecnologia e telecomunicações realizado na semana passada em São Paulo, a criação de data centers foi um dos pontos discutidos. Há um consenso sobre a necessidade desse tipo de empreendimento, principalmente diante das revoluções esperadas com a aplicação de inteligência artificial, mas o impacto ambiental precisa ser considerado.
No painel sobre soluções tecnológicas para questões ambientais, promovido pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), o professor Otávio Chase, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), afirmou que o Brasil é um dos países mais preparados para receber esse tipo de empreendimento, mas precisa avaliar suas condições.
Pelas contas do especialista, a energia demandada pelos quatro novos projetos de data centers para IA previstos para o País (Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas) equivale àquela produzida pela usina de Tucuruí, no Pará. Apesar do impacto, ele considera que isso dificilmente provocará problema para o Sistema Interligado Nacional (SIN), em função das usinas fotovoltaicas próprias previstas para os projetos.
O Ceará tem investido na infraestrutura energética, com a expansão de projetos de usinas eólicas e solares, mas a questão da água deve entrar na conta do impacto ambiental. Pelos cálculos do professor, serão 30 mil litros por dia somente com o data center em Caucaia; no Rio de Janeiro, cerca de 70 mil litros/dia.
No caso do projeto do Ceará, existe a possibilidade do emprego de água de reúso, o que seria uma solução, mas é preciso avaliar bem todos os impactos, inclusive na vida das comunidades próximas à área do empreendimento.
Os projetos de data center para IA, na avaliação de especialistas, devem provocar uma nova revolução industrial. As disputas já ocorrem na briga por incentivos fiscais entre os estados e nas reclamações do governo de São Paulo sobre a concorrência. Nessa corrida, entretanto, deve-se olhar todas as variáveis e saber o que realmente a população ganha.
Dentro de todo esse contexto, a pesquisadora Vanessa Schramm, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), avaliou megatendências tecnológicas nesse processo de transformação digital, diante de tecnologias emergentes, aplicações de inovações, desafios e perspectivas de sustentabilidade ambiental, social e econômica.
As mudanças climáticas estão entre os maiores desafios, bem como a segurança alimentar, as desigualdades, a saúde pública, a educação de qualidade, a geração de empregos e o aumento da expectativa de vida, com a população se deslocando cada vez mais para os centros urbanos.
Apesar dos cenários difíceis, ela ressalta as oportunidades oferecidas pelo momento. "A transformação digital pode ser uma aliada para a manutenção de cadeias sustentáveis. Há um novo mundo com o qual precisamos lidar. Existe o impacto da aplicação da inteligência artificial nas atividades, há uma transformação das organizações e, ao mesmo tempo, grandes oportunidades para um mundo mais sustentável", reforça.
A jornalista viajou a São Paulo a convite do IEEE
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