É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
A crise política relacionada às mudanças das regras de fiscalização do Pix previstas pela Receita Federal e o posterior recuo do governo foram, ao longo da última semana, uma demonstração cristalina do quão nocivo é o ruído causado pela desinformação. Uma medida que tinha o intuito de apenas atualizar algo há anos praticado pelo Fisco e cuja premissa era positiva - o combate à sonegação fiscal - foi deixada de lado diante de uma flagrante inabilidade de comunicação do governo e após uma onda de notícias fraudulentas engolir as tentativas de promover um debate honesto.
A cobertura da crise do Pix esteve presente em todas as plataformas do O POVO. No online e nas mídias sociais, foram produzidas matérias e vídeos para tirar dúvidas dos leitores e seguidores e esclarecer o que era verdade e o que era desinformação. O tema também foi abordado na Rádio O POVO CBN e no programa O POVO News, no Youtube.
No jornal impresso, a crise do Pix desembarcou na reportagem “Comércio enfrenta confusão com rumores em meio à fiscalização do Pix”, publicada na edição do dia 11 de janeiro. A repórter Ana Luiza Serrão foi às ruas do Centro de Fortaleza e colheu depoimentos de comerciantes informais que estavam se recusando a receber pagamentos por Pix, já atingidos pela onda de desinformação que começava a ganhar corpo. Relatos semelhantes obtidos pela Rádio CBN Cariri também foram incluídos no material.
“A ideia foi mesmo retratar o que O POVO apurou sobre (o caso). Os relatos vinham de Juazeiro, Centro (de Fortaleza) e Crateús. Então fomos à rua verificar. A gente buscou os diversos ângulos, indo às ruas, recebendo contribuição da rádio”, conta Beatriz Cavalcante, editora-chefe de Economia, que destaca a produção de 11 matérias no online e oito no impresso sobre o tema, desde o anúncio até a revogação.
Admito que, num primeiro momento, subestimei o potencial que o assunto tinha de ser transposto em grandes dimensões para a vida real. Os dias seguintes mostraram que a reportagem teve o mérito de perceber uma tendência e se antecipar ao debate que viraria crise.
E o componente político?
Por outro lado, uma abordagem à crise do Pix demorou para entrar na cobertura do O POVO. As matérias focaram inicialmente nos alertas contra golpes e desinformação; e no factual, destacando as fracassadas tentativas do governo de passar a mensagem de que taxar o Pix não passava de lorota. Mas no cerne dessa batalha comunicacional está uma disputa essencialmente política.
Apenas para exemplificar. Na manhã da última quarta-feira, 15, dia do recuo do governo, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou nas redes sociais um vídeo pondo em dúvida as garantias do governo de que não taxaria o Pix. O parlamentar furou a bolha da extrema-direita e fez com que o vídeo batesse 300 milhões de visualizações. É difícil dissociar tamanha repercussão da atitude do governo anunciada à tarde.
No entanto, no decorrer da mesma quarta-feira, nenhuma matéria publicada no O POVO mencionava o vídeo do bolsonarista. E aqui não falo em reproduzir de maneira acrítica o conteúdo da publicação. Com um propósito muito claro de tumultuar um ambiente já contaminado pela incerteza e confundir ainda mais o governo, Nikolas misturou vários assuntos, mas usou uma linguagem de fácil assimilação, surfando num discurso cheio de meias verdades, criando um solo fértil para a desinformação.
Contudo, as matérias do O POVO sobre a mudança de rota do governo ignoraram o deputado. Tampouco se aprofundaram numa discussão mais política da crise. Assim foi também na matéria que foi manchete da edição de quinta-feira, 16, do impresso. Nenhuma menção a este embate ferrenho entre governo e oposição tendo a crise do Pix como pano de fundo.
No mesmo dia, o podcast Jogo Político discutiu o assunto. No sábado o Editorial e a colunista Juliana Diniz abordaram tema.
O salário do prefeito
Outro assunto com destaque na semana foi a reestruturação administrativa com cortes nos gastos públicos promovida pelo prefeito de Fortaleza Evandro Leitão (PT). Na edição de quarta-feira, 15, o título da matéria sobre o anúncio das medidas que ocorreria naquele dia foi o seguinte: “Evandro fará reestruturação e reduzirá próprio salário”.
Não é todo dia que vemos políticos promoverem cortes nas próprias remunerações. O que de certa forma ficou naturalizado na política brasileira foi exatamente o contrário. Portanto, é natural que um fato como esse chame atenção dos leitores.
O apelo de tal medida, que cativa simpatia do eleitorado, precisa sempre ser posta em perspectiva. Evandro anunciou o pacote de ações para conter gastos ante o cenário crítico nos cofres da Capital. A economia prevista é de R$ 500 milhões. Se colocarmos na ponta do lápis, a redução em 20% dos salários do prefeito, da vice e dos secretários representa uma parcela bem diminuta do total a ser economizado.
Portanto, destacar no título de uma matéria o corte de salários da cúpula da administração municipal é colocar em evidência aquilo que tem um peso menor naquilo que o pacote propõe. Enfatizar outras medidas, como o corte de terceirizados, é uma decisão bem mais acertada do ponto de vista jornalístico.
Nos últimos dias, o atendimento do ombudsman ao leitor por Whatsapp passou por problemas técnicos. As questões já foram encaminhadas para a resolução com o setor responsável. Creio que nos próximos dias o atendimento será restabelecido, de segunda a sexta-feira, das 8h às 14 horas. Reforço que todas as demandas pelo número (85) 98893-9807 serão atendidas assim que a situação seja normalizada.
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