Na contramão de muitos setores, que foram impactados negativamente pela pandemia do novo coronavírus, o varejo farmacêutico vai terminar o ano de 2020 em alta. Só entre as 26 grandes redes que compõem a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), e que respondem por quase metade do faturamento do mercado, a projeção é de crescimento da ordem de 8,9%. E não é só em razão do aumento da demanda de saúde em um ano marcado por uma crise sanitária que já fez mais de 5,2 milhões de vítimas no Brasil. A aceleração de soluções digitais, o crescimento do e-commerce, a desburocratização de entraves regulatórios e a incorporação de novos serviços têm impulsionado a transformação do setor.
Na realidade, a alta procura na venda de remédios para tratar a Covid-19, ou de suplementos relacionados à imunização, responde apenas ao aquecimento observado nas primeiras semanas da doença no Brasil. Durante o período das políticas de isolamento mais rígidas nos estados, nos meses de abril e maio, o que se observou foi uma queda brusca das vendas em muitas redes farmacêuticas.
Em parte, porque muitas lojas estão localizadas em shoppings e grandes centros comerciais que foram afetados por essas políticas. A suspensão de consultas não emergenciais em hospitais, clínicas e demais unidades de saúde Brasil afora também levou muita gente a descontinuar tratamento médico.
Tanto que, neste período, foram as farmácias independentes que mais avançaram. Em média, 14,5%, de janeiro a julho, segundo a Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar). “Isso se deve, principalmente, ao fato desses estabelecimentos estarem nos bairros. Como as pessoas ficaram em confinamento, optaram por comprar em locais próximos", explica o presidente da entidade, Edison Tamascia.
Com a reabertura, o caminho foi de recuperação nos números. De acordo com dados da Abrafarma, o faturamento, de janeiro a agosto deste ano, foi de mais de R$ 37,38 bilhões. Alta de 7,71% em relação a igual período de 2019. “A partir de junho, a recuperação é crescente. Agora o atendimento já normalizou. 2020 não vai ser tão bom como estava previsto, de crescer em torno de 11%, por conta dessa variação que houve. Mas devemos, certamente, chegar a 8,9%. O que não deixa de ser muito mais do que a economia brasileira neste período”, observa o presidente da Abrafarma, Sérgio Mena.
Ele destaca que tão importante quanto os números é a mudança de comportamento do consumidor desde o início da pandemia no País, em março. “Há uma tendência do consumidor, pós-Covid, de cuidar mais da saúde. Isso porque as pessoas estão percebendo que a vida é bem valiosa e que quem abandona tratamento tem possibilidade maior de ter algum agravo”, diz.
O ano também está sendo marcado por fortes transformações do setor. Nos oito primeiros meses deste ano, o faturamento do e-commerce e do serviço de delivery nas grandes redes, por exemplo, registrou crescimento de 118,22%, na comparação ao período de janeiro a agosto de 2019, fechando em R$ 1,04 bilhão.
Com preços competitivos, os testes rápidos para Covid-19 em farmácias têm dado capilaridade ao exame no País e impulsionado o setor. Para se ter uma ideia do movimento pelo qual passa o mercado farmacêutico, até o fim de setembro, mais de 823 mil testes rápidos foram aplicados nesse tipo de estabelecimento. Destes, 27,2 mil ocorreram no Ceará.
No ambiente regulatório, a liberação de receitas digitais também estão impulsionando o setor. O investimento das empresas em produtos de marcas próprias também tem sido cada vez mais frequente.
“A digitalização dos serviços farmacêuticos ainda não foi 100% implementada, mas deu um salto significativo com a pandemia. A questão da telemedicina, consultas digitais, tudo isso está se popularizando. E, obviamente, as empresas farmacêuticas que já tinham isso no radar, que estavam mais preparadas, se beneficiam muito neste momento”, avalia Fábio Schmitt, sócio de estratégia e transações da EY Consultoria.