O reposicionamento da Ford, mundialmente, para produtos mais de nicho - e que trará como consequência o fechamento das três fábricas que produziam veículos do tipo passeio no Brasil ainda neste ano - aos poucos, começa a produzir reflexos no comportamento do consumidor. Em Fortaleza, neste primeiro momento, por exemplo, o que tem prevalecido é a dúvida do lado do cliente, aumento na procura do Troller e algumas concessionárias já focando em ofertas.
“É normal muitos clientes estarem com dúvidas e até baixar um pouco a procura neste primeiro momento, mas temos feito questão de esclarecer que a Ford não saiu do Brasil, apenas deixou de fabricar veículos aqui”, explica.
Ele ratifica que tanto a montadora, como a concessionária, continuam a parceria para a venda de veículos, garantia e assistência técnica. “Com a mesma qualidade de sempre, isso não muda em nada. O que ocorre, na realidade, é a renovação dos produtos que a marca passará a vender aos seus clientes. Vai descontinuar algumas linhas para focar mais em outras, trazendo mais produtos de ponta e em segmento superior”, complementa.
Dentre as novas linhas que a montadora prometeu para este ano estão: o SUV Bronco, a van Transit, uma nova versão da picape Ranger, a edição limitada March 1 do esportivo Mustang e um novo veículo híbrido plug-in, com expansão dos serviços conectados e introdução de novas tecnologias autônomas e de eletrificação. Por outro lado, saem de linha o Ka, Ka Sedan e EcoSport, que continuarão a ser vendidos apenas enquanto durarem os estoques. Já o Troller T4 ainda segue sendo produzido até o último quadrimestre do ano.
No mercado de seminovos, o presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Ceará (Sindivel), Everton Fernandes, afirma que ainda é cedo para mensurar o impacto nas vendas. Não somente porque o anúncio é recente, mas pelo próprio momento do setor de poucos carros disponíveis para venda.
“E não somente da Ford, de todas as marcas. Em função da pandemia, houve uma ruptura na cadeia de produção de autopeças que atingiu o mercado de novos e agora também o de seminovos. Não tem muita oferta de carros na praça. Então, mesmo quem queira se desfazer de seu veículo, vai segurar um pouco mais, porque vai querer comprar outro e não há muitas opções”, diz.
Ele diz, no entanto, que a tendência é que algumas linhas de veículos sofram desvalorização mais rápida que outras. Seria o caso, por exemplo, do Fusion, mais premium, em relação ao Ka. “É um público mais exigente (o do Fusion). O custo de manutenção é maior e pode enfrentar uma demora a mais sim. Já o custo-benefício do Ka, na categoria dele, é muito bom”, esclarece.
Já o Troller, ele acredita que, com o tempo, venha até a subir de preço. “Tudo são projeções, claro. Mas o Troller é muito queridinho de quem faz trilha, então, tem grande potencial de virar item de colecionador quando sair de linha”.
Em uma revendedora no bairro do Papicu, o vendedor Augusto Santos diz que a procura pelo Troller já começou a se intensificar. “Curiosamente, mais gente ficou interessada depois do anúncio de encerramento das fábricas no Brasil. Foi imediato o aumento na procura do Troller, já o interesse pela linha mais popular deles caiu bastante”.
Arley de Sena é dono de uma locadora de veículos em Fortaleza. Ele diz que dentro do seu ramo de atuação, ainda não mudou muita coisa no sentido de preferência dos clientes. O Ka continua tendo boa saída. Mas, ele, que estava em processo de compra de cinco veículos da marca quando saiu a notícia, decidiu refazer suas escolhas. “Preferi trocar por HB20, porque por mais que ainda tenha assistência garantida, pode ser que demore mais a chegarem as peças. E no meu ramo (de locação) a necessidade de manutenção é maior”, frisa.