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O futuro da produção energética está no mar
Economia

O futuro da produção energética está no mar

Setor de energia do Ceará aguarda definições sobre novo atlas eólico nacional. O Governo Federal anunciou na última semana que vai realizar um estudo para medir potencial eólico na costa do Norte e de parte do Nordeste. O recurso é oriundo de emenda parlamentar do senador Davi Alcolumbre (DEM), que já revelou desejo de ter um parque eólico no Amapá. Empresários querem estudo aprofundado que viabilize investimentos
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Litoral de águas rasas e solo arenoso barateiam instalação de torres (Foto: JL Rosa)
Foto: JL Rosa Litoral de águas rasas e solo arenoso barateiam instalação de torres

Um movimento iniciado no Ceará de exploração do potencial de produção de energia eólica nas águas do mar, faz com que o Brasil tenha a possibilidade de avançar de forma consistente para produção de energia limpa que possa atender à demanda do sistema nacional. Hoje, estão em análise no Ibama, 20 projetos de parques eólicos offshore, que têm potência projetada em 42,1 GW de energia. Os dois projetos mais antigos na análise são cearenses, além de outros dois projetos, totalizando quatro. O Ceará, junto de Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os que mais possuem projetos.

Em fevereiro passado, a produção eólica chegou ao patamar de produção de 18 GW de capacidade instalada, se consolidando como a segunda maior fonte de energia do sistema brasileiro. O avanço do licenciamento desses projetos e a regulamentação de leilões de energia eólica offshore, permitiriam que essa participação mais do que dobrasse. E, tendo em consideração a demanda internacional de priorização de matrizes energéticas sustentáveis, esse aumento poderia significar a perda de espaço de matrizes mais poluentes, que ainda fazem parte da realidade da produção energética nacional.

Uma emenda parlamentar viabilizará a realização de estudo sobre o potencial eólico da costa brasileira entre os estados do Amapá, passando pelo Ceará até o Rio Grande do Norte. O acordo foi formalizado no início do mês entre o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o senador Davi Alcolumbre (DEM/AP). O anúncio acendeu a expectativa dos entes do setor de energia do Ceará, que esperam uma ampla análise, que traga novas informações ao mercado, principalmente no que se refere às potencialidades da energia eólica offshore.

Necessidade de informações

Em nível nacional, as informações disponíveis para os investidores do setor de energia são poucas e antigas. As informações ficaram defasadas num segmento tão cheio de tecnologia como é hoje o de energias renováveis. O último Atlas Solar do Brasil foi produzido e lançado em 2017. E o último Atlas Eólico é ainda mais antigo, de 2013.

Joaquim Rolim, coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e diretor da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), destaca que as iniciativas que possam ser feitas para mapear os nossos potenciais em energia são muito bem-vindas.

"Como a tecnologia vai avançando, é preciso detalhar melhor os potenciais. A nova fronteira que surge é a produção de energia no mar, temos vários projetos de desenvolvimento do processo regulatório", afirma Joaquim, destacando que o interesse em projetos em eólica offshore é crescente na iniciativa privada.

Os estudos mais recentes dão conta de que o Brasil tem potencial eólico onshore de mais de 800 GW, que pode ser potencializado e o investimento no desenvolvimento desse tipo de produção pode contribuir para a aceleração da mudança da matriz energética para fontes sustentáveis. O caminho pro desenvolvimento onshore já é nítido. A presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, destaca que o potencial brasileiro é muito grande, ainda mais quando se inclui nesse bojo a produção offshore.

"Considerando que as matrizes elétricas necessitam ser diversificadas e que a tecnologia de produção evolui ao longo do tempo, este potencial pode ser considerado infinito. Nosso potencial eólico offshore é maior ainda, e o Brasil já tem dado os primeiros passos para que possamos ter o primeiro parque eólico offshore nos próximos 7 ou 8 anos. O Ibama já está analisando projetos que já somam mais de 40 GWs de capacidade instalada de eólicas no mar", observa.

Ela ainda completa afirmando que a iniciativa de produzir um atlas eólico por parte do Governo Federal se insere nesse contexto.

Na reunião em que oficializou o aporte de verba parlamentar no projeto a ser conduzido pelo MCTI, Alcolumbre não negou que tem o desejo de ter um parque eólico no seu estado de origem, o Amapá. “Vamos investir R$ 5 milhões para fazer esse estudo de toda a margem equatorial. O governo federal poderá se apropriar desse estudo e, a partir daí, ter dados técnicos e oficiais para promover o desenvolvimento econômico de toda essa margem do nosso país”, detalhou Davi Alcolumbre.

O que (não) diz o Ministério

Entre as informações expressas no anúncio, a equipe do ministro Marcos Pontes divulgou poucos detalhes. Em linhas gerais, o Governo ressalta que a medição do potencial eólico de toda região que cobre a costa do Norte e quase a totalidade do Nordeste, deve viabilizar a implantação de novas torres eólicas. De acordo com o MCTI, que vai realizar o estudo, a ideia é que o projeto forneça dados técnicos “para que a iniciativa privada construa um parque eólico de geração de energia elétrica”.

Na ocasião, o ministro Pontes ressaltou que o Brasil possui um potencial muito grande para a geração de energia eólica. “Agradecemos o senador por confiar na ciência do Brasil e por apostar e investir em energia renovável”, disse.

O POVO procurou a assessoria do MCTI para obter mais detalhes. Após quase uma semana após o prazo de solicitação, a equipe ministerial ainda não havia dado retorno à demanda, que questionava se o estudo incluirá estudos onshore e offshore, se o Ministério se usará de parcerias estaduais, além dos prazos para início dos estudos e quando ele deve ser finalizado e apresentado.

DEPENDÊNCIA

O período chuvoso ruim nos últimos ciclos fez com que o nível dos reservatórios que abastecem as hidrelétricas ficassem num nível arriscado, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste, sistemas que abastecem as principais regiões consumidoras, o que levou o Brasil a acionar termelétricas e importar mais energia da Argentina e Uruguai, aumento o custo da energia elétrica de todos os brasileiros.

HUB DE H2V

Um estudo da Wood Mackenzie, que é uma consultoria em energias renováveis, aponta que o Brasil é destaque internacional com os projetos previstos em hidrogênio verde, com a projeção de produção na casa dos 0,6 milhão de toneladas anuais. O Ceará é quem puxa esse mercado, com o anúncio da maior usina de H2V do mundo pela Energix Energy (US$ 11 bilhões de investimento), no hub montado pelo Estado no Complexo do Pecém.

NORDESTE

O Nordeste é referência na produção de energia eólica no Brasil, produzindo 85% da energia proveniente dos ventos.

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