Líder do consórcio que ganhou a licitação para a construção da usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza, o Grupo Marquise negocia com duas empresas estrangeiras a construção de plantas semelhantes no Complexo do Pecém, segundo revelou com exclusividade ao O POVO, José Carlos Pontes, acionista do Grupo Marquise. As conversas, segundo ele, estão em estágio inicial, mas o objetivo é atender demandas da geração de hidrogênio verde (H2V).
“Duas empresas nos procuraram, mas nossa intenção é conversar com o maior número de empresas possível porque a água vai ser um insumo muito importante para o hidrogênio verde e nós estamos atentos a isso”, afirmou.
Sem revelar nomes ou o porte dos empreendimentos em vista, Pontes afirmou que as duas empresas têm atuação no Exterior e já assinaram protocolos de entendimento com o Governo do Estado, demonstrando interesse em instalar plantas de H2V no Ceará. Atualmente, o governador Camilo Santana (PT) já possui 15 projetos de geração de hidrogênio verde com memorandos assinados.
O último anúncio foi da planta de produção da Cactus, com previsão de construção para início de 2023, capacidade para produzir 10.500 toneladas de hidrogênio e 5.250 toneladas de oxigênio verdes por mês e investimento de 5 bilhões de Euros.
Desde o lançamento do hub de hidrogênio verde, o mercado tem se voltado ao reforço da geração de energia elétrica de fontes renováveis, com destaque para os parques eólicos. Mas o processo de geração de H2V não pode ocorrer sem o fornecimento de grande quantidade de água, que tem a molécula decomposta a partir da injeção de energia elétrica.
Neste processo químico, chamado eletrólise, é gerado o hidrogênio. A classificação da cor – no caso, verde – se dá porque a energia aplicada no processo vem de fontes renováveis. Isso também agrega mais valor ao combustível.
Já na planta de dessalinização de Fortaleza, José Carlos Pontes afirma que a ordem de serviço foi assinada e que pelo próximo um ano e meio a empresa deve focar na fase do projeto. Depois, definidos os equipamentos e demais detalhes técnicos, será a fase de montagem e operação.
No entanto, a Marquise já estuda uma forma de poder capitalizar além do previsto no projeto inicial, de acordo com ele. “O projeto fornecido pelo Estado prevê que o sal volte para água. Mas nós estamos estudando uma maneira de aproveitar esse sal. Vemos a tecnologia e em estudo para ver qual destino”, afirmou, ainda sem definir se o sal gerado será para consumo humano ou outra utilidade.
A usina da Praia do Futuro terá capacidade de 1 um metro cúbico por segundo, o que pode elevar em 12% a oferta de água e beneficiar cerca de 720 mil pessoas nas cidades de Aquiraz, Caucaia, Cascavel, Chorozinho, Eusébio, Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba, Paracuru, Paraipaba, Pindoretama, São Luís do Curu, São Gonçalo do Amarante e Trairi.
O contrato entre a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e o consórcio Águas de Fortaleza foi de cerca de R$ 3 bilhões. A Marquise lidera o consórcio vencedor. Detém 60% de participação do negócio, que é dividido com a PB Construção (30%) e a Abengoa (10%).
Outros projetos na planilha de realizações do Grupo Marquise, segundo José Carlos Pontes, são dois aterros de pequeno porte em Aquiraz e São Gonçalo do Amarante. Este último, de acordo com ele, deve atender ao Porto do Pecém. Perguntado se há possibilidade de aproveitamento do metano como no aterro de Caucaia, ele disse que não pelo porte dos empreendimentos.
“É um investimento muito alto e são dois aterros pequenos, que não é economicamente viável explorar o metano, mas estamos com estudos para outros tipos de aproveitamento, como briquete que dá para utilizar como combustível para indústrias e o material inerte de construção para fabricação de tijolos e outros materiais”, completou.
Perguntado sobre novos investimentos, o executivo citou o lançamento do Vila Nova Conceição em São Paulo, onde ele planeja lançar mais dois empreendimentos de habitação até o fim do ano, no bairro Jardins.