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Ceará é o terceiro estado mais superavitário em relação aos EUA no Brasil
Economia

Ceará é o terceiro estado mais superavitário em relação aos EUA no Brasil

| Balança comercial | Diferença entre exportação e importação é favorável aos produtores cearenses em US$ 342.678.770. Montante corresponde aos negócios feitos entre janeiro e junho de 2025
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EXPORTAÇÕES do Ceará em junho deste ano cresceram, antes do Brasil virar alvo de Trump (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA EXPORTAÇÕES do Ceará em junho deste ano cresceram, antes do Brasil virar alvo de Trump

O tarifaço do presidente Donald Trump sobre o Brasil acendeu um alerta aos empresários cearenses. O motivo está na balança comercial: o Ceará é o estado brasileiro de maior volume proporcional exportado para os Estados Unidos e o terceiro que mais ganha entre importações e exportações.

Ao todo, apenas nos primeiros seis meses de 2025, foram US$ 342.678.770 de superávit a favor dos cearenses - montante calculado a partir dos US$ 556.690.080 exportados e os US$ 214.011.310 importados no período.

Os números demonstram o peso dos negócios com os americanos para a economia local, uma vez que representam 51,9% de todas as exportações e 14,9% das importações feitas por empresas instaladas no Ceará.

Isso faz com que o Estado esteja entre as 16 unidades da federação que possuem superávit na balança comercial com os Estados Unidos. No país, essas relações formam a segunda maior parceira comercial internacional - atrás apenas dos negócios com a China.

O que o Ceará vende para os Estados Unidos?

Mas, antes mesmo de ser ameaçada pelo tarifaço de Trump, a balança comercial cearense expandiu os negócios. Em junho, como atesta estudo elaborado pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (CIN/Fiec), “as exportações cearenses atingiram US$ 301,53 milhões, um crescimento de 11,8% em relação a maio e um salto expressivo de 314,4% frente a junho de 2024”.

“Entre os principais destinos, os Estados Unidos permaneceram na liderança, com 51,9% de participação nas exportações cearenses e crescimento de 184,1% no acumulado do ano”, aponta o relatório sobre importações e exportações do último mês.

O Ceará, na primeira metade de 2025, exportou para os Estados Unidos, principalmente, aço. Foram US$ 237.070.426 em produtos semifaturados de outras ligas de aço e mais US$ 180.545.656 em outros produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado, de seção transversal retangular, que contenham, em peso, menos de 0,25 % de carbono, como descreve a plataforma Comex Stats, do governo federal.

Logo na sequência, o Estado enviou aos americanos pouco mais de uma dezena de milhões de dólares por categoria de produto, incluindo peixes, partes de motores, ceras vegetais e castanhas de caju. Abaixo dos dez milhões de dólares estão calçados, água de coco e outros itens mais tradicionais da indústria local.

“É um sinal vermelho que acende”, observa o economista Eduardo Neves, CEO da Unipar-Br consultoria, uma vez que o aço é o principal item exportado pelo Ceará e que tem nos Estados Unidos o principal comprador.

O executivo recorda ainda que a ArcelorMittal, proprietária da siderúrgica instalada no Pecém e responsável pelo envio de aço aos EUA, possui fábricas em território americano. Esta, insinua Trump na carta ao Brasil, é uma das condicionantes para reduzir os impactos da taxação de 50% sobre as exportações brasileiras aos americanos.

Relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos

Maior exportador também é mais dependente?

Eduardo observa ainda “que a geopolítica está muito sensível, pois o mundo inteiro está envolvido em guerras” - especialmente os Estados Unidos - e qualquer movimento que Trump entenda ameaçar o seu país deve ser motivo para retaliação.

Cesar Ribeiro, diretor de Novos Negócios e Relações Internacionais da Colibri Capital, aponta os três principais riscos para o Ceará neste cenário: dependência de um mercado único, desaceleração dos investimentos e pressão sobre setores específicos.

“A concentração das exportações em um parceiro forte como os EUA pode ser perigosa em contextos de instabilidade comercial. Tarifas elevadas podem gerar retração na demanda americana por produtos cearenses, impactando diretamente a balança local”, analisa, comentando o primeiro risco listado.

Ele observa que, “caso o mercado americano se feche para produtos estratégicos, empresas que operam ou planejam operar no Ceará — sobretudo em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) — podem reavaliar suas decisões de investimento”.

Isso compromete o ritmo da economia local, que ainda pode sofrer mais. “Indústrias como a de calçados e têxteis, que historicamente enfrentam competição acirrada, podem ser diretamente atingidas. Mesmo pequenas variações tarifárias podem alterar significativamente suas margens de lucro”, arremata.

Negociação precisa demonstrar perdas de ambos os lados

Os dois executivos, no entanto, afirmam que é preciso demonstrar a perda tanto dos empresários cearenses/brasileiros quanto e especialmente dos americanos com o tarifaço feito por Trump. Afinal, quanto mais caros forem os produtos vendidos para os Estados Unidos, mais caro ficará o produto final naquele mercado.

A intenção é pressionar o governo americano internamente. A lógica é simples: com o aumento dos preços para os consumidores norte-americanos, a inflação no país sobe e as críticas sobre o presidente também. Impopular e pressionado pelos empresários, Trump pode ceder.

Empresas dos EUA se reúnem com governo Lula para discutir tarifaço de Trump

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Abertura de novos mercados e expansão de parcerias pode ser melhor saída

Ter metade das exportações vinculadas a negócios com a maior economia do mundo não representa mais a segurança de antes e o Ceará precisa pensar em abertura de novos mercados e expansão de parcerias como alternativas para manter a atividade econômica em crescimento. A política internacional mantida pelo governo estadual apresenta ganhos, conectando o Estado com outros grandes mercados internacionais. Há três governos o Estado mantém uma secretaria específica para isso, o que logrou ganhos em áreas estratégicas.

Entre as principais conquistas é observada a parceria do Porto de Roterdã com o Porto do Pecém, ainda no governo Cid Gomes; a captação de inúmeros investidores para hidrogênio verde, na gestão de Camilo Santana; e mais recentemente (abril) uma nova rota marítima para a China e as ainda secretas montadoras do polo automotivo de Horizonte, com Elmano de Freitas.

"O Estado vive um bom momento no comércio exterior, mas o desafio agora é consolidar essa posição com mais resiliência e menor dependência", comenta Cesar Ribeiro, diretor de Novos Negócios e Relações Internacionais da Colibri Capital.

Ribeiro cita Ásia, Oriente Médio e África como potenciais mercados estratégicos para ampliar negócios ou criar novas oportunidades. Nas três regiões, o Brasil possui contatos e parcerias facilitadas via Brics - o bloco econômico criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e ampliado recentemente. Mas Trump também mantém vigilância sobre os negócios desse grupo de países.

"O cenário de mostra cauteloso, pois, nessa queda de braço, os dois (países, Brasil e EUA) vão se machucar. Portanto, é melhor a arte da negociação do que da retaliação. O mercado se mantém internacionalizado e interdependente", sugere.

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