O plenário da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) deve votar hoje o projeto de resolução que pode suspender o deputado estadual André Fernandes (Republicanos) por 30 dias. O processo disciplinar foi inserido ontem na pauta do Legislativo. Curiosamente, hoje faz exato um ano de duração do caso pelo qual o bolsonarista responde, após ter encaminhado denúncia ao Ministério Público do Ceará (MPCE) associando Nezinho Farias (PDT), sem provas, a uma facção criminosa.
Fernandes reforça reiteradas vezes que pediu sigilo ao órgão de investigação, de modo a não danificar a imagem de Farias. Para reverter a tendência de suspensão, ele trabalha com a possibilidade de apresentar o nome da pessoa que levou a denúncia contra o pedetista ao gabinete dele. Foi o que lhe motivou a bradar da tribuna, genericamente, que deputados estariam ligados a grupos criminosos, e depois ir ao MPCE especificamente contra o pedetista. Nos bastidores, o movimento é considerado como uma das últimas investidas para se safar da sanção.
Ele também se dirigiu à 14ª Vara de Justiça, em Fortaleza, para pedir a anulação da sessão de hoje. Porém, Ana Cleyde Viana de Souza, juíza responsável, remeteu os autos da ação ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), uma instância superior. Ela alegou que a Vara não tinha competência para julgar o pedido de Fernandes. O POVO entrou em contato com a Corte Estadual às 21h11min, que respondeu que ainda não havia decisão proferida.
O POVO ouviu de alguns parlamentares que as chances de vitória do bolsonarista são reduzidas. Mesmo os simpáticos a ele consideram que a maioria pela suspensão já está formada. "Ele será punido com certeza", projetou Dr. Silvana (PL). "Eu não voto contra ele por acreditar ser ameaça à democracia, mas já sondei: no voto aberto ele não tem chance alguma."
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Também implicado no Conselho de Ética por discussão com Osmar Baquit (PDT), Leonardo Araújo (MDB) se põe contra a suspensão do colega. Reservadamente, um parlamentar trabalhou com 18 deputados favoráveis ao bolsonarista. Outro, por sua vez, colocou esse número em 14. O deputado necessita de 24 votos para que o ponto final do processo lhe beneficie. O cenário, apesar de adverso, não está definido.
Com maior bancada da Casa, o PDT é fator importante nesses cálculos. O partido tem 12 deputados com possibilidade de definir rumos. Seriam 13 com José Sarto, que preside o Legislativo e, por isso, não vota. À reportagem, Nezinho Farias afirmou que não telefonou para os correligionários no sentido de contar votos, pois está "deixando todo mundo à vontade". Apesar da fala, é sabido que o parlamentar é entusiasta de uma punição ao adversário.
"Por quantos votos vão ser? Não sei. Eu acho que vai ser tranquilo. É uma sessão longa, e eu estou doido que termine. Você estar com o seu nome envolvido com um negócio que não tem nada a ver... Dá vontade de pedir que termine logo", afirmou. E relativizou o fato de haver outros deputados com processos no Conselho de Ética, o que em teoria fortaleceria uma lógica corporativista. Para ele, "cada coisa será uma coisa".
O POVO buscou Fernandes para falar sobre o assunto. Ele não respondeu às mensagens enviadas no celular. A assessoria afirmou que ele deve se pronunciar somente hoje. O líder do PDT na Casa, Guilherme Landim, também não deu retorno à reportagem.