O deputado estadual André Fernandes (Republicanos) buscou O POVO na tarde desta sexta-feira, 14, para projetar o que a Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) lhe reserva num futuro próximo. Embora a data ainda esteja indefinida, há possibilidade concreta de o caso dele ir à votação em plenário na próxima quinta-feira, 20, após série de reviravoltas no trâmite do processo.
“Não estou conseguindo ler. Tem essa mesma matéria impressa?”, perguntou sobre o conteúdo “Votação aberta complica chances de Fernandes”, publicada nesta sexta-feira, 14, por O POVO. E concordou com a avaliação.
Ele disse: “Minha ideia é que hoje tenho aí ligadas a mim 1 milhão de pessoas, não só no Ceará, nas redes sociais, então tem a pressão do povo em cima dos parlamentares, (com) o voto aberto. Eu sei que a chance de a punição ser negada é mínima com voto aberto, até porque o Governo (do Ceará) orienta que me punam, e realmente isso prejudica a questão da votação”, disse o parlamentar.
Mesmo os deputados governistas ainda adotam cautela ao falar do assunto. Alguns afirmam que estão estudando o tema, outros ressaltam o fato de ele ter pedido desculpa ao colega de Parlamento Nezinho Farias (PDT) pela denúncia encaminhada ao Ministério Público do Ceará (MPCE), sugerindo assim que podem favorecê-lo na hora da definição.
Há ainda os que lembram que ele pediu sigilo ao MPCE. Também entram nos cálculos os futuros processos contra deputados de situação, o que reforça a lógica do espírito de corpo. Na perspectiva do bolsonarista, a situação em tese é complicada, mas ainda há indefinição no plenário. A peça apresentada em junho de 2019 e prontamente arquivada relaciona o deputado a uma facção criminosa.
É o tema do processo. Fernandes diz que tem “conversado com alguns” na busca de evitar a suspensão. Outra estratégia será a divulgação do nome das pessoas que encaminharam a denúncia ao gabinete dele, com a qual ele foi ao MPCE. Um aliado já chegou a dizer que "ele mordeu uma isca besta" em razão da "inexperiência". É o que tentará sustentar.
Após questão de ordem levantada por Heitor Férrer (SD) na última quinta-feira, 13, a Casa aprovou por unanimidade a deliberação aberta nos casos envolvendo quebra de decoro. Fernandes justifica que acompanhou os colegas por querer ver o componente da pressão popular influir na definição dos casos dele e dos colegas Leonardo Araújo (MDB) e Osmar Baquit (PDT), que em 10 de março trocaram insultos verbais no plenário e quase entram em confronto físico.
Além do caso envolvendo Bruno Gonçalves (PL), que supostamente aparece em áudio tentando cooptar apoio de opositor do prefeito Roberto Cláudio (PDT) mediante acordo financeiro, inclusive com verbas públicas, porque teria citado o Fundo Partidário na gravação. Há representações contra todos no Conselho de Ética movimentadas pelo Pros de Capitão Wagner e, no caso de Leonardo e Baquit, agora pelo PSD de Domingos Filho.
“Quando chegar na hora da punição, e a votação vai ser aberta, o Nezinho que cobrou aos colegas parlamentares uma punição contra mim por eu ter agredido ele, digamos assim, quero saber como é que vai ficar quando chegar lá no plenário, o Osmar (Baquit), que chamou o Leonardo de batedor de mulher, comprador de voto e vagabundo, eu quero saber se o Nezinho vai se solidarizar com o Osmar que é do mesmo partido e votar contra o Leonardo ou se vai se solidarizar com o Leonardo e vai votar contra o Osmar, que é do mesmo partido”, ele respondeu.
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E emendou: “O (caso do) Bruno Gonçalves, a votação é aberta, e aí a pressão popular é muito maior do que no caso... meu. Que apesar de eu ter bem mais seguidores nas redes sociais, mas é inquestionável que o parlamentar não possa defender corrupção, não pode. Na pior das hipóteses, não pode. E ai, a Assembleia vai estar obrigada publicamente e com voto aberto, a mostrar que vai punir um parlamentar.”
Fernandes reconhece que se apenas o processo dele estivesse no horizonte de discussões do Legislativo, o voto secreto seria a melhor solução. Mas, com outros colegas implicados, nas palavras dele a conclusão é de que a modalidade de voto gerará “fogo no parquinho” do Plenário 13 de Maio.