Deputados estaduais voltaram aos trabalhos presenciais após mais de 120 dias discutindo e aprovando por videoconferência projetos de combate à pandemia do novo coronavírus. O ponto facultativo para servidores se estende até amanhã, 16. No caso dos parlamentares, já foram três sessões sob dinâmica híbrida de trabalho, ou seja, com alguns participando das atividades in loco, enquanto outros, sobretudo os que estão no grupo de risco, a partir dos próprios gabinetes, por vídeo.

Aferição de temperatura na entrada, marcações no chão, totens de álcool em gel, uma porta para entrar, outra para sair, limitações de um assessor por parlamentar em plenário. A imprensa que cobre o cotidiano da Casa, submetida a único teste por meio de amostragem com um cotonete no nariz, do tipo RT-PCT, que investiga a presença ativa do vírus.

Esses repórteres, por sinal, são advertidos a serem objetivos no plenário: entrar, abordar o parlamentar com quem se quer conversar, para já em seguida se retirar.

Enquanto um deputado elogia ou critica o governador Camilo Santana (PT) a partir de uma tribuna, a que resta é higienizada para que o próximo se dirija às bases eleitorais com o anúncio da construção de uma areninha ou com a desconstrução de algum adversário local.

A Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) é mais um desses ambientes que teve a rotina virada do avesso com o conjunto de normas de combate à disseminação do Sars-CoV2. Até o cumprimento entre os pares, antes ao critério de cada um, hoje é resumido a um toque de cotovelos.

A normalidade tenta se impor nos limites do que a ciência permite, algo distante da velha rotina. Liderada pelo presidente da Casa, José Sarto (PDT), a retomada teve colaboração do titular da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Dr. Cabeto, e de Antônio Tanta, epidemiologista e membro do Comitê Científico que auxilia governadores do Nordeste a combaterem o vírus.

Juntos, os três médicos construíram uma série de regras, sendo a obrigatoriedade da máscara de proteção a mais básica delas. Soldado Noelio (Pros), inclusive, fez do equipamento modo de citação indireta ao principal aliado, Capitão Wagner (Pros). Na reabertura da Casa, o parlamentar usou o acessório estampado com o símbolo do Capitão América, herói dos quadrinhos e desenhos que, pela patente, é comumente associado ao pré-candidato a prefeito.

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Mas, como em toda mudança radical, as dificuldades para se adequar às novidades têm se manifestado. Carlos Felipe (PCdoB), Sérgio Aguiar (PDT), Delegado Cavalcante (PSL) e Dra. Silvana (PL), por exemplo, já prescindiram da máscara ao usarem a tribuna. Embora distantes dos demais no momento de fala, são assistidos pela emissora de TV do Legislativo Estadual.

"Poucos deputados vão à tribuna e tiram a máscara. Ali, praticamente está isolado. Não vejo risco que o deputado traga para os demais nesse caso", defende Carlos Alberto Aragão, coordenador do Departamento Legislativo, na AL-CE desde 1981. "O ideal era que todos usassem", ponderou.

E, se antes da pandemia os deputados já disputavam o posto de quem acorda mais cedo para ocupar um lugar na tribuna, a briga com o despertador foi intensificada com uma única sessão por semana. Os primeiros presentes, disse um deles, já podem ser vistos pouco antes de 5 horas nas dependências da AL-CE.

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