O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), teceu críticas contundentes ao presidente da República, Jair Bolsonaro, ao participar ontem de webinário promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, com Dieter Grimm, ex-membro da Corte Constitucional da Alemanha, sobre "Respostas Constitucionais a Retrocessos na Democracia".
Em sua fala, Barroso disse que neste evento estava se sentindo mais à vontade para falar coisas que usualmente não falaria em outras ocasiões e destacou que a democracia do País vem sendo atacada pelo próprio presidente da República - sem citar o nome de Bolsonaro - e seu entorno, mas tem se mantido resiliente pela própria ação da imprensa, que é plural e crítica. "O que contribuiu para a resiliência da democracia brasileira é a imprensa."
A declaração de Barroso ocorre em um momento em que o presidente da República volta a mirar suas baterias contra a imprensa. No domingo, ao ser indagado sobre os cheques de R$ 89 mil de Fabrício Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, Jair Bolsonaro disse ao repórter de O Globo que estava com vontade de "encher" a boca dele "de porrada". E um dia depois dessa agressão verbal, em evento no Palácio do Planalto, o mandatário voltou a atacar a imprensa, usando o termo "bundão" para se referir a jornalistas.
No webinário da Fundação FHC, o ministro Barroso disse que, além da imprensa, setores da sociedade civil também vêm reagindo às manifestações autoritárias do presidente da República e pessoas próximas a ele, que chegam a invocar a tortura e a ditadura militar. "A reação da sociedade brasileira contra todos esses ataques ou movimentos sentidos como ameaças foi vigorosa e isso também mantém a resiliência da democracia brasileira", emendou o ministro.
Barroso disse ainda que devemos estar alertas para atravessar esses tempos difíceis, preservando a integridade da nossa democracia. E citou que, mesmo com um presidente que defende a ditadura e fala em tortura, ninguém considera uma solução (de enfrentamento) diferente do que prega a Constituição e isso é muito positivo para a democracia do País.
Durante viagem a Minas Gerais, ontem, o presidente Bolsonaro foi novamente questionado por jornalistas acerca dos depósitos de Fabrício Queiroz em favor de sua mulher, Michele. "Não tem pergunta decente para fazer", reagiu ele, mais uma vez recusando-se a dar explicações.
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