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Alta da popularidade de Bolsonaro altera estratégias nas eleições de Fortaleza
Reportagem

Alta da popularidade de Bolsonaro altera estratégias nas eleições de Fortaleza

Melhora no desempenho de Bolsonaro embaralha jogo político na capital cearense. Forças em disputa refazem planos
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BOLSONARO tem feito recentes viagens ao Nordeste onde tem buscado mais apoio. A última foi a Mossoró (RN), na semana passada (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República BOLSONARO tem feito recentes viagens ao Nordeste onde tem buscado mais apoio. A última foi a Mossoró (RN), na semana passada

O crescimento na popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alterou as estratégias dos pré-candidatos nas eleições de Fortaleza, principalmente dos grupos reunidos em torno do prefeito Roberto Cláudio (PDT) e do deputado federal e pré-candidato Capitão Wagner (Pros), adversários na disputa.

Dos governistas, a crítica ao opositor, antes concentrada na associação entre o parlamentar e o chefe do Executivo, se deslocou para as ligações de Wagner com os policiais amotinados em janeiro no Ceará e a inexperiência em cargos de gestão.

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A mudança tem justificativa: segundo pesquisa do Datafolha divulgada há duas semanas, Bolsonaro passou de 27% para 33% de popularidade no Nordeste, enquanto sua rejeição despencou de 52% para 35% na região onde, apenas dois anos antes, não venceu em nenhuma capital - na cearense, sequer teria chegado ao segundo turno. A tendência, sugere o levantamento, é de aumento na aprovação.

No mesmo período compreendido pela sondagem, o presidente fez três viagens a estados nordestinos, uma delas ao Ceará para inaugurar trecho das obras de Transposição do Rio São Francisco, no fim de junho. A quarta foi na sexta-feira última, 21, quando chegou ao Rio Grande do Norte.

(Comunidade de Angélica- Ipanguaçu - RN , 21/08/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro, acompanhado de moradores da comunidade, se molham nas águas do poço artesiano..Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
Foto: sac Nóbrega/Presidência da República
(Comunidade de Angélica- Ipanguaçu - RN , 21/08/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro, acompanhado de moradores da comunidade, se molham nas águas do poço artesiano..Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República

Aliado de Bolsonaro, Capitão Wagner não se esquiva mais das tentativas de ligá-lo ao ex-militar. Em conversa com O POVO, o pré-candidato disse que "as estratégias deles (dos pedetistas) estão caindo por terra" e que "estão procurando alguma ferramenta para tentar diminuir nossa popularidade".

Uma delas, avalia o deputado, é essa vinculação com Bolsonaro. Sobre isso, Wagner admitiu esperar "que o Governo Federal acerte mais para a popularidade melhorar pelo bem do país, não só para que isso possa refletir na eleição em Fortaleza".

Instado a dizer se acredita que essa melhora pode beneficiá-lo na corrida ao Paço, respondeu que "eleição municipal tem uma pauta muito local". E citou exemplo da deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins (PT).

"O próprio O POVO já mostrou o caso da Luizianne em 2005, em que o Lula apoiou Inácio (Arruda, do PCdoB) e a cidade demonstrou que não segue o conselho de forma cega do gestor federal", avaliou. "Estou muito tranquilo, focando na eleição, no nosso time e no plano de governo."

Um dos cinco prefeituráveis do PDT e colega de Wagner na Câmara dos Deputados, Idilvan Alencar relativiza a recuperação de Bolsonaro na pesquisa e seu possível efeito nas eleições.

"Esse crescimento é bem localizado. A gente sabe que são as pessoas que estão no auxílio emergencial. É preciso contar a narrativa correta", defende. "A narrativa correta é que o governo queria um auxílio de R$ 200 por três meses, o Congresso queria R$ 500, e então chegou-se a R$ 600."

Além da postura do Planalto nesse episódio, o deputado trabalhista sugere maior exposição da conduta de Bolsonaro durante a crise sanitária causada pela Covid-19. "Essa posição dele em relação à pandemia também precisa ser explorada fortemente, contando esse negacionismo do presidente enquanto líder do país e essa quantidade de mortes", aposta.

Feito isso, prossegue Idilvan, "se dissolve esse crescimento, que ainda é muito baixo se a gente pegar outros presidentes com dois anos de mandato".

(Comunidade de Angélica- Ipanguaçu - RN , 21/08/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro cumprimenta e posa para fotografia com os moradores de Ipanguaçu..Foto: sac Nóbrega/Presidência da República
Foto: sac Nóbrega/Presidência da República
(Comunidade de Angélica- Ipanguaçu - RN , 21/08/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro cumprimenta e posa para fotografia com os moradores de Ipanguaçu..Foto: sac Nóbrega/Presidência da República

Presidente do PDT no Ceará e deputado federal, André Figueiredo minimiza a performance de Bolsonaro e seu virtual impacto no pleito de 2020. Questionado a respeito, o pedetista opinou: "É um efeito circunstancial do auxílio emergencial que nós, o Parlamento, aprovamos".

Na prática, todavia, os potenciais candidatos do PDT já mudaram de tom. Sinal disso foi dado pelo secretário licenciado Samuel Dias. "Como é que um grupo que paralisa o comércio da cidade quer colocar uma candidatura para prefeito?", perguntou em entrevista à Rádio O POVO CBN na última quinta-feira, 20, referindo-se aos PMs amotinados.

O pedetista continuou: "O prefeito não é aquele que tem que garantir os serviços públicos, a segurança das pessoas, o direito de ir e vir? Como alguém que apoia uma greve de ódio, um motim que põe em risco as vidas, pode querer ser prefeito?".

Um dia depois, Wagner retrucou, também em conversa nas plataformas do O POVO: "Não faz o menor sentido estar em primeiro lugar em qualquer pesquisa e promover um movimento que venha a prejudicar a população e que prejudicou os próprios policiais".

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