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O que os viajantes buscam no turismo pós-pandemia
Reportagem

O que os viajantes buscam no turismo pós-pandemia

Pesquisa da Matcher/Opinion Box apontou que nada menos que 78% dos entrevistados pretendem viajar nos próximos 12 meses. 19% ainda não decidiram e apenas 3% disseram não ter a intenção de viajar nesse período. Mas para onde deve ir tanta gente ávida por conhecer novos (ou velhos) lugares?
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capa Novo Turismo (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES capa Novo Turismo

 

 

Como será o turismo em 2026? E em 2031? É possível que algumas dezenas de bilionários estejam fazendo viagens orbitais pela Terra, assim como fizeram quatro turistas a bordo da “excursão” Inspiration4, da SpaceX, entre os últimos dias 15 e 18 de setembro.

Contudo, para 1,5 bilhão de pessoas que viajaram ao redor do mundo em 2019, ano imediatamente anterior à pandemia, e para os novos viajantes, a expectativa é de voltarmos a vivenciar experiências semelhantes às anteriores à crise sanitária.

Ou talvez só um pouco diferentes. A própria pandemia acelerou processos que vinham se desenvolvendo em ritmo mais lento antes dela, incluindo novas modalidades de negócios e novos hábitos relacionados ao turismo e até novos destinos. Algumas tendências já começam a ser observadas nesse período de retomada de atividades, por quem trabalha ou desfruta dessa cadeia produtiva.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Fabiano Camargo, uma das mudanças mais imediatas para o setor é o esvaziamento do turismo de excursão ou em grandes grupos, justamente uma consequência da valorização da viagem em família. “As pessoas anseiam por esse tipo de viagem e também estão mais confiantes em voltar ao exterior. Apesar disso, o Brasil continuará sendo muito procurado pelo turista doméstico e também internacional”, projeta.

E por falar em ansiar, segundo pesquisa da Matcher/Opinion Box nada menos que 78% dos entrevistados pretendem viajar nos próximos 12 meses. O índice representa um aumento de 18 pontos percentuais em relação aos que viajaram durante a pandemia. Outros 19% ainda não decidiram e apenas 3% disseram não ter a intenção de viajar nesse período. Mas para onde tanta gente ávida por conhecer novos (ou velhos) lugares deve ir?

 

 

Destinos que se consolidam ou que retornam

Com a forte desvalorização do real frente ao dólar e ao euro, o turismo internacional tende a ser uma opção restrita, quase exclusivamente, ao turista de alto poder aquisitivo.

Ao longo das últimas semanas, vários países como Argentina e Estados Unidos anunciaram a reabertura das fronteiras para os brasileiros. Outros destinos, notadamente na Europa, relaxaram algumas das exigências feitas a quem queria sair daqui para o Velho Continente.

Apesar disso, segundo operadores de turismo, as viagens domésticas devem se manter fortes, tanto alimentadas pelo viajante de menor renda, como pelo processo de “descoberta” do Brasil por turistas das classes mais altas, que se viram impedidos de ir ao Exterior durante o período mais agudo da pandemia de Covid-19.

A ‘head’ de novos negócios da Tour House para o Norte-Nordeste, Camila Fernandes, destaca que “o Brasil ganhou muito com isso. Os maiores destaques na pandemia foram Gramado, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. Os três primeiros eram destinos que já eram fortes antes da pandemia, mas a capital mineira cresceu muito na preferência dos jovens e, também, como porta de entrada para quem quer visitar as cidades históricas de Minas Gerais”.

Outra característica observada pela executiva nesse processo de retomada é a lenta recuperação do turismo corporativo, que só deve voltar plenamente em 2022 ou 2023. “Embora perdendo força em relação ao presencial, as empresas devem manter o modelo híbrido por mais tempo, mas em termos de congressos, por exemplo, já tem muita coisa fechada para os próximos dois anos”, avalia.

Por sua vez, a gerente de comunicação e marketing da Wee Travel, Barbara Redes, destaca outra tendência nesse processo de retomada e que deve seguir no pós-pandemia: os cruzeiros de menor porte para a Amazônia. “Já os cruzeiros de grande porte têm se preparado para retornar também, mas trabalhando em protocolos sanitários reforçados”, acrescenta. Ela ressalta, por fim, a força do destino Fortaleza.

E por falar novamente em destinos, países como Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Espanha e França devem continuar entre as primeiras opções dos turistas brasileiros, mas países que se abriram mais durante o período pandêmico, tais como o México, o Egito e os Emirados Árabes devem se consolidar como destinos fortes nos próximos anos.

 



 

 

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O Turismo vai mesmo voltar?

Por Alexandre Lima*

Alexandre Lima(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Alexandre Lima
O turismo foi brutalmente impactado pela pandemia, afetando diretamente pelo menos outros 50 setores, como transporte, alimentação, hospedagem, eventos, logística dentre outros que compõem a cadeia turística. Este cenário, intitulado de “novo normal”, implicou em mudanças no modo como todos os produtos turísticos são oferecidos ao público.

Com muitas fronteiras internacionais fechadas, as pessoas redescobriram o Brasil, o estado em que moram optando por viagens domésticas, viagens de carro, momento em que a procura por lugares próximos aumentou consideravelmente. Em especial, os meios de hospedagem se adaptaram para oferecer mais segurança aos hóspedes. O turismo deve ser o motor impulsionador para ajudar a recuperação da economia no pós-pandemia no Brasil uma vez que sempre foi um setor tido como promissor tanto pela geração de empregos e de renda como pelo alto potencial de crescimento que ainda tem no País.

Graças ao avanço da vacinação, já é possível observar um retorno gradual em buscas por viagens, um maior fluxo de voos e uma ocupação na rede hoteleira. E o turismo vai voltar? A resposta é sim!

Existe uma enorme demanda reprimida de quase dois anos que está ansiosa para poder carimbar o passaporte novamente. Porém é preciso atenção aos dados econômicos, especialmente às altas cotações das moedas estrangeiras, o que irá fazer com que, por enquanto, as pessoas continuem optando por destinos nacionais ou ainda, destinos internacionais mais acessíveis economicamente falando. Estima-se que a retomada do turismo seja ascendente contudo a passos lentos e leve alguns anos para atingir o patamar em que estava no período pré-pandemia.

Estamos esperançosos em relação ao mercado que cada vez mais começa a apresentar números crescentes e otimistas com a abertura das fronteiras da Argentina e dos Estados Unidos em outubro e novembro, respectivamente, além de vários países da Europa que já reabriram.

*Professor de Turismo da Estácio Ceará

 

 

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Um vírus não pode matar nossa liberdade

Por Fábio Monteiro*

Fábio Monteiro          (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Fábio Monteiro
O desejo básico de qualquer viajante é ter liberdade. Queremos nos sentir livres para explorar o mundo. Queremos aproveitar o fato de estar longe das “prisões” cotidianas para ter experiências diferentes, para conversar com estranhos, para dançar na praia, ou para fazer o que der na telha. Viajar é – em si mesmo – um ato de liberdade. E é exatamente por conta disso que protocolos rígidos de higiene e distanciamento social não conseguem ter aderência às atividades turísticas.

Ainda assim, muitos especialistas do setor afirmam que as regras anticovid irão se impor por longos anos na esfera do turismo. Mas, sinceramente, não consigo identificar pistas concretas de que isso vai se realizar. É só você passar um fim de semana em Jericoacoara pra perceber que essa tese não tem respaldo na realidade. Muitos turistas não usam máscaras, não respeitam o distanciamento social, e dão de ombros pra protocolos de higiene. E isso acontece não só na Duna do Pôr do Sol, mas também na Champs-Élysées, na Quinta Avenida, nas praias de Cancún, e em qualquer zona turística da Terra.

Particularmente, acho que esse tipo de comportamento não se origina na falta de educação ou de respeito dos viajantes. Também não acho que todos sejam negacionistas, ou apoiadores de partido A ou B. Pra mim, tem mais a ver com a própria natureza da atividade turística. As pessoas viajam, sobretudo, pra se sentirem livres! Sempre foi assim e sempre será assim. A primeira frase deste texto é uma máxima, imune aos ataques de qualquer vírus.

Por isso, acredito que viagens cheias de restrições, regras e protocolos nunca se tornarão o “novo normal” simplesmente porque vão de encontro à essência do que significa viajar. Testes PCR, passaporte de vacinação, quarentena ao desembarcar, tudo isso faz parte de uma fase transitória, que vai se manter até atingirmos o pleno controle da pandemia. Felizmente, as vacinas chegaram e os números comprovam que elas estão funcionando. Isso indica que, num futuro próximo, nós poderemos voltar a viajar como antigamente... com a liberdade total, que é almejada por todo viajante!

* Jornalista especializado em Turismo e criador do canal Viajante Independente

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