O acesso a recomendações sobre as melhores oportunidades no mercado financeiro chegou a um novo patamar com o avanço da Inteligência Artificial (IA) Generativa. Plataformas e apps já respondem de forma online a questões como qual empresa paga melhores dividendos neste ou naquele setor ou quais companhias mais sólidas que nunca deram prejuízo.
Parece simples, mas a aposta do mercado é que esse movimento contribua para o maior passo rumo à popularização do mercado financeiro no Brasil.
De acordo com dados consolidados, em 2022, os Estados Unidos tinham cerca de 58% da população investindo em ações, ou seja, cerca de 145 milhões.
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Já na Bolsa de Valores Brasileira (B3), o número de investidores pessoa física no Brasil chegou a 5,69 milhões no cálculo atualizado até 2 de dezembro. O mercado local representa apenas 3,9% dos Estados Unidos.
“Entre as 106 mil pessoas que estrearam em renda variável na B3 apenas no mês de setembro de 2022, 31% fizeram seu primeiro investimento com valores de até R$ 40 e, outros 29%, entre R$ 40 e R$ 200. Isso reforça que mais brasileiros têm descoberto que é possível começar a investir em renda variável com tíquetes de entrada menores e têm buscado experimentar novas opções, com vistas a ganhos maiores no longo prazo”, destaca relatório da B3.
Esse movimento ocorre ao mesmo tempo em que há uma maior democratização do acesso à internet. Total de 156 milhões de brasileiros afirmam ter acesso, o que equivale a 84% da população, conforme a pesquisa TIC Domicílios 2023, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
Em 2022, esse índice era de 81%. Mais da metade (58%) acessam a internet apenas pelo celular, e 26% dos domicílios têm conexão com velocidade de até 50 Mbps.
Dentro deste cenário, além da conexão e descobrimento das opções de investimento em ações mesmo com tickets menores, outras importantes inovações digitais vêm se popularizando, como o uso da IA. As aplicações são diversas, mas agora o mundo dos investimentos vem sendo chacoalhado com as possibilidades trazidas.
Na onda da popularização do Chat GPT, a startup BHub, anunciou em dezembro o FinChat GPT, um assistente virtual desenvolvido em IA que funcionará como controller financeiro.
Aliado ao Telegram e ao OpenAI, o FinChat GPT deve ter interface conversacional que dará acesso a informações vitais, sendo possível pedir à plataforma análises de resultados trimestrais e mensais de empresas, por exemplo.
Os investimentos de corretoras em IA já vem de alguns anos. Uma das que se destaca nesse movimento é a XP.
Em 2019, a empresa adquiriu participação na fintech Olivia, criada no Vale do Silício por dois brasileiros e focada em IA. Um dos frutos da parceria foi a criação do assistente Max.
O foco com a parceria é usar das expertises das empresas para promover maior acesso ao mundo dos investimentos de forma facilitada.
A intenção é permitir que os clientes tenham recomendações personalizadas de produtos financeiros, de acordo com perfil e capacidade de aporte de cada pessoa.
Diego Darrigo, sócio e assessor de investimentos da Messem Investimentos, destaca que esse movimento da XP elevou o nível de uso da IA nas corretoras e a diversidade de inovações aumentou.
"As inovações tecnológicas que temos visto, principalmente no mercado brasileiro, vem sendo de extrema importância para maior alcance do mercado de capitais. O exemplo da XP é revolucionário e quebra paradigmas junto ao investidor", diz.
Para o doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas, Vivaldo José Breternitz, em meio aos lançamentos de inovações, há uma empolgação natural, mas é preciso fazer um alerta.
Segundo Vivaldo, o processo de popularização e desenvolvimento de IA é algo muito promissor, mas ainda não é maduro o suficiente para ser usado sem maiores cuidados.
"Acredito que as empresas devem caminhar com cuidado neste começo. Mas a IA Generativa tem uma capacidade de processar informações muito maior do que uma pessoa", ressalta.
Por isso, há espaço no mercado financeiro para IA, mas não acredita que o tato humano na análise possa ser substituído imediatamente, até porque existem no mercado posições especulativas, por exemplo.
O QUE SIGNIFICAM OS TERMOS?
Inteligência Artificial Generativa
É uma tecnologia capaz de aprender padrões complexos de comportamento a partir da análise de uma base de dados. São exemplos desse tipo de tecnologia o Chat GPT e DALL-E, que conseguem reproduzir conteúdos e até gerar novas informações de maneira quase original a partir de "treinamento". É possível uma evolução constante do "aprendizado" sem necessidade de programação humana.
Machine
Learning
Em tradução literal, significa aprendizagem de máquina. A técnica está ligada diretamente ao desenvolvimento da inteligência artificial. São sistemas que aprendem e melhoram de desempenho com base nos dados que consomem.
Big
Data
O termo surgiu em 1997, inicialmente utilizado para definir os conjuntos de dados não ordenados em rápido crescimento. Hoje é a área tecnológica que trata, analisa e obtêm informações a partir de conjuntos de dados muito grandes.
BC
Projeções feitas pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, mostram que a IA vai começar a ser mais utilizada para "melhorar a vida das pessoas" em até dois anos, com a conclusão do processo de modernização do sistema financeiro do País