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Agro tecnológico: Ceará possui 5º maior potencial de conectividade rural do País
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Agro tecnológico: Ceará possui 5º maior potencial de conectividade rural do País

| Indicador | Estado demonstra força, mas ainda precisa superar desafios para fazer com que as iniciativas sejam mais presentes na realidade local, conectando os pequenos produtores
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Equipamento usado na conexão da lavoura (Foto: Arquivo 3V3 Tecnologia/Divulgação)
Foto: Arquivo 3V3 Tecnologia/Divulgação Equipamento usado na conexão da lavoura

Destaque nacional na cobertura 5G e exemplo de expansão da fibra óptica no País, o Ceará foi apontado como a unidade da federação com o 5º maior potencial do Brasil - e o 2º do Nordeste - no Índice de Conectividade Rural (ICR) de 2025. Medido em 0,612 pontos - em uma escala que vai até 1 -, o ICR demonstra força nas telecomunicações e também crescimento do Estado no agronegócio.

Justos, estes dois setores podem expandir os potenciais mutuamente e contribuir para a economia local. O monitoramento de plantações com dados enviados em tempo real a computadores com softwares adequados para ler as informações e indicar as melhores decisões são os exemplos mais comuns, como cita Paola Campiello, presidente da ConectarAgro.

A associação é a responsável pela elaboração do ICR e reúne gigantes dos setores de telecomunicações - como a TIM, a Nokia e a AWS - e do agronegócio - a exemplo da New Holland, a AGCO e a Sol by RKZ - em iniciativas que promovem conexão de lavouras pelo Brasil e defendem a criação de políticas públicas voltadas à promoção da tecnologia no campo.

Essas empresas promovem iniciativas, principalmente, no cultivo de grãos, onde os produtores rurais promovem a conexão a partir de redes privativas de tecnologia 4G ou até 5G.

“Mas aí a gente imagina um pequeno produtor que pode começar a fazer um aprimoramento, um letramento digital. Isso vai mudar completamente a maneira como ele se relaciona com a região, quanto fora dela. São inúmeras as ideias e, a médio prazo, o produtor vai realmente ter no bolso dele uma economia e poder vender muito mais e produzir muito mais”, afirma Paola.

O potencial cearense

Neste cenário, o Ceará tem muito a ganhar, segundo ela. O Estado não possui condições de clima e solo para ser grande produtor de grãos e tem na fruticultura o principal investimento agrícola. Nesse recorte, especificamente, os pequenos produtores são maioria e podem, ao fazer uso da tecnologia que as telecomunicações trazem, ser mais assertivos no cultivo.

A participação do agro na economia local, inclusive, foi um dos motivos para que o ICR cearense chegasse ao top 5 do País. Juntamente com as condições de conexão já reconhecidas no País.

“Os principais pontos que vimos para aumentar o ICR do Ceará foram o aumento dos cadastros ambientais rurais no Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) e a ampliação da malha de cobertura de telefonia móvel 4G”, explicou Bruno Giorgi Palmieri, representante da TIM e diretor da ConectarAgro.

 

 

Na conta que elabora o índice, a associação considera "aspectos produtivos, sociais, ambientais e de infraestrutura intrinsecamente associados à conectividade rural". Desde o leilão 5G, o Ceará teve os números de cobertura ampliados com bastante velocidade.

Hoje, o Estado conta com um total de 4.872 antenas de telefonia móvel em operação, das quais 4.421 são da tecnologia 4G - apropriada para a conexão das propriedades rurais e uso na instalação de equipamentos que auxiliam a produção.

Média de conexão ainda é baixa no Brasil

No entanto, este número não ajuda no objetivo de conectar os pequenos produtores rurais, segundo a presidente da ConectarAgro e, apesar de ter um dos maiores índices de conectividade rural do País, o Ceará não conta com experiências que conectam o agro na prática e contribui para a baixa média de conexão nacional.

Atualmente, apenas 33,9% da área disponível para uso agrícola no Brasil conta com cobertura 4G ou 5G. Outro agravante, no caso do Ceará, é que o sinal disponível está, na maior parte dos casos, nas regiões Sul e Sudeste.

Isso se dá porque a exigência dos leilões de conexão, tanto 4G quanto 5G, exigem a conexão das sedes dos municípios e, no caso mais recente, de algumas rodovias. Com isso, as propriedades rurais, na maioria das vezes localizadas fora dos perímetros urbanos, continuam sem conexão.

Políticas públicas e recursos

Na tentativa de ampliar as possibilidades, o ConectarAgro defende mais políticas públicas voltadas ao produtor rural e o uso do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para levar sinal 4G ou 5G às lavouras.

“É informação pública: a gente só teve 0,7% do Fust usado para seu devido fim até agora. Ou seja, tem mais de R$ 1 bilhão parado no Fust. Por que não pode ser utilizado para implementar a cobertura nas áreas rurais? Isso que eu não entendo, afinal, 90% do que a gente consome hoje no país é produzido pelos pequenos produtores”, provocou.

A associação, no entanto, não faz parte do comitê gestor do Fust e usa da interlocução das empresas com o poder público para destravar os recursos ao mesmo tempo que estimula os acordos entre as empresas para maior conexão no campo.

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Equipamento usado na conexão da lavoura
Equipamento usado na conexão da lavoura

Fruticultura irrigada impulsiona conexão no agronegócio cearense

Sem redes 4G ou 5G em uso pelo agronegócio mapeadas pela ConectarAgro, o Ceará conta com a internet a rádio como principal aliada dos produtores que buscam aplicar tecnologia e melhorar a produtividade. É o que conta Michel Freire, CEO da 3V3 Tecnologia, que aponta a fruticultura irrigada como principal impulsionador do negócio.

Ele trabalha com automação e sensoriamento agrícola em lavouras do Ceará, do Rio Grande do Norte e também de São Paulo. Com os cearenses, a 3V3 automatiza a irrigação, principalmente, de plantações de melão e banana, mas atua também com laranja, uva e café.

Na prática, as equipes conduzidas por Freire montam uma rede particular de internet a rádio que conecta os equipamentos instalados próximos à plantação à sede das fazendas. Assim, as leituras de dados e comandos com medidas de nutrição e horários da irrigação são efetuados sem qualquer interferência.

Perguntado sobre a realidade local para o uso de redes de telefonia móvel para aplicação em áreas rurais, ele disse não ver demanda dos produtores para o tipo de tecnologia, principalmente por considerar o custo de levar o sinal para as áreas afastadas, onde está a produção, muito elevado. "Há um investimento muito alto para expandir a parte de comunicação. Por outro lado, enxergo com bons olhos a perspectiva futura da internet via satélite. Então, eu acho que isso chegaria em um horizonte de cinco anos."

Já a ConectarAGRO diz entender "que a conectividade significativa rural é viabilizada pela tecnologia 4G LTE, por ser uma tecnologia barata e interoperável para sensores e celulares conectados" e descarta os satélites justamente pelo alto custo citado por Freire.

"Nesse contexto, a conectividade satelital funciona como meio de ligação à internet (backhaul), não como direta conectividade significativa de pessoas (celulares) e campo (Iot para máquinas e sensores)", completa.

Ao O POVO, o Sistema Senar/Faec, que acompanha e representa os produtores rurais do Estado, afirmou que está atento ao tema. Além da realização de capacitações para inclusão digital dos produtores, em abril deste ano, foi lançado o Vaqueirinho do Senar, uma inteligência artificial que interage com o produtor rural cearense por meio do WhatsApp, para tratar das atividades de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG).

Equipamento usado na conexão da lavoura
Equipamento usado na conexão da lavoura

Participação de provedores regionais é decisiva

Mesmo com a defesa de ter nos sinais móveis os prioritários para a conexão, a ConectarAgro aponta os provedores regionais como decisivos na ampliação das redes para os produtores rurais.

"O nosso país é muito grande. A gente precisa de um provedor ISP (empresa que fornece acesso à internet para usuários). Óbvio que quando é possível, utiliza-se torre e dá para fazer radiação de uma torre para outra. Mas tem muitos lugares que não dá e a gente tem uma quantidade enorme de provedores que fazem com que seja possível ter o agronegócio conectado", afirma Paola Campiello, presidente da ConectarAgro.

O entendimento se dá tanto pela proximidade destes negócios com as comunidades locais quanto pelo uso da rede de fibra óptica ser usada como conectora das antenas de telefonia móvel. "Como o Ceará tem muitos provedores regionais e os proprietários dessas empresas são parte dessa comunidade, então, eles têm um esforço muito maior para poder realizar essa conexão", Aristóteles Dantas, conselheiro da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).

No Estado, o fornecimento de banda larga fixa tem nos pequenos provedores agentes cruciais do mercado de telecomunicações. Somadas, estas pequenas empresas dominam 34,9% do mercado local, com forte presença nas áreas mais afastadas e que são próprias da produção rural.

Aristóteles confirma esse peso e endossa o pedido de mais recursos para que essa conexão rural seja promovida com mais força no Nordeste, onde os pequenos provedores possuem maior atuação.

Dantas explica que o investimento no setor segue elevado, com a modernização dos equipamentos exigindo trocas a cada cinco anos em média e ainda há o custo do aluguel dos postes somado à equação que viabiliza a chegada de internet nos lugares mais ermos do País.

"É nessa linha que a Abrint tem se posicionado para que os fornecedores regionais possam ter acesso a subsídios para poder levar uma conectividade melhor. Porque, em alguns lugares, vai existir a conectividade em fibra óptica, mas eu acredito que mais de 50% ainda é via rádio, que é um problema para velocidade. Está conectado, mas tem limitações", diz.

ICR

O ICR ajuda a identificar as regiões que mais precisam de investimentos em conectividade, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico dessas áreas

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