São tempos em que voltamos a nos cobrar muito mais, enquanto humanidade, sobre esse tal valor chamado paz!
Substantivo feminino: é poderosa, protetora, protagonista, valente. E, paradoxalmente, também violentada, atacada, renegada e rejeitada. Tentam diminuí-la porque sabem de sua grandeza. Na sua infelicidade e rotina de pancadas sofridas, a paz grita, estende a mão e pede socorro. E ainda lhe fazem ouvidos moucos.
O mundo está aí, inflamável, explosivo, cheiro de pólvora, respingando sangue, corpos sendo empilhados. Beligerantes, indóceis, inclementes, tapados, são alguns senhores assim que têm conduzido as decisões a partir de suas intransigências e interesses. Se movem por moedas. Quanto custa a paz? É menos que uma guerra? Então que se crie um conflito.
Paz é o mesmo que concórdia, harmonia, tranquilidade, ausência de conflitos, calmaria. É sinônimo de tudo o que representa civilidade, senso de coletivo, respeito, igualdade, justiça, liberdade, espiritualidade, dignidade. Conceitos basilares do viver. Mas é essa paz que está precisando ser resgatada, reavivada, ressignificada, reconduzida ao andor de nossas orações e à tarefa de nossas agendas.
A partir de tudo o que testemunhamos neste 2023, desde janeiro até agora, é preciso falar ainda mais sobre paz. Que se mede também quando um prato está com comida, na decência de um teto para todas as pessoas, no direito ao emprego, no acesso à saúde, no respeito às leis, no bom debate de ideias e no não à confirmação de ódios.
Temos guerras em andamento, hospitais bombardeados, mísseis lançados contra imóveis residenciais, intransigências sustentadas por argumentos cínicos. E isso não é nada diferente de quem usurpa cofre público, de quem restringe assistência médica, de quem cobra dívidas a juros estratosféricos ou de quem vai a um estádio para digladiar aos bofetes nas ruas ou nas arquibancadas.
A falta de paz está num terreno minado, em tiros disparados, ou nessas pequenas coisas que fazemos para estragar o mundo. É a desavença extrema ou essa prática diária.
Podemos divergir, ter outra cor ou etnia, outra origem, rezar diferente, ser homo ou hétero, o que for e quiser. As diferenças também podem conviver pacificamente. São clichês que precisamos alimentar.
Assim como a também tal felicidade, paz não vem num só instante, num único recorte que se encerra, "pronto, sou feliz", "enfim a paz". Não é assim. São obras de vários momentos. Vêm aos poucos, em pedaços, fracionadas. Ainda não sabemos ser felizes. Nem ter paz.
Neste especial de Natal, publicado hoje nas suas plataformas, O POVO juntou escritos que discutem a paz em várias frentes. No futebol que sacode tantas emoções, nos conflitos políticos que vão além das siglas partidárias, no que atinge o seu bolso diariamente, no que o mundo está sendo desafiado e em quais oportunidades pode-se agarrar, na palavra de um novo líder religioso recém-acolhido e que dará o novo norte para a Igreja Católica local.
Podemos pensar e exercitar a paz a partir destas palavras. Como diz Ailton Krenak, o primeiro indígena a assumir como imortal da Academia Brasileira de Letras, precisamos buscar ideias para adiar o fim do mundo.
Leia mais
Dom Gregório Paixão: Embalado por braços de ternura
Paula Vieira: Política, conflitos e consensos: há lugar para a "paz"?
Lucas Leite: Desafios e oportunidades para o mundo em 2024
Ricardo Coimbra: Paz para seu bolso! O que esperar de você e do mercado?
João Paulo Silva: Que o futebol seja instrumento de paz
Demitri Túlio: Paz!