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Raros tons de verde: o que resta das áreas ambientais de Fortaleza
Reportagem Seriada

Raros tons de verde: o que resta das áreas ambientais de Fortaleza

Pesquisas da UFC mapearam a degradação ambiental em Fortaleza e ajudam a entender o que sobrou de verde e azul na Capital. Em relação às áreas verdes, a Capital já perdeu 83,7% da vegetação nativa. No bairro Cidade dos Funcionários, moradores lutam para proteger uma ZPA abandonada que vive há anos esquecida pelo poder público
Episódio 3

Raros tons de verde: o que resta das áreas ambientais de Fortaleza

Pesquisas da UFC mapearam a degradação ambiental em Fortaleza e ajudam a entender o que sobrou de verde e azul na Capital. Em relação às áreas verdes, a Capital já perdeu 83,7% da vegetação nativa. No bairro Cidade dos Funcionários, moradores lutam para proteger uma ZPA abandonada que vive há anos esquecida pelo poder público Episódio 3
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O cenário é verde durante a quadra chuvosa. A água cai e perfura o chão, colorindo a vegetação. A nascente corre silenciosamente em direção ao rio Cocó, a alguns quilômetros dali. No céu, carcarás e jandaias amanhecem cantando um som agudo, mas preenchido e vivo.

Parece a descrição de outra cidade, mas é Fortaleza: na Zona de Proteção Ambiental (ZPA) Olho D’água, no bairro Cidade dos Funcionários. Marcada pela densidade da vegetação, o local não esconde o cercado urbano.



A área é um retrato dos ecossistemas remanescentes da Capital. Pressionados e sufocados pela cidade em eterna expansão, os tons de verde de Fortaleza lutam para seguir visíveis no meio urbano, enquanto protegem fauna e flora originárias, os verdadeiros donos da terra saqueada.

 

 

De dunas a mangue, Fortaleza perdeu quase 84% da vegetação original

A capital cearense é composta por áreas de mangue, restinga, dunas e caatinga. A configuração da Capital é diferente do restante do Estado, explica Marcelo Moro, professor do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Ceará (UFC). “A influência da caatinga começa apenas na divisa com Maracanaú e Itaitinga. E, mesmo assim, ainda numa área transicional”, disse.

Na pesquisa Tão verde quanto possível, orientada pelo professor e realizada em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a mestranda Laymara Xavier Sampaio, mestranda do identificou que Fortaleza perdeu 83,7% da cobertura vegetal nativa.

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da UFC, Laynara analisou as geometrias da Cidade e identificou as áreas verdes, assim como a eficiência nas Unidades de Conservação remanescentes.

Ela forneceu os arquivos abertos ao O POVO+, que montou o mapa interativo abaixo. A pesquisa também é assinada por Maria Elisa Zanella, Maria Ligia Farias Costa, Liana Rodrigues Queiroz e Manuella Maciel Gomes.

 

Mapeamento das áreas verdes remanescentes em Fortaleza. Estão incluídos qualquer respiro verde, protegido ou não

 

A metodologia resultou em números exatos. O que já era visível a olho nu ganhou uma quantificação da perda de 83,7% da cobertura vegetal nativa.

Comparação entre a área degradada e a área remanescente revela uma grande discrepância. O vermelho - cor atribuída ao urbano - parece um mar sobre o território fortalezense, em comparação com o verde, que busca espaço.

 

Área verde equivale a cerca de 16% do território de Fortaleza

 

Laymara afirma que os resultados refletiram, mais ou menos, o esperado pelos pesquisadores. No entanto, celebrou, em partes: “Foi interessante ver que algumas unidades de conservação, as Arie, mantêm um nível bom de preservação”.

“Claro, alguns pontos dentro dos Parques estão degradados. Não sabemos se antes ou depois da demarcação. De qualquer forma, é preciso controlar a urbanização”, disse.

Laymara Xavier Sampaio é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema)(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Laymara Xavier Sampaio é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema)

Boa parte de Fortaleza é de vegetação costeira, que inclui vegetação de campo praiano. Há ainda os campos de dunas: divididas em dunas móveis e dunas vegetadas. Estas últimas ainda podem ser de vegetação campestre e ou mesmo em florestas.

“Atrás” dos campos, vêm os tabuleiros costeiros, com boa parte em “uma superfície chamada formação barreiras”. “Temos também áreas de florestas com porte bem elevado, áreas de manguezal no estuário dos rios, e até savana - que encontramos na Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Prof. Abreu Matos, conhecida como ‘Cerradinho dos Correios’", disse o professor. Por fim, Fortaleza tem matas ciliares, com os carnaubais.

Parque Municipal das Dunas da Sabiaguaba abriga um dos muitos ecossistemas de Fortaleza(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Parque Municipal das Dunas da Sabiaguaba abriga um dos muitos ecossistemas de Fortaleza

Todo esse verde abriga vida, conforme explicou Thieres Pinto, biólogo e especialista em conservação da biodiversidade.

Seriam ao menos 43 espécies de mamíferos e 244 espécies de aves registradas. Estudos ainda apontam 14 espécies de anfíbios, 38 de répteis continentais e cinco espécies de tartarugas marinhas.

Segundo Thieres, uma preocupação está no local onde estes animais estão situados na cidade: “Se conhece muito pouco do status atual de sua riqueza de espécies ou mesmo da condição de conservação das espécies mais ameaçadas ou com necessidades de manejo para sua sobrevivência”.

O pesquisador exemplificou com a própria experiência: ele mora próximo a um terreno baldio de cerca de dois lotes no bairro José de Alencar.

Somente ali, alega ter visto 14 espécies de répteis; mamíferos como “raposa, o guaxinim, o soim e o cassaco”, além de “inúmeras” aves, algumas delas ameaçadas de extinção, como as jandaias-verdadeiras.

Professor Marcelo Moro, da UFC, e o biólogo Thieres Pinto estudam a flora e a fauna de Fortaleza(Foto: Reprodução/Whatsapp/Arquivo Pessoal)
Foto: Reprodução/Whatsapp/Arquivo Pessoal Professor Marcelo Moro, da UFC, e o biólogo Thieres Pinto estudam a flora e a fauna de Fortaleza

“O que eu posso te afirmar é: em cada espaço verde, por menor que seja, há uma riqueza de fauna urbana”, resume.

Em suma, Marcelo Moro resumiu a natureza da Capital como “de grande diversidade”. Uma grande variedade de flora e fauna, em meio a uma enorme cidade - que segue crescendo - em uma extensão territorial pequena. “Uma cobertura nitidamente baixa. Urgiu a necessidade de medir isso”, diz.

 

 
O que sobrou de verde

Fortaleza conta com 6.098,45 hectares de áreas verdes naturais ou seminaturais, segundo o levantamento. Boa parte deles consiste em territórios protegidos, seja pela legislação nacional ou municipal.

O Parque Estadual do Cocó, por exemplo, apresenta-se como um enorme respiro verde no nordeste de Fortaleza. Ao sul, a barragem do Rio Cocó e o Serrote do Ancuri quase delimitam o território, na divisa com Itaitinga, Maracanaú e Eusébio. Corpos de água, geralmente protegidos por lei federal, também apresentam arredores, em suma, preservados. 

Os territórios protegidos se referem às Unidades de Conservação, as quais Fortaleza comporta quatorze. As zonas dividem-se em: 7 Áreas de Proteção Ambiental (APA), 5 Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Arie) e 2 Parques.

 

Maior parte do território protegido consiste em APAs

 

Há ainda 2053,98 hectares dentro dos limites de Áreas de Preservação Permanente (APP), conforme a legislação federal. Essas áreas visam preservar os recursos hídricos, a paisagem e a estabilidade geológica. 

As áreas de proteção nacional, em Fortaleza, contam com a participação do Governo do Ceará. Para além delas, há zonas ambientais previstas no Plano Diretor da Capital (PDPFor). As diferenças nas categorias foram explicadas no episódio 01 deste especial. Em resumo, elas se dividem em Zonas de Proteção Ambiental (ZPA), Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) e Zonas de Interesse Ambiental (ZIA).

Para além delas, a pesquisa identificou que 2184,4 hectares de áreas verdes remanescentes não estão incluídas dentro das Unidades de Conservação e, portanto, estão vulneráveis a futuros desmatamentos. Ao todo, seriam 60 áreas prioritárias, as quais o estudo propõe incluir na proteção ambiental.

Laymara Xavier afirmou que foi estabelecido um tamanho mínimo para a priorização destas áreas, além da posição delas na Cidade. “Buscamos distribuir”, disse. Além disso, “algumas eram de conhecimento que existia demanda do movimento ambientalista”. “Nos atentamos para incluí-las, ainda que já fossem pelo critério de tamanho”, completou.

Os impactos da preservação são inúmeros. Alguns se referem a um acesso mais democrático ao verde urbano e, para a fauna, um maior o fluxo de material genético pela cidade. Este aspecto se aplicaria à maioria das 60 áreas, menores e espalhadas pela cidade.

“Existe uma desconexão entre as grandes áreas verdes da cidade: Rio Ceará, Pacoti e Cocó. Seria importante haver áreas entre elas, para alguns componentes da fauna conseguirem atravessar a cidade e conseguir haver esse fluxo”, disse.

 

Propostas de áreas prioritárias para inclusão na proteção ambiental

 

Mesmo o que está protegido sofre invasão. Boa parte do território ambiental já está desmatado: pelo menos 2% de cada zona. O maior percentual de desmatamento é, de longe, o da APA do Rio Maranguapinho: 62,5% da extensão está urbanizada e 91,5% da área está degradada em algum nível.

Em seguida, as APAs da Sabiaguaba e Pacoti, e da Lagoa da Maraponga somam, cada uma, pouco mais de 50% do território total degradado. O local protegido mais preservado é a Arie Prof. Abreu Mattos, no bairro Cambeba, com 2% do território degradado.

 

Áreas protegidas apresentam alto nível de degradação

 

Segundo Marcelo Moro, o grande índice de degradação nas APAs ocorre porque esta categoria possui pouca restrição na legislação.

“Acaba que são facilmente ocupadas pela área urbanizada. Você fica, no mapa, como se fosse uma área protegida, mas na prática, a maior parte já é ocupada. Mesmo assim, está havendo o processo de licenças, para retirar partes destas áreas”, disse.

 

 

 

“Olhos d’água”, testemunhas de destruição e abandono

O fim de 2024 trouxe uma série de transferências das categorias ambientais para outras com ainda maior flexibilidade de construções. Foram 16 exclusões, uma delas revogada pelo prefeito Evandro Leitão (PT).

A Zona de Proteção Ambiental (ZPA) Olho D´Água, no bairro Cidade dos Funcionários, não estava entre elas. No entanto, o abandono do local mostrou o que a pesquisa havia levantado em números: algumas áreas são preservadas apenas na teoria.


 

A equipe de reportagem foi acompanhada de uma comitiva de sete moradores dos arredores da área verde na Cidade dos Funcionários: Izabel Negreiros, Helves France, Valdemir de Souza, Francisco Xavier, Alberto Bezerra, Camila Nobre — designer do O POVO — e Rosa Martins.

Eles participam de uma associação com foco na preservação do espaço. As ações são diversas e envolvem desde denúncias de crimes ambientais, contatos às secretarias e sugestões de retirada de lixo.

No dia da visita, por exemplo, plaquinhas recém-pintadas estavam prontas para ser penduradas, com os dizeres: “Não coloque lixo ou entulho aqui. Utilize o Ecoponto na Des. Gonzaga”.

Helves France era o morador mais antigo da região, no dia da visita à ZPA(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Helves France era o morador mais antigo da região, no dia da visita à ZPA

Mais antigo morador do grupo, Helves France, chegou por ali em meados dos anos 1980. Viu os seis filhos conviverem com o espaço, ao mesmo tempo em que presenciou a degradação da área verde.

Ele relembrou ter nadado e usado pedalinhos na lagoa da ainda não demarcada ZPA. Em volta, existia um restaurante. De tão bonito, o local era cenário fotográfico.

Para esta lembrança, Helvis exibiu, durante nossa visita, um registro. Mostrou a foto do local florido, enquanto apontava para um acumulado de plantas aquáticas no meio do parque: escondida, era a mesma lagoa. As plantas aquáticas podem ser indicadoras de poluição.

 

 

Alberto Bezerra foi descrito como o “conhecedor de tudo”. Mudou-se para o bairro nos anos 1990 e lembra de uma limpeza na lagoa na época, durante a gestão de Juraci Magalhães, em 1996 - ano eleitoral. “O bairro sempre foi bom. Esse local era muito bonito. Antes havia essa pessoa que cuidava. Era para benefício próprio, claro, mas é melhor do que hoje”, disse.

A proteção do Plano Diretor proibiu quaisquer construções no local, devido à necessidade de manter a vegetação originária, que age como filtro e dreno da água da chuva. O restaurante, portanto, tornou-se irregular. Foi demolido. Segundo Helves, o local “começou a perder a vida” após o fim do estabelecimento. A zona deixou de ser comércio e foi abandonada.

Um anexo sobreviveu e, nele, foi montada uma floricultura, que funcionou até dezembro de 2022. Havia a comercialização das flores junto de uma casa para abrigá-las. Fotos revelam um antes e depois, crível apenas pela enorme palmeira do espaço. De resto, a aparência é de um local totalmente distinto.


 

Camila Nobre, designer do O POVO e moradora do local, relatou que um permissionário cuidava do negócio, enquanto preservava o local. “Quando ele saiu, levou tudo, mas deixou muitas mudas. Até isso o pessoal levou embora, pareciam gafanhotos”, contou.

Segundo ela, neste momento resolveu contatar órgãos municipais, dentre eles secretarias regionais e a Seuma, para cobrar projetos para a área. “Ninguém sabia de nada, não havia propostas”, disse.

Queimadas foram vistas, nos últimos anos, na ZPA Olho D'água(Foto: Associação de Moradores e Amigos do Olho Dágua (Amaod))
Foto: Associação de Moradores e Amigos do Olho Dágua (Amaod) Queimadas foram vistas, nos últimos anos, na ZPA Olho D'água

Resolveu, então, criar um grupo de WhatsApp com vizinhos para coletar relatos e denúncias. A ação acabou se tornando a Associação de Moradores e Amigos do Olho D'água (Amaod). Hoje o grupo tem 65 pessoas.

“Ninguém aqui se conhecia, não tínhamos convívio. Quando criei o grupo começaram a aparecer os vizinhos. Fizemos reuniões até com secretários da Regional, mas nada saiu. Seguimos reclamando”, contou.

Os moradores relataram situações de descaso e violência urbana. Nos forneceram fotos de queimadas no local, trânsito indevido de carros e relataram casos de roubo. O local foi descrito por eles como uma “rota de fuga”.

Dentre as situações, contaram de pessoas que invadiram propriedades próximas às áreas. A polícia foi chamada, o homem conseguiu sair da casa invadida e os agentes não chegaram a entrar na ZPA. “Se a polícia tem medo, imagina a gente”, disseram.

“[A sensação é de sermos] nós, da Associação, contra órgãos públicos que não cumprem as funções deles, contra carroceiros despejando lixo, contra moradores sem consciência”, foi um dos comentários ouvidos.

A Prefeitura, na gestão anterior, derrubou as ruínas da antiga floricultura e fez, às vezes, limpezas no local. Ainda, a ZPA foi incluída em um projeto de construção de 30 micro parques na Capital. Lá seria abrigado o Micro Parque - Ponto 26.

O portal Fortaleza em Mapas informa que a obra no Olho D’água iniciou em abril de 2024 e está em execução, algo não procedente. Não havia sinal de obras no local. Segundo o atual secretário da Seuma, João Vicente Leitão, o orçamento do projeto esgotou e será preciso a realização de novas parcerias com instituições financeiras para a retomada.

O novo secretário chegou a visitar o local e fez novas promessas de restauração. Questionados se acreditavam que o projeto sairia desta vez, os moradores divergiram entre a descrença e uma suposta lógica.

“Eu apenas desconfio agora”, disse Bezerra. “Se não sair desta vez, não sai nunca mais. Temos vereadora, deputada, prefeito e governador no mesmo partido”, justificou Camila Nobre e Izabel Negreiros. “O secretário veio, a população está cobrando, mas há tanta coisa urgente…”, ponderou Rosa Martins.

Moradores, que vivem há décadas, nos arredores da ZPA do Olho D'água, na Cidade dos Funcionários, falaram do impacto do abandono do local na vizinhança(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Moradores, que vivem há décadas, nos arredores da ZPA do Olho D'água, na Cidade dos Funcionários, falaram do impacto do abandono do local na vizinhança

Os moradores montaram um documento com informações sobre a ZPA: o perímetro, as características ambientais e o início da degradação. Citaram os problemas como a falta de iluminação, as invasões, além de enxames de mosquitos, queimadas ilegais e alagamento em ruas adjacentes.

Mas também trouxeram propostas. Dentre elas a revitalização e, com ela, parcerias com escolas para ações de educação ambiental, cadastramento de catadores de lixo da região, cine floresta, espaço para atividades físicas.

Houve ainda o pedido para uma melhor demarcação da área verde, solicitação comentada por membros de movimentos ambientais, ouvidos no segundo episódio deste especial.

 

ZPA Olho D’água, no bairro Cidade dos Funcionários

 

Marcelo Moro, professor da UFC, elenca a necessidade de ampliar o número de áreas verdes protegidas na Capital. “O que parece mais razoável para mim é, diante de tão poucas áreas verdes que sobraram na Cidade, fazer uma proteção geral ao conjunto dessas áreas. A gente precisa trabalhar o planejamento urbano em cima da estrutura que está sem vegetação”, diz.

Laymara Xavier frisa que a degradação dentro das áreas protegidas exige um esforço de reversão por parte da Prefeitura.

“Não dá para estabelecer como Unidade de Conservação e só deixar de mão. Mesmo se já estiver degradado, é necessário um plano para recuperar a vegetação. São questões políticas, mas importa ter esse dado, para cobrarmos”, completa.

Quanto aos animais nas zonas, o biólogo Thieres Pinto defende a implantação de corredores, refúgios de fauna e de um paisagismo funcional, além de promover a resiliência do ecossistema urbano.

“E retornando ao início, precisamos conhecer o status real da nossa fauna urbana, só assim saberemos suas principais demandas de manejo e conservação."

 

 

Metodologia

Laymara Xavier contou que o levantamento das áreas remanescentes foi feito, primeiro, por uma imagem do satélite Cbers 4A. Foi feito um refinamento do captado e a resolução aumentou, possibilitando capturar uma precisão de 2 m².

“É bem alta, às vezes a copa de uma árvore é maior do que isso”, disse. A pesquisa, portanto, inclui vegetação urbana como terrenos baldios e jardins. “Mesmo estas são importantes para a fauna”, comentou Laymara.

A partir disso, utilizou-se o Normalized Difference Vegetation Index (NDVI), índice criado para numerar a “saúde da vegetação”, a partir do nível de verde. O índice vai de -1 a 1 e sua finalidade inicial é o campo. No caso das cidades, há muita diversidade de cores e heterogeneidade dos terrenos. Ou seja, não pode-se determinar com certeza a saúde das plantas, mas pode-se afirmar que ali há algum tipo de vegetação.

Houve ainda algumas complicações no detalhamento dos pixels. Laymara afirmou que foi determinado um valor mínimo de 0.3: a partir dele, foi considerado vegetação.

Já no caso da pesquisa de Lucas Emerson, foram realizados levantamentos bibliográficos, documentais e cartográficos que levaram à elaboração de um bando de dados com sistematização dos resultados.

O pesquisador forneceu os dados obtidos por meio da pesquisa para fossem transformados em visualizações através da plataforma Flourish.

De acordo com o professor Flávio Nascimento, “a dificuldade de se achar dados, mapeamentos, identificação e monitoramento de lagoas em Fortaleza se deve ao fato da descontinuidade de ações e estudos”.

Nascimento reforça que a falta de dados oficiais foi o que instigou a buscar e identificar o quantitativo das lagoas da Cidade, desde as aterradas e modificadas até as mais preservadas.

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Série de reportagens especiais utiliza levantamento de dados exclusivo e trabalho investigativo para mostrar qual o futuro das áreas verdes de Fortaleza após a exclusão de zonas ambientais em 13 bairros da Capital. Diante dos efeitos da crise climática, o especial analisa o impacto dessa retirada para a Cidade e busca responder a seguinte questão: é possível o crescimento urbano coexistir com a sustentabilidade?