Ao lado de menstruação, menopausa é outra palavra do universo feminino curiosamente mágica, capaz de silenciar todos ao redor. Assim como a primeira menstruação, a menopausa é um momento específico que ocorre, em geral, entre os 45 e 55 anos de idade, em decorrência do gasto total de
O tabu envolvendo a menopausa, no entanto, força as mulheres a se resignarem aos sintomas e a não buscarem tratamentos eficazes, preocupante cenário de saúde pública ao lembrar que a população brasileira está envelhecendo. A médica ginecologista Lúcia Costa-Paiva explica o que é a menopausa, os avanços da Medicina sobre a especialidade e, principalmente, sobre como a sociedade encara o fenômeno e porquê ele é tão temido.
Ginecologista
É presidente da Comissão Especializada de Climatério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), professora titular de Ginecologia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e coordenadora do Ambulatório de Menopausa - Unicamp.
O POVO+ - Quando foi que a Medicina começou a estudar, de fato, a menopausa do ponto de vista da saúde da mulher?
Lúcia Costa-Paiva - Como especialidade é uma coisa relativamente nova, digamos que a partir dos anos 1970, o que de fato é bem recente se a gente comparar com o tanto que conseguimos avançar em pesquisa.
As mulheres passavam pela menopausa achando que fazia parte do envelhecimento e que tinha que suportar os sintomas. E isso ao longo dos anos vem mudando, né? Embora ainda exista essa cultura, a gente hoje sabe que não é preciso sofrer. Se realmente os sintomas estiverem incomodando, temos opções terapêuticas bem eficazes, que possibilitam passar pela menopausa de uma forma menos incômoda.
OP+ - O que exatamente é a menopausa? É algo que você vai conviver o resto da vida ou ela é um período de transição que tem vários sintomas?
Lúcia - O período de transição é o climatério. É essa fase assim que a gente parte do período reprodutivo, no qual ela pode engravidar, para a fase não reprodutiva, que dura a vida toda. Esse período não tem uma idade muito fixa, porque é variável de mulher para mulher. Agora, a menopausa significa pausa da menstruação. É um dia na vida dela em que ela teve a última menstruação. Então, menopausa é um evento dentro do climatério.
É como se o climatério fosse a adolescência e, nela, a gente tem a primeira menstruação. É a mesma coisa: dentro do climatério, a gente tem a menopausa. É que na prática a gente acaba colocando a menopausa como se fosse um período, mas aí o correto seria pós-menopausa.
OP+ - E os sintomas são comuns para todas as mulheres?
Lúcia - Existe um leque de sintomas que conhecemos bem. Agora, o que cada uma vai ter depende muito. Para umas é mais a onda de calor, para outras pode ser mais a parte emocional, psicológica; para outras pode ser mais a parte vaginal… Tem aqueles mais comuns, sim, mas varia um pouco de mulher pra mulher.
E de novo, esses sintomas acontecem durante o climatério. No momento que você começa a ter esses sintomas, eles vão lhe acompanhando. E aí entra a questão de tratar (com tratamento hormonal) se eles forem muito intensos.
A última menstruação acontece por volta dos 50 anos. Essa é a média, mas é considerado normal entre 40 e 55 anos. Quando o ovário começa a dar sinais de falhar, já começam a ter esses sintomas no que a gente chama de perimenopausa, essa fase dos anos que antecedem a menopausa, porque ela não vai parar de menstruar de repente. Ela vai pular um mês, ou a menstruação que é regular fica aí dois, três anos variando… Então algumas mulheres já começam a ter esses sintomas na perimenopausa, e têm aquelas que não conseguem esperar a menopausa porque já está com sintomas fortes e, às vezes, a gente tem que começar a tratar antes.
Os sintomas são mais intensos nos primeiros três, cinco anos de menopausa. Depois eles tendem a durar em média sete anos a oito anos, mas vai ficando mais fácil, com o tempo vai diminuindo de intensidade alguns sintomas, por exemplo aqueles calorões que eu acho que é uma das que mais incomoda. Outros, como a parte vaginal, é ao contrário, com o passar dos anos ele vai piorar.
Com a emancipação feminina as mulheres ascenderam culturalmente e hoje andam por toda parte, discutindo, criando, agindo e governando. E assim aparece espaço para discutir-se a sexualidade feminina e cresce a medida da sua maturidade. Afinal, existe um potencial para o prazer erótico que é desenvolvido a partir do nascimento e segue até a morte do indivíduo. No entanto, a idade cronológica não serve para nivelar respostas sexuais, porque cada pessoa terá mudanças ao longo da sua história de vida, seja homem ou mulher, sejam prazerosas ou não.
A minha experiência clínica como terapeuta sexual de acompanhamento ao longo dos últimos 25 anos, possibilita sentir na fala destas mulheres as mais profundas emoções evidenciadas na busca afetiva. Fala-se de sentimentos e emoções no cotidiano. Uma tarefa difícil, porque nem sempre é permitido vivenciá-las de forma integral. Interroga-se desempenhos e não sentimentos no que há de mais profundo: o santuário amoral da sexualidade.
Transformações biológicas aparecem com a modificação da vascularização dos órgãos sexuais e na mulher, começam com a menopausa pela alteração hormonal resultando em respostas físicas e podem causar intolerância para relação. No entanto, o exercício da sexualidade pode ser estimulante se for trabalhado e orientado com intuito de mudar estas características e estimular o prazer para mulher.
Não está nos frascos, nas ampolas; não é a pílula, nem são gotas milagrosas, mas reflete-se na postura, na voz, no brilho dos olhos, no sorriso, no dinamismo, na desenvoltura, no “élan” vital. E o que é isso, então? Isso se chama alegria de viver. Chama-se de amor à vida. Sabemos que desgosto envelhece e mata, pode-se crer que o gosto conserva a vitalidade e prolonga a vida. Para uma mulher madura, a palavra entusiasmo pode trazer um novo formato de vida e reorganizar desejos, esperança e prazer sexual.
Zenilce Vieira Bruno (CRP 11/1702) é psicóloga clínica, psicodramatista e terapeuta sexual. É membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana e articulista do O POVO+.
A menopausa, um estágio natural na vida de todas as mulheres, há muito tempo foi relegada ao silêncio e ao tabu. O assunto que não deve ser abordado. Nem com nossas mães a gente fala sobre isso, muito menos com os parceiros. O resultado? Mulheres sofrendo sozinhas, sem informação, sem acesso aos recursos que tornariam essa fase tão mais fácil. No entanto, é hora de mudar essa narrativa e trazer à luz esse importante aspecto da saúde feminina. A menopausa não é um tema exclusivo para ser discutido em sussurros ou embaraços, mas sim um processo fisiológico que merece ser normalizado e compreendido em sua totalidade.
Primeiramente, é fundamental compreender o que é a menopausa: é o fim do ciclo menstrual de uma mulher, marcando o término de sua capacidade reprodutiva. Mas, vale lembrar, não de nossa capacidade produtiva. Embora seja um fenômeno natural, muitas mulheres enfrentam desafios físicos e emocionais durante esse período de transição por conta da redução dos hormônios. Isso inclui sintomas como ondas de calor, alterações de humor, insônia, ressecamento vaginal, entre outros. A lista passa de 30 sintomas, que podem afetar as mulheres em diferentes intensidades. Ignorar esses desafios apenas perpetua o estigma em torno da menopausa, impedindo as mulheres de procurar ajuda e apoio quando mais precisam.
Além disso, a menopausa não afeta apenas as mulheres que a experimentam, mas também suas famílias, parceiros e comunidades. Ao normalizar a discussão sobre a menopausa, podemos criar um ambiente de apoio e compreensão para todas as mulheres que passam por essa fase de vida. Isso inclui educar homens e jovens sobre o que é a menopausa e como podem apoiar suas mães, irmãs, amigas, durante esse período de transição.
Outro aspecto crucial é o impacto da menopausa no local de trabalho. Muitas mulheres enfrentam discriminação e falta de apoio no ambiente profissional devido aos sintomas associados à menopausa. Isso pode levar a uma diminuição da autoestima, produtividade reduzida e até mesmo afastamento do trabalho. Ao normalizar a conversa sobre a menopausa, podemos pressionar por políticas e práticas de trabalho mais inclusivas e sensíveis às necessidades das mulheres.
Além disso, é importante reconhecer que a menopausa afeta mulheres de todas as origens étnicas, culturais e socioeconômicas. Portanto, é essencial que todas as vozes sejam ouvidas na conversa sobre a menopausa, garantindo que as necessidades de todas as mulheres sejam atendidas.
A normalização da menopausa também é crucial para combater mitos e desinformação. Muitas vezes, a menopausa é retratada como o fim da vitalidade feminina, quando na realidade muitas mulheres encontram uma nova sensação de liberdade e autoaceitação nessa fase de vida. Ao desafiar esses estereótipos prejudiciais, podemos ajudar as mulheres a abraçar a menopausa como uma parte natural e positiva de seu desenvolvimento.
Já passou da hora de tirar a menopausa do armário e trazê-la para o centro da conversa sobre saúde feminina. Ao normalizar a discussão sobre a menopausa, podemos fornecer apoio vital às mulheres que passam por essa fase de vida e promover uma sociedade mais inclusiva e compassiva para todas.
Silvia Ruiz tem 53 anos. É jornalista e influenciadora, autora da coluna Ageless do UOL, foi pioneira ao criar um espaço para falar sobre maturidade e a romper tabus sobre temas como envelhecimento e menopausa na grande mídia e no Instagram há mais de cinco anos.
Me chamo Fabiana Fontes, sou nutricionista e tenho 46 anos. Trabalhando com saúde da mulher e com menopausa, sei que a entrada no climatério (que pode durar até 10 anos até a chegada na menopausa), não é uma fase fácil e ainda apresenta uma grande complexidade mesmo para nós da área da saúde.
As mudanças que aconteceram comigo foram por volta dos 40 anos. Eu já vinha acompanhando de 6 em 6 meses os meus exames de sangue hormonais e via que algumas taxas de leve iam se alterando, bem lentamente. Porém, o que chamou atenção era a minha falta de disposição, cansaço, irritabilidade extrema e falta de libido.
Mesmo que alguns endócrinos e ginecologistas já discutam o que deve ser feito, ainda acho que falta clareza. Me senti um pouco perdida nesse novo mundo. Usei vários fitoterápicos e intensifiquei a nutrição, que me ajudaram muito nesse início. Os anos foram passando e descobri que precisava de algo além disso, foi quando o endocrinologista que trabalha comigo entrou em ação, me ajudando de perto, porque começaram a aparecer os terríveis fogachos e a insônia junto.
Percebi, também nessa fase, a dificuldade das mulheres em falar uma com as outras sobre isso. Parece que elas têm vergonha, que a menopausa ainda é um tabu, como se a "velhice" batesse à porta. E, é claro, não queremos dizer que estamos finalizando um longo ciclo de período fértil, como se os parceiros fossem nos olhar de uma forma diferente, e isso incomoda.
Eu não tive mudanças corporais como ganho de peso e gordura abdominal, mas procurei cuidar ainda mais de perto da alimentação e aumentei exercícios fisicos porque sei que tudo ficaria mais lento e difícil. Algumas amigas reclamavam desse ganho de gordura, de fato bem comum. Sei que é um momento delicado na vida da mulher e que muitas nem percebem, porque o climatério pode durar até 10 anos com esses sintomas de cansaço e irritabilidade tão comum em vários momentos da nossa vida. Confunde muito: será que estamos no climatério ou só uma fase de trabalho e de maior demanda?
O que devemos fazer é não negligenciar o que estamos sentindo, buscar ajuda de vários profissionais e conversar mais sobre isso, tanto com parceiro, quanto com amigas. Parei para pensar que estamos envelhecendo, mas estamos vivas! Então é a hora de voltar um pouco mais de atenção para nós e procurar nos informar e entender um pouco sobre o que está acontecendo para lidarmos da melhor forma possível como essa nova fase que veio p ficar e não se esconder dela.
Percebo que cada vez mais essa fase chega cedo, por volta dos 40 anos, idade que estamos no auge profissional e muitas vezes amoroso. Estou buscando a reposição hormonal, não comecei, mas estou fazendo um check up completo esse ano, para pensar forte sobre isso. Acredito que vai melhorar muitos dos sintomas e ajudar na melhora da minha qualidade de vida.
Fabiana Fontes (CRN 18870) é nutricionista com foco na saúde da mulher, gestantes, fertilidade, endometriose, síndrome de ovários policísticos e menopausa.
Diversas mulheres estão compartilhando suas vivências com a menopausa na internet, e nada melhor do que criar uma rede de experiências compartilhadas. Separamos três perfis de influenciadoras no Instagram com foco na menopausa. Confira:
Leila Rodrigues, do @menospausamaisvida
Leila Rodrigues é palestrante, escritora e empresária no segmento de tecnologia. Partindo da sua experiência pessoal com a menopausa precoce, se tornou uma estudiosa do assunto e fez desse tema a sua causa.
Julieta Zarza, do @peripeciasmenopausicas
Julieta Zarza é argentina, intérprete e criadora de grande produção autoral. Atua principalmente nas artes cênicas e audiovisuais com humor e poesia visual. É coordenadora do Peripécias Menopaúsicas.
Dani, do @antesdoscinquenta
Aposentada e compartilhando no Instagram a vida antes dos cinquenta desde 2018, Dani fala sobre todos os desafios da menopausa (principalmente porque nunca ninguém nos conta sobre o que esperar) com postagens divertidas e intimistas.
OP + - A impressão que eu tenho, inclusive conversando com outras mulheres, é que se fala muito pouco sobre menopausa, como se houvesse um medo de chegar lá. Como a senhora percebe isso?
Lúcia - Eu acho que é tabu mesmo, entendeu? Não tem muito tempo que a gente tá cuidando disso e tudo, mas não é uma doença. É uma coisa que, na época da minha avó, ou até da minha mãe, não existia tratamento e era considerado uma coisa natural, que vai passar, sofrer e acabou.
Assim como também se falava de primeira menstruação, a gente conversava desses assuntos como um tabu mesmo. Ainda é para muitas pessoas um tabu conversar desses assuntos, e essa é uma questão importante. Tem também um pouco de desconhecimento sobre o que vai passar, se tem alguma coisa para fazer… Eu acho que, se as mulheres sabem pouco sobre o assunto, elas também acabam não conversando muito a respeito.
E outra questão que também está ligada a isso é que a menopausa é um marco do fim do período reprodutivo. A juventude acabou, a partir de agora não é mais jovem, é a velhice. E, no passado, qual era a função da mulher? Era ficar em casa, cuidando da casa, de filho… E aí quando não podia mais fazer filho, ficou uma certa herança nesse sentido de pensar que ninguém quer falar nem o nome, para não passar essa ideia de envelhecimento, sabe? Então se esconde um pouquinho.
OP+ - Como esse silêncio impacta as mulheres, seja na relação com o próprio corpo, seja na percepção sobre si mesma?
Lúcia - Olha, a menopausa vai chegar para todo mundo. Mais cedo ou mais tarde, ela vai chegar, e se a gente tiver mais informação, um pouco de conhecimento do que vai passar, isso ajudaria, né?
Quem não tem essas informações vai sofrer muito mais, porque vai sentir os sintomas e, sem ter ajuda, vai ter o psicológico muito mais afetado. E hoje não precisa mais disso, a gente tem como ajudar em vários sentidos. Mas ela precisa saber disso para procurar ajuda, por isso o trabalho de divulgação, no próprio jornalismo também, é importante.
OP+ - Existe o conceito da pobreza menstrual, que é a falta de acesso à informação e a produtos de higiene para a menstruação. Existe algo parecido com a menopausa? A gente tem estrutura para acolher mulheres na menopausa?
Lúcia - Eu acho que a gente não tem estrutura nenhuma, né? Mas é uma condição que ao longo dos anos foi melhorando um pouquinho, mas ainda falta muito. Muitos médicos ainda não têm um conhecimento mais específico desse momento, então às vezes a paciente até vai ao médico, mas aí ele diz: ‘Ah, vai passar. Aguenta um pouco assim, vai passar.’
A gente também não tem nenhum recurso terapêutico público ainda. Com o tempo, por exemplo, apareceram os anticoncepcionais nas unidades básicas, mas para a menopausa não existe nada do ponto de vista de medicamento disponível. Então a questão financeira, social, pega muito. A gente não tem acesso ao tratamento, Mesmo que ela vá ao médico, não tem como dar um remédio, não tem condição de tratar hormonalmente, por exemplo. Então existe, sim, essa pobreza de falta de recursos.
Eu acho que precisamos dar um pouco mais de importância às condições de trabalho para a mulher na menopausa. Às vezes, precisa de uma condição um pouco diferente, adaptando o ambiente de trabalho para ser um pouco mais adequado para a menopausa. Por exemplo, eu fico imaginando uma mulher na menopausa que está passando pelas ondas de calor trabalhando em uma empresa de produtividade, numa fábrica… É muito ruim. É preciso garantir ambientes mais adequados, mais ventilados. Se puder ter um ar condicionado melhor ainda, né?
É questão de entender um pouco, de vez em quando ela precisa de um pouco mais de flexibilidade. Porque afeta até do ponto de vista psicológico, né? Com a menstruação é assim também. A gente começa a menstruar e está cansada, às vezes está triste… E não tem essa compreensão geral sobre isso.
Que tal responder à enquete abaixo e usar o campo dos comentários para discutir sobre a sua experiência com a menopausa? Você já passou pela menopausa? Foi um período com acolhimento? E para quem não passou, é algo que te assusta ou te preocupa? Vamos conversar nos comentários!
A segunda temporada do especial E.L.A.S. convida cinco mulheres e 15 articulistas para conversar sobre maternidade, trabalho, amor, corpo e menopausa