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Cearense mais russo do Brasil, Rômulo realiza sonho e vira destaque do Fortaleza
Reportagem Seriada

Cearense mais russo do Brasil, Rômulo realiza sonho e vira destaque do Fortaleza

O fixo do Tricolor do Pici conversou com o Esportes O POVO e, na oportunidade, destacou vivências na Europa e na Rússia e o retorno triunfal ao Estado

Cearense mais russo do Brasil, Rômulo realiza sonho e vira destaque do Fortaleza

O fixo do Tricolor do Pici conversou com o Esportes O POVO e, na oportunidade, destacou vivências na Europa e na Rússia e o retorno triunfal ao Estado
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O fuso horário entre Moscou, na Rússia, e Fortaleza, no Brasil, difere em seis horas. Quando são 16 horas na capital cearense, já são 22 horas na russa. Para muitos, tal descompasso pode ser um grande desafio, especialmente quando é preciso acordar cedo para trabalhar. Mas, para Rômulo, jogador cearense de futsal que construiu grande parte de sua carreira no outro lado do Atlântico, isso nunca foi problema.

Durante os longos e sofridos oito anos do Fortaleza na Série C do Campeonato Brasileiro, Rômulo fazia questão de acompanhar cada partida do Leão no futebol de campo — mesmo vivendo praticamente do outro lado do mundo.

Sofria como qualquer outro tricolor, mas no ano seguinte estava lá de novo, esperando ansiosamente pelo retorno do clube à Segunda Divisão.

Rômulo Alves Nobre é fixo do Fortaleza Futsal e tem dupla nacionalidade(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO Rômulo Alves Nobre é fixo do Fortaleza Futsal e tem dupla nacionalidade

Nascido em Fortaleza, em 28 de setembro de 1986, criado na Barra do Ceará, Rômulo ganhou o mundo com seu talento. No entanto, o caminho até o sucesso não foi fácil. Logo no início da carreira, ao se mudar para o Paraná em busca de uma oportunidade no futsal profissional, perdeu a mãe, dona Maria. Hoje, ele a leva aonde for — o nome dela está tatuado no braço direito.

A dor foi intensa, e a vontade de largar tudo o assombrava. Mas a necessidade de ser forte por sua família falou mais alto. Ele compreendeu que, dali em diante, era sua responsabilidade ser o alicerce, a verdadeira fortaleza do lar.

Seguiu a carreira. Partiu para a Espanha, confiante de que a semelhança entre a língua espanhola e o português facilitaria a adaptação. Não foi tão simples, mas seu talento logo se sobressaiu.

Foi na Rússia, contudo, que se transformou quase em um czar — os antigos imperadores russos. Lá, tornou-se um dos principais nomes do futsal.

Seu destaque foi tão grande que, ao contrário do que muitos esperariam, ele não defendeu a seleção brasileira, e sim a russa. Pela nova pátria esportiva, disputou duas Copas do Mundo, como um dos líderes da equipe.

Antes disso, porém, veio um difícil desembarque no país-continente. Além de enfrentar o rigoroso frio de Moscou, ele já de cara foi "esquecido" no aeroporto pelo tradutor do Dínamo Moscou. Perdido e sem falar uma palavra de russo, teve de se virar. Algo que ele aprendeu a fazer em cada ponte aérea da carreira.

Depois de anos de glórias e conquistas na Rússia, o coração falou mais alto. Rômulo decidiu retornar ao Brasil para realizar um sonho que nunca saiu de sua mente: vestir a camisa do Fortaleza e defender as cores do time do seu coração.

 

O POVO - Como começou sua paixão pelo futebol? Onde começou a jogar?

Rômulo - Eu comecei acredito que como toda criança aqui no Brasil, na rua, jogando descalço, o famoso "travinha". Jogava nas ruas dos bairros. Logo em seguida, comecei com os testes no colégio, fiquei na escolinha, depois seleção. Foi onde eu dei meus primeiros passos no futsal.

OP - E em que momento tentou virar jogador profissional? Você começa no Sumov, que era um clube bem tradicional do futsal cearense e brasileiro...

Rômulo - Várias vezes vi entrevista do Cafu Um dos maiores laterais-direitos da história do futebol mundial , nosso capitão do penta, que foi reprovado umas dez vezes, e comigo não foi diferente. Fiz teste em vários clubes aqui do Ceará, inclusive no Fortaleza, e hoje poder estar vestindo a camisa do Fortaleza, eu falo que é a realização de um sonho.

Rômulo hoje é jogador do Fortaleza, time do coração dele
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO
Rômulo hoje é jogador do Fortaleza, time do coração dele

Logo depois do colégio, que a gente jogava as copas pela seleção do colégio, que eram muito tradicionais antigamente, eu fui para o Sumov. Comecei lá em meados de 2002, 2003, no infanto-juvenil, e vi que realmente estava querendo viver da bola. Tive algumas oportunidades.

Na época, o Cristiano Cidrão, que era meu treinador no colégio, me levou para o Sumov e abriu as portas. Foi onde eu vi que poderia ter uma chance de sobreviver de ser um jogador de futsal.

OP - E quem eram os craques que jogavam com você nessa época? 

Rômulo - Nessa época tinha uma galera: Lambão, joguei com ele na base... Joguei muito tempo contra João César, Rafinha, tem uma galera que está fora já (aposentada), muitos já pararam.

Rômulo, sobre experiência em clubes do Paraná: "Foi difícil a adaptação, é muito frio. A gente brincava que não tinha roupa de frio e sempre usava a roupa do time para sair para todo lugar"(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO Rômulo, sobre experiência em clubes do Paraná: "Foi difícil a adaptação, é muito frio. A gente brincava que não tinha roupa de frio e sempre usava a roupa do time para sair para todo lugar"

Eu já tenho 38, indo para 39 anos, alguns já pararam a carreira. Mas tive o privilégio de ver treinar e jogar Valdin, que hoje está com a gente e eu falo para ele que é a realização de um sonho jogar com ele, sempre fui fã dele.

Ele foi referência para os mais novos e ainda segue jogando, acho que ele quer bater o recorde do Guinness Book de jogador mais velho (risos). E jogando bem, para estar no Fortaleza tem que estar jogando bem (risos). A gente é muito exigido aqui. Enfim, tem uma galera boa ainda, que está jogando fora do País.

OP - Depois do Sumov, você sai de Fortaleza ainda jovem para ir jogar em clubes do Paraná. Como foi essa mudança de vida?

Rômulo - Quando eu saí daqui, tinha de 16 para 17 anos. Fui para o Sul do País, sozinho, mas tive a sorte que foi um combo de jogadores. Tinham 11 cearenses na equipe, então praticamente estava em casa.

O Lambão, que foi junto comigo; Viola, que já pagou de jogar; Fumaça, já parou de jogar; Sidnei, que está jogando ainda; Hilbério, o goleiro... Toda essa galera, que era a nata do Sumov, fecharam um pacote junto com o treinador, Cristiano Cidrão, e nos levaram para jogar lá no Paraná.

Foi um sucesso, a gente foi campeão praticamente invicto da Prata, indo para a chave Ouro do (Campeonato) Paranaense.

Para mim, foi muito fácil porque estava com amigos de infância, mas foi difícil a adaptação na questão de ir para o Sul do País, é muito frio. A gente brincava que não tinha roupa de frio e sempre usava a roupa do time para sair para todo lugar.

Foi uma experiência muito válida no começo de carreira, a gente aprendeu bastante. Ficam as boas histórias.

No ano passado, ele foi decisivo para o título brasileiro da equipe tricolor; foi a primeira taça nacional do clube e a primeira edição da competição
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO
No ano passado, ele foi decisivo para o título brasileiro da equipe tricolor; foi a primeira taça nacional do clube e a primeira edição da competição

OP - Qual momento te marcou nessa mudança de vida, ainda no início da carreira profissional?

Rômulo - Logo no começo da minha carreira, tive o falecimento da minha mãe. Eu estava na equipe do Umuarama, em 2006. Dá um baque na gente, eu era muito novo.

A primeira coisa que você pensa é em parar de jogar, porque fica abatido. Me liberaram, eu vim aqui para Fortaleza só enterrar minha mãe, e a semana que eu passei aqui foi muito importante. Enterrei minha mãe, fiquei com meus familiares e vi que a minha família realmente dependia de mim.

Tive que assumir o papel de homem, irmão mais velho e vi que eles dependiam muito de mim. Aquilo me deu muita força de continuar.

Profissionalmente foi uma troca de chave, para mim, muito importante. O falecimento da minha mãe me deu tanta força que as coisas começaram a melhorar dentro de quadra, as oportunidades apareceram bastante. Me deu muita força, esse momento que eu vim para cá, e sou muito feliz pela família que eu tenho, a força que eles me deram de dar continuidade na carreira. O que eu posso, eu faço tudo por eles.

OP - E como foi assumir essa responsabilidade ainda tão jovem? Nessa época você já se tornou o pilar financeiro da família?

Rômulo - Hoje é um pouco mais fácil, temos a internet aí, WhatsApp, chamada de vídeo... Na minha época era o MSN (risos). A gente nem tinha computador, então eu ligava sempre aos domingos, quando eu falava com a minha mãe, e muito rápido.

A época do cartão telefônico, que ia muito rápida a chamada, a gente ficava olhando os números descendo, quantas ligações podia por minuto. São bons recortes que eu tenho dessa época.

Foi muito difícil, a gente aprendeu bastante e que eu levo para o restante da vida. Eu sempre costumo passar para os mais novos: não é que hoje as coisas são mais fáceis, mas são mais acessíveis.

Rômulo foi entrevistado pelo Esportes O POVO no dia 13 de fevereiro de 2025(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO Rômulo foi entrevistado pelo Esportes O POVO no dia 13 de fevereiro de 2025

Na questão do pilar financeiro, foi uma época muito difícil para a minha família. O meu pensamento de sair de casa sempre era para ajudar o meu pai, seria menos uma boca para alimentar. E (servir) de espelho para os meus irmãos também, que seguiram o caminho do bem, viram que tinham um irmão atleta, um irmão cidadão, seguiram por isso. Hoje posso dizer que tenho uma família do bem.

OP - Os jogadores mais experientes que já estavam no Umuarama davam suporte para vocês?

Rômulo - Eram praticamente todos da mesma idade. Tinham três jogadores que eram mais velhos: o Daniel, que era o pivô; o Reginaldo, que hoje é o treinador de Russas e sempre nos dava um apoio; o Viola, que hoje também parou de jogar.

"O Campeonato Espanhol hoje, para mim, é um dos melhores do mundo e ter a oportunidades de ter jogado lá foi muito gratificante"(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO "O Campeonato Espanhol hoje, para mim, é um dos melhores do mundo e ter a oportunidades de ter jogado lá foi muito gratificante"

Foram as três pessoas mais velhas que estavam sempre nos dando apoio, uma palavra amiga, o que precisava podia contar com eles, eles ajudaram sempre. E junto com o treinador, que era cearense, Cristiano Cidrão. Eu sou suspeito de falar, foi um pai para mim. Desde pequeno, da época de colégio, foi um cara que me ajudou bastante.

OP - E de que forma surgiu a possibilidade de ir jogar na Europa?

Rômulo - Depois que eu joguei cinco anos no Paraná, me transferi para a Espanha. Cheguei na metade da competição, em 2010.

Na época, no Campeonato Espanhol, só poderiam jogar dois estrangeiros por equipe, então praticamente o time todo era espanhol. Éramos eu e um paranaense, o Jaison, que foi quem me indicou e me ajudou bastante lá. A gente se fechou ali. E foi uma experiência muito boa, muito válida.

Foi Carnicer Torrejón, time da Espanha, que me abriu as portas da Europa e do mundo, deu visibilidade. Foi onde conheceram o Rômulo atleta. Foi um pontapé inicial.

O Campeonato Espanhol hoje, para mim, é um dos melhores do mundo e ter a oportunidades de ter jogado lá foi muito gratificante. E, lógico, conhecer a cultura da Espanha, aprender o idioma, se interligar com outras culturas foi muito gratificante.

OP - Como foi a adaptação à Espanha? O idioma ajudou a facilitar?

Rômulo - O espanhol a gente acha que fala, mas não fala, no começo. A gente acha que entende, mas não entende. Eu procurei estudar, até mesmo para me ajudar dentro de quadra, a comunicação é muito importante.

Sempre fui muito ligado nisso, foi uma das coisas que me ajudou bastante quando me transferi para a Rússia, eu estudava bastante o idioma. Toda ajuda dentro de quadra é válida e falar o idioma...

Além do Brasil, Rômulo jogou na Espanha e fez história no futsal russo
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO
Além do Brasil, Rômulo jogou na Espanha e fez história no futsal russo

OP - E você manda bem no russo, né?

Rômulo - Sim, vou bem, vou bem. Sou casado com uma russa, morei lá 11 anos, me naturalizei russo, joguei pela seleção dez anos, então era obrigado a falar, né? (risos) Mas falo bem.

OP - Você considerou a ida para a Europa como a chance da sua vida, para mudar de patamar profissionalmente e ter a oportunidade de morar lá com a família?

Rômulo - Claro, claro. A gente tem o sonho, primeiro, de ser jogador e o segundo é de jogar num clube da Europa. Comigo não foi diferente. Cheguei na Europa cheio de sonhos, com muita vontade, muita dedicação e, graças a Deus, as coisas aconteceram.

Nos meus primeiros seis meses na Europa, na Espanha, foram muito bons, o que me deu chance de estar onde eu estou hoje, me abriu as portas do mundo do futsal para eu fazer o meu nome, minha história.

Ter ido para o Campeonato Espanhol, não querer ficar aqui no Brasil, foi muito bom. Viver esse sonho de morar e jogar na Europa me deu muita oportunidade, me abriu muitas portas.

OP - E na Rússia, qual foi a maior dificuldade: o idioma ou o clima?

Rômulo - O idioma nem se fala, é muito difícil. O choque mesmo é o clima, adaptação. Antes de ir para lá, eu estava aqui, em Fortaleza, de férias. Eu saí de uma praia de 30ºC para chegar em Moscou com -30ºC.

O avião aterrissou, quando eu olhei na janela, só neve. "Meu Deus, o que eu vim fazer aqui?". O pessoal falando comigo, eu não entendia nada, falava o básico do básico de inglês... Mas são experiências de vida, que hoje posso estar contando aqui, dando risada. Foi muito bom.

Rômulo Nobre mostra medalhas conquistados por ele pela equipe russa e pela seleção russa de futsal(Foto: Julio Caesar)
Foto: Julio Caesar Rômulo Nobre mostra medalhas conquistados por ele pela equipe russa e pela seleção russa de futsal

Tive a "sorte" de o tradutor do time me esquecer, não foi me pegar no aeroporto, fiquei três horas sem saber o que fazer no aeroporto, até que consegui, em inglês, comprar um cartão telefônico e ligar para alguém do time, aí foram me pegar no aeroporto.

OP - E como você se comunicava antes de falar russo?

Rômulo - Tinham quatro brasileiros na equipe, eu era o quinto: Fernandinho, que foi da seleção brasileira; Cirilo, Pula, Tatú. Logo em seguida chegou o Vinícius, que foi o capitão da seleção brasileira.

Para mim foi bem tranquilo, acho que até mais fácil do que quando eu fui para o Sul do Brasil, na primeira vez. Tinham cinco brasileiros, o treinador era espanhol, então a gente tinha dois tradutores: um em espanhol, para o treinador, e um em português, para a gente.

Rômulo tem dupla-nacionalidade russa e casou-se com uma russa, Irina(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Rômulo tem dupla-nacionalidade russa e casou-se com uma russa, Irina

O Dínamo de Moscou dava toda a estrutura na época, questão de documentação de família, um carro, professor para a gente estudar. Duas vezes por semana a gente estudava o russo, eles obrigavam, por causa da comunicação dentro de quadra. Então, toda a estrutura possível a gente teve.

E as "quebradas" sempre tem, né? A gente, na época, acha que fala russo, mas ia tentar falar lá e não conseguia. Tem algumas histórias engraçadas: chegava no McDonald's, pedia um (sanduíche) e vinham quatro (risos). Aí tinha que pagar, não sabia falar para devolver.

OP - Quando você realmente ficou fluente no russo?

Rômulo - No meu terceiro ou quarto ano lá, eu achava que falava bem russo, até conhecer minha atual esposa. Ela falava que eu não falava bem (risos). Mas depois dela, no dia a dia, evoluí bastante. Aula direto, aprendendo com ela. E consegui trazer ela para morar aqui no Ceará, para passar calor.

OP - Como está a adaptação dela aqui? Agora é o inverso, depois de você sofrer no frio da Rússia...

Rômulo - (Ela) Sofre bastante. Está sofrendo bastante e eu costumo brincar que o meu bolso que o diga, porque ela quer ficar com ar-condicionado 24 horas ligado (risos).

Ela aprendeu muito bem o idioma (português), a Irina fala muito bem, fluentemente, e isso ajuda bastante na adaptação. É mais a questão do calor, ela sofre bastante.

O russo, no calor, fica muito vermelho, ela começa a passar mal. Mas está se acostumado, já tem seis meses, já está virando uma cearense.

OP - Depois de mais de dez anos na Europa, você decide voltar ao Brasil para jogar no Fortaleza. Como surgiu o convite? Você já tinha esse desejo?

Rômulo - Na época, eu estava no Palma, da Espanha, estava jogando a Champions League, que a gente foi campeão, e surgiu o convite através do nosso hoje ex-presidente Alex Santiago. Ele entrou em contato comigo.

A princípio, eu achei até que era brincadeira de alguém, trote. Só vi mesmo que era ele depois da chamada de vídeo. Aí, eu: "Opa, presidente, tudo bem?" (risos). Aí, eu vi que o negócio era sério.

Para mim, de imediato, eu queria vir, por ser torcedor, para realizar um sonho. Bate um filme, vem a imagem de antigamente, ter feito teste no campo do Fortaleza, ter tentado e não ter conseguido, e depois de tantos anos o Fortaleza vir atrás de mim para poder vestir essa camisa.

"A "mãe" Rússia me acolheu de volta e, depois daí, eu passei mais quatro, cinco anos na Rússia, dei continuidade na minha história"(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR "A "mãe" Rússia me acolheu de volta e, depois daí, eu passei mais quatro, cinco anos na Rússia, dei continuidade na minha história"

Em todas as minhas entrevistas, eu sempre falo que é a realização de um sonho mesmo, sonho de criança. Eu sou Leão desde criança, a família inteira é Leão. Acredito que nenhum clube tinha um presidente tão envolvido com o futsal: ele mesmo ligar para o atleta, falar, dar essa atenção. Foi algo quase inédito, e isso me chamou muita atenção.

Vi o quanto o projeto realmente ia ser importante e fazer parte disso, para mim, também era muito importante, como torcedor, na minha cidade natal, voltar a ver minha família... Porque tenho familiares que nunca tinham me visto jogar.

O meu primeiro jogo foi muito importante, muita família no ginásio. Isso não tem preço. Sou muito grato ao Fortaleza, ao Alex, por ter feito isso por mim, aos meus companheiros, à comissão (técnica), que me abraçaram desde o primeiro dia. Isso não tem preço. Eu vou levar para o resto da vida essa gratidão que tenho por eles.

OP - Quais diferenças você percebeu no futsal cearense entre a sua saída do Sumov e o retorno ao Fortaleza?

Rômulo - Primeiramente, fiquei muito feliz e emocionado até, porque o Fortaleza fez algo que a gente sempre quis: profissionalizou mesmo o nosso esporte, o nosso futsal cearense, que estava adormecido há anos. Lógico, tinha o Ceará, que chegou até a ganhar Copa do Brasil, mas, na época, não tinha uma estrutura que está tendo hoje.

O Ceará hoje se obriga a ter uma estrutura muito boa porque o Fortaleza começou isso, o São João do Jaguaribe está tendo muito boa porque o Fortaleza obrigou a fazer isso, a investirem também, porque o Fortaleza estava vindo muito forte.

Por isso eu parabenizo muito o projeto, estamos aqui fazendo o possível e o impossível para isso acontecer. Nosso futsal cearense vem crescendo cada vez mais e estar aqui dentro, vivenciando isso de perto, é muito gratificante para mim.

 

 

OP - Com o status que você alcançou no futsal russo, acabou também virando jogador da seleção do país. Como surgiu a oportunidade? Ficou na dúvida entre a seleção brasileira e a russa?

Rômulo - Nos primeiros seis meses que joguei na Rússia, despertou o interesse deles, do presidente do Dínamo Moscou na época, para fazer o passaporte, primeiramente para deixar de ocupar a vaga de estrangeiro na equipe.

Só podiam quatro jogadores (estrangeiros) e três iam para o jogo. Se eu fizesse o passaporte, abria a vaga para mais um estrangeiro e, consequentemente, teria chance de jogar na seleção.

Foi um momento muito difícil para mim, porque sempre tive o sonho de jogar na seleção brasileira, foi numa época que chegou uma convocação da seleção brasileira, só que eu já tinha dado o "sim" para o passaporte russo.

"A Rússia mudou a minha vida, a vida da minha família, e a forma que eu tenho de agradecer à Rússia é dentro de quadra, jogando pela seleção e valorizando esse escudo, essa camisa da melhor maneira possível"(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO "A Rússia mudou a minha vida, a vida da minha família, e a forma que eu tenho de agradecer à Rússia é dentro de quadra, jogando pela seleção e valorizando esse escudo, essa camisa da melhor maneira possível"

O Vinícius, que foi o capitão da seleção brasileira no título mundial de 2018, foi um cara que me ajudou bastante. Ele jogava comigo no Dínamo e eu pedi um conselho para ele, o que seria melhor para a minha carreira. 

Ele me falou que já viu muita gente realizar o sonho, jogar com a seleção brasileira, mas não ficar bem financeiramente, não ter um suporte como os jogadores que tiveram passaporte e conseguiram mudar de vida porque conseguiram viver na Europa, contratos melhores com clubes da Europa por conta de passaporte.

Isso me chamou muita atenção. E eu tinha o exemplo de Pula, Cirilo, Pelé Júnior, todos paulistas, que eram naturalizados e jogavam pela seleção (da Rússia). Jogaram Mundial, Eurocopa. Não ganharam, como alguns brasileiros, mas conseguiram ter um padrão de vida, ajudar sua família e estender sua carreira na Europa. Isso me chamou bastante atenção. E hoje eu vejo que, para mim, foi a melhor decisão.

No Barcelona, ele viveu um dos momentos mais difíceis da carreira de um jogador: rompimento de ligamento do joelho(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO No Barcelona, ele viveu um dos momentos mais difíceis da carreira de um jogador: rompimento de ligamento do joelho

OP - Você enfrentou algum tipo de resistência por ser um brasileiro na seleção da Rússia?

Rômulo - Sempre tem, sempre tem. Eu sempre fui muito aberto com eles, até com os jogadores, e falava: "Eu sei que estou ocupando o local de um amigo russo". Mas o fato de jogar pela seleção da Rússia é simplesmente agradecer o que o país fez por mim.

A Rússia mudou a minha vida, a vida da minha família, e a forma que eu tenho de agradecer à Rússia é dentro de quadra, jogando pela seleção e valorizando esse escudo, essa camisa da melhor maneira possível. E, lógico, casando com uma russa agora (risos).

OP - Você também teve a oportunidade de jogar no Barcelona, um dos maiores clubes do mundo, mas foi uma passagem curta. O que aconteceu?

Rômulo - Depois de seis anos na Rússia, despertou o interesse da equipe do Barcelona. Fechamos um contrato, me transferi para Barcelona.

Infelizmente, não consegui desempenhar minha melhor performance, nos primeiros três meses tive uma lesão no meu ligamento cruzado do joelho direito. Achei que iria acabar a minha carreira. Quando isso acontece na vida de um jogador é muito difícil.

Graças a Deus, eu estava num clube com uma das melhores estruturas do mundo, que me deu o melhor tratamento possível para voltar o quanto antes. Só que, infelizmente, as coisas não aconteceram, rescindimos o contrato logo em seguida.

Aí é quando eu volto para a Rússia novamente. Por isso que eu falo: a "mãe" Rússia me acolheu de volta e, depois daí, eu passei mais quatro, cinco anos na Rússia, dei continuidade na minha história.

OP - No ano passado, em cinco competições disputadas, o Fortaleza conquistou três títulos. Isso mostra o sucesso do retorno do projeto?

Rômulo - Eu cheguei na metade do projeto, por conta do calendário da Europa. Eu cheguei no final de junho, quando tinha acabado a temporada na Europa. Mas, desde o começo, eu estava acompanhado, porque já estava certo de vir para o Fortaleza.

Assisti às finais da Copa do Estado, assistia a todos os jogos, para entender a equipe. O treinador da época, o Facó — eu joguei com o Facó no Umuarama, em 2007 —, eu já conhecia o perfil, a personalidade do Facó. É um amigo pessoal, tenho muito carinho por ele. Busquei entender o Facó dentro de quadra, junto com meus companheiros.

Sempre acompanhei, vi os jogos, gostei bastante, gostei que a torcida abraçou. A torcida do Leão abraçou o time, nos apoiou nos momentos de dificuldade, chegou no ginásio quando tinha que chegar.

A forma de a gente agradecer a torcida foi dando o título do (Campeonato) Brasileiro e todos os títulos possíveis que a gente disputou. De cinco finais, ganhamos três. O mais importante, lógico, foi o Brasileiro, que era o nosso objetivo. Muito feliz que isso deu certo no final.

Rômulo, fixo do Fortaleza, comemora gol marcado na final do Brasileirão de Futsal(Foto: Felipe Honorato / Fortaleza EC)
Foto: Felipe Honorato / Fortaleza EC Rômulo, fixo do Fortaleza, comemora gol marcado na final do Brasileirão de Futsal

OP - O principal título foi o do Campeonato Brasileiro, realizado pela primeira vez, e você foi protagonista com gol marcado e também um gol evitado nas finais...

Rômulo - Foi o primeiro Brasileiro, e isso vai ficar marcado para a história. O Fortaleza vai ficar marcado. Assim como, no campo, o primeiro campeão brasileiro foi o Atlético-MG — isso o Alex Santiago sempre brincava —, o Atlético é lembrado até hoje, com o Fortaleza não vai ser diferente. Foi o primeiro campeão brasileiro (de futsal), fizemos história.

Foi muito marcante para a gente, para a nossa carreira, para a nossa torcida. Foi um dia incrível, a final, com 10 mil pessoas no CFO, batemos o recorde mundial de pessoas no ginásio. Isso mostra o poder da torcida do Leão. Quando pode e quando quer, ela vai estar lá para nos ajudar e nos dar força.

No primeiro jogo da final, jogo muito difícil, sabíamos da qualidade da equipe do Apodi-RN, sofremos bastante o jogo inteiro, buscamos o resultado. Fui muito feliz com aquele gol, ali é uma jogada ensaiada.

Lógico, a bicicleta não é tão ensaiada, mas o passe que o Juninho deu é uma jogada ensaiada, que fazemos nos treinos. A bicicleta foi o recurso, o voleio foi o recurso que eu usei. Desde pequeno, na época de jogar na praia, beach soccer, na Beira-Mar, aprendi a dar minhas bicicletas. Fui muito feliz com esse gol. Sofremos o empate no final, mas estávamos focados, queríamos muito o título.

 

Momento do gol decisivo de Rômulo

 

Em casa, não tinha como perder aquele jogo. Num domingo pela manhã, jogo na Globo, nosso torcedor presente, nossos familiares ali... Não tinha como perder aquele jogo. E aquele lance foi adrenalina do jogo.

Não desistir foi a marca do nosso time, nosso time nunca se entregou. É a marca do nosso time esse ano, não desistir, apesar das tribulações que aconteceram, a gente não vai desistir, nunca vai jogar a toalha.

Mas, ano passado, foi muito bom. Ter ganho aquela final em casa, naquele momento que eu tirei aquela bola foi um momento de loucura, tanto que a bola saiu e eu dei um "carrinho" de cabeça na bola, o juiz pula, sai do meio.

" Mentalmente éramos fortes, até porque vivíamos em constante disputa por posições"(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO " Mentalmente éramos fortes, até porque vivíamos em constante disputa por posições"

Foi um momento importante, em que não poderíamos tomar o gol, porque era na prorrogação. Se leva o gol, tinha que buscar o empate ou a vitória ou então o jogo ia para os pênaltis. Confiar no Lambão, que conseguiu desequilibrar o jogador, para dar um toque na bola, e deu tempo para eu chegar e tirar aquela bola. Ajudou bastante a gente naquele momento.

OP - O fator psicológico era o grande trunfo do Fortaleza em 2024?

Rômulo - Mentalmente éramos fortes, até porque vivíamos em constante disputa por posições. Não foi fácil gerir isso, eram 23 jogadores, não tinha espaço para todo mundo jogar.

Isso tem um lado bom para o time, porque todo mundo tem que estar bem para jogar e vai jogar quem estiver bem. Acredito que isso deu uma força mental muito boa para a gente. Você contar com o jogador sempre em forma, porque quando tinha um machucado, já tinha outro disposto a ajudar.

É complicado para o treinador, mas para o jogador é bom, porque toda ajuda é bem-vinda num campeonato, tanto que a forma que a gente ganhou a Copa do Nordeste, lá em São João do Jaguaribe, o diferencial do título foi isso, ter bastante jogadores frescos para o jogo, de chegar numa final todo mundo inteiro.

Foi uma sacada legal. Mentalmente foi bom para a gente, porque gerir não é fácil, conviver com muita gente e pouco espaço para jogar. A gente ficou mentalmente muito forte quanto a isso.

OP - Com o fuso horário da Europa, dava para acompanhar os jogos do Fortaleza? Ficava acordado de madrugada e ia treinar no outro dia?

Rômulo - Eu acompanhei e sofri bastante com a luta pelo acesso, para sair da Série C. Foi um período difícil, mas eu tenho tanto orgulho da camisa desse time, porque a festa que a torcida fazia... Infelizmente, no final não conseguíamos (o acesso), mas a festa que era feita ali, você não via em estádio nenhum. Ficamos marcados com isso. Quando conseguimos o acesso foi algo impressionante.

Segundo Rômulo, mesmo na Rússia ele varava madrugadas para assistir a jogos do Fortaleza
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO
Segundo Rômulo, mesmo na Rússia ele varava madrugadas para assistir a jogos do Fortaleza

Eu lembro que estava na Rússia, de madrugada, assistindo aos jogos. Era difícil porque era de madrugada, você tem que dormir para treinar no outro dia, mas não tem como. Pelo Leão, nas finais, a gente fazia isso para torcer.

E ver a estrutura que temos hoje no Fortaleza, o quão chegamos longe, na Série A do Campeonato Brasileiro, na Libertadores... Quem diria, alguns anos atrás, que um time da Série C iria estar nesse patamar hoje? Isso é fruto de uma gestão do Marcelo Paz, nosso CEO hoje, e isso mostra o tamanho que o Fortaleza pode chegar.

Por que não sonhar com um título de uma Libertadores? Temos time para isso, temos time para chegar no Brasileiro. Como torcedor, estarei lá presente. Sempre que posso, vou no estádio. Sempre que tem uma folguinha, a gente está lá prestigiando.

Torcedores lotaram o Centro de Formação Olpimpica para assistir ao final do Campeonato Brasileiro de Futsal, Fortaleza x Apodi(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Torcedores lotaram o Centro de Formação Olpimpica para assistir ao final do Campeonato Brasileiro de Futsal, Fortaleza x Apodi

OP - A sua presença no Fortaleza é um "carimbo" no tamanho do projeto?

Rômulo - Acredito que sim. A minha volta, o Valdin, logo depois a chegada do Lambão, jogadores experientes que são cearenses e fizeram uma carreira vitoriosa, Rafinha, que jogou bastante tempo aqui... A presença desses jogadores aqui dá confiança para os mais jovens.

É uma imagem que vende bastante, porque, graças a Deus, temos nossa história lá fora. O Valdin foi um dos melhores cearenses, seleção brasileira, ganhou tudo com aquele time da Malwee, do Falcão. O Falcão, aonde foi, procurou levar o Valdin, pelo jogador que ele é. Ter um jogador desse tamanho aqui, voltando e jogando no nosso Estado, por que não?

Fiquei muito feliz com o convite e fiz tudo possível para poder chegar aqui e ajudar o projeto, porque aqui a gente está em casa. Quando a gente está em casa, a gente é mais forte, tanto que as coisas estão acontecendo. A gente está muito focado, a temporada está só começando, essa equipe tem muito o que trabalhar para dar alegria para o nosso torcedor.

OP - Na final do Campeonato Brasileiro, você entrou com o nome do Rude, ex-jogador de futsal, na camisa. O que te levou a fazer aquela homenagem?

Rômulo - O Rude foi um dos meus melhores amigos, senão o melhor amigo dentro do futsal. Cearense, carregou a bandeira do Ceará por onde foi, cristão, sempre ajudou os jogadores.

O Rude era um ser humano... Sou suspeito de falar dele. Infelizmente, partiu de repente, nos deixou aqui, mas ficou o seu legado, pela pessoa que foi. Sou muito grato a ele por tudo. A minha homenagem para ele foi porque eu senti ele muito presente ali.

Eu sempre brinquei com ele: "Na minha volta, a gente vai jogar junto". Ele jogou no Fortaleza, na época do Betinho, que também não está mais com a gente, foi uma das pessoas que brigou pelo projeto de futsal. Eu sempre falava para o Rude: "A gente vai jogar junto no Fortaleza ou vamos tentar subir o Sumov de novo, vamos fazer um projeto". Infelizmente, não pude atuar com ele aqui.

Rômulo entra com a camisa de Rude na final do Campeonato Brasileiro(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Rômulo entra com a camisa de Rude na final do Campeonato Brasileiro

A minha forma de homenagear ele foi essa, dizer para ele, para a Vivi, para o Guilherme, filho dele, que morro de saudade dele. Foi um cara que sempre me deu força e, com toda certeza, ele esteve dentro de quadra com a gente, nos ajudando.

Por isso também que esse título veio para a gente. Nos abençoou lá de cima. Sou eternamente grato e foi uma pequena homenagem, colocando o nome dele. Era como se ele estivesse dentro de quadra, porque era para ele estar mesmo dentro de quadra com a gente.

OP - Depois da temporada 2024 e a mudança de gestão do Fortaleza, houve uma indefinição sobre o projeto do futsal. Como vocês lidaram com esse momento?

Rômulo - Nosso futsal, infelizmente, não dá para se comparar com o futebol de campo. O retorno que o futsal dá para uma equipe, financeiramente, não se compara com a equipe de campo, tampouco somos um esporte olímpico, a questão de patrocinador é muito difícil. Passamos por uma turbulência aqui, mas tivemos conversas.

No ano passado, o Fortaleza foi campeão do Brasileiro, da Copa do Estado do Ceará e da Copa do Nordeste, e vice da Copa do Brasil e do Campeonato Cearense
Foto: Felipe Honorato / Fortaleza EC
No ano passado, o Fortaleza foi campeão do Brasileiro, da Copa do Estado do Ceará e da Copa do Nordeste, e vice da Copa do Brasil e do Campeonato Cearense

Poderia, sim, ser que o projeto não viria por conta da dificuldade de encontrar patrocinador, mas a nossa diretoria e a nossa torcida abraçaram a ideia, o time continuou, as contratações vieram. Infelizmente, algumas pessoas saíram e desejo sorte para elas nos novos projetos. Quem ficou aqui, estamos fechados para uma nova temporada.

O mais importante é que o projeto continuou. Acreditamos demais nesse projeto, não só esse ano, como nos próximos. Muito grato à torcida, que abraçou e vai abraçar ainda a nossa equipe. Agora é trabalhar para tentar ganhar e, cada vez mais, coroar esse projeto, que é vitorioso.

OP - Durante o período de indefinição do projeto do futsal, você tomou a frente nas conversas?

Rômulo - Como um dos capitães da equipe — o capitão é o Valdin, eu sou o segundo capitão —, a gente tem a obrigação de tentar, brigar até o último minuto por esse clube, pelos jogadores, conversar com os jogadores para que tenham paciência, que as coisas vão acontecer, mas, infelizmente, não depende só da gente.

Fortaleza Futsal, de Valdin, levantou três taças e chegou à final dos cinco torneios que disputou(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Fortaleza Futsal, de Valdin, levantou três taças e chegou à final dos cinco torneios que disputou

A dificuldade do futsal não é só aqui no Fortaleza, é no Brasil, é no mundo todo. O futsal, infelizmente, não nos dá o retorno financeiro que merecemos, mas falta de luta não é.

O Fortaleza fez um esforço muito grande para continuar o projeto e o que podemos fazer dentro de quadra, esse ano, é ganhar títulos, honrar essa camisa, cobrar nosso torcedor para comparecer, ganhar jogos e fazer a festa. Assim todo mundo fica feliz.

OP - Vocês tiveram conversas com a diretoria também?

Rômulo - Sempre as coisas foram muito claras para a gente. Foi comunicado, a gente teve uma reunião com os jogadores, foi comunicada a dificuldade que a gente estava tendo no momento, mas nunca foi falado que o projeto não viria (para 2025). Nunca foi falado isso para a gente.

O público da final foi próximo de 10 mil pessoas no Centro de Formação Olímpica(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal O público da final foi próximo de 10 mil pessoas no Centro de Formação Olímpica

Foi mostrado que teria dificuldades, pediram um pouco de paciência para a gente e, com toda certeza, quem soube esperar aqui vai colher os frutos e saber que tomou uma decisão boa, porque o Fortaleza é a nossa casa e esse clube faz tudo pela gente, sim. Agora é a nossa hora de agradecer, dentro de quadra, ganhando os títulos.

OP - O Valdin fez uma postagem agradecendo ao Falcão pela mobilização para o Fortaleza manter o time de futsal. Você também falou com ele, viu esse movimento?

Rômulo - Sim, claro, chegou. Até agradeci ele pessoalmente, falei com ele. Não só o Falcão. É porque o Falcão é nosso ídolo, melhor jogador do mundo... É o nosso Pelé, né? Pelé no futebol, Falcão no futsal, Amandinha Craque cearense, escolhida oito vezes a melhor do mundo e hexacampeã mundial pela seleção brasileira no futsal (feminino).

O Falcão briga pela modalidade, sabe da grandiosidade do projeto, conheceu o Marcelo Paz lá em Foz do Iguaçu, na premiação do (Campeonato) Brasileiro. O Marcelo estava dando uma palestra lá, conheceu o Falcão, fez foto.

"Poucos jogadores têm salários altos hoje, mas a grande maioria tem um salário que dá para sobreviver, sim, do esporte"(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal "Poucos jogadores têm salários altos hoje, mas a grande maioria tem um salário que dá para sobreviver, sim, do esporte"

Muita gente do futsal conheceu o nosso CEO, conheceu um pouco da marca Fortaleza, da gestão, do que foi feito no Fortaleza. A presença dele foi muito importante para a gente no futsal, saber que estamos num clube grande, o Fortaleza veio mesmo para ficar no futsal.

O que o Falcão fez foi ajudar alguns amigos, assim como o Anderson (de Andrade), do Mundo do Futsal, que é um dos embaixadores do Brasileiro, o Vander Iacovino, nossa estrela também, ex-seleção brasileira, nosso ídolo, que também entrou em contato, falou.

Muita gente se mobilizou, falou com nosso presidente, nosso CEO, para que o Fortaleza permanecesse. E foi válido. Todo mundo ajudou como pôde e estamos aqui com força total.

OP - Qual é a realidade de um jogador de futsal no Brasil hoje?

Rômulo - Posso até falar um pouco da realidade do campo. Você vê a porcentagem de salários altos no campo e é mínima, não chega a 10% de salários altos no Brasil. No futsal não seria diferente. Poucos jogadores têm salários altos hoje, mas a grande maioria tem um salário que dá para sobreviver, sim, do esporte.

Hoje tem métodos financeiros — lógico, com todo o cuidado possível — de ter uma vida financeira saudável, de investimento. A gente aconselha os nossos atletas, os mais jovens, a ter cuidado com isso.

A gente até brinca que o futsal não é o campo, o investimento do dinheiro que a gente ganha não pode errar, porque o volume é bem menor. O investimento tem que ser certeiro. O que a gente mais indica é primeiro comprar a casa. Compre o seu lugar, estude, se capacite para o mercado de trabalho, porque a carreira é muito rápida.

"Enquanto eu ainda tiver essa vontade, essa chama para conseguir jogar, vou estar dentro de quadra, ajudando no que eu posso"(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO "Enquanto eu ainda tiver essa vontade, essa chama para conseguir jogar, vou estar dentro de quadra, ajudando no que eu posso"

Dá para viver, sim, do futsal. Sou muito grato ao futsal, estou indo para o final de carreira, estudando, me capacitando, para, quando parar de jogar, devolver ao futsal o que o futsal me deu. Seja com uma escolinha, ajudando os mais jovens, ou no lado financeiro. De algum lado, eu vou ter que retribuir o que o futsal fez por mim.

OP - E o que você pretende fazer depois que se aposentar como jogador?

Rômulo - Eu vou tentar seguir os passos do Valdin: jogar até os 50 (risos). Hoje eu tenho 38, vou fazer 39 anos, me sinto ainda muito bem, disposto para jogar.

Enquanto eu ainda tiver essa vontade, essa chama para conseguir jogar, vou estar dentro de quadra, ajudando no que eu posso. Quando eu ver que não consigo mais, que estiver mais atrapalhando do que ajudando, vai ser o momento de me retirar.

Eu tento calcular mais dois, três anos, no máximo. Acredito que até aí eu paro de jogar. Pode ser antes, pode ser depois. O meu corpo e a minha mente vão dizer.

OP - Olhando para trás, no seu começo no Sumov, e tudo que você conquistou na carreira, imaginava que seria assim ou foi além?

Rômulo - Não é que eu imaginava, eu sonhava. Sempre fui muito conhecido na minha carreira por não desistir. Tive altos e baixos na minha carreira: lesão de joelho, falecimento de familiares, por viver uma vida inteira fora (do Brasil), eu perdi muita coisa da minha família, datas importantes... Isso me fez ser muito forte mentalmente, espiritualmente, mas sempre imaginei.

A minha mãe, que sempre me deu força, acreditava mais em mim do que eu mesmo. Desde que eu era pequeno, ela sempre fez de tudo para eu me tornar um jogador de futsal. Futsal, que ela gostava de futsal.

Sou muito grato a ela, pelo que ela fez por mim, e eu puxei muito isso dela, de não desistir e sempre buscar dar o meu melhor. Agora, com 38 para 39 anos, ainda me sinto um garoto, com muita vontade de seguir ganhando títulos com essa camisa do Fortaleza.

"O Fortaleza hoje é minha vida. Vivo por esse clube"(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal "O Fortaleza hoje é minha vida. Vivo por esse clube"

OP - O que representa o Fortaleza para você, pessoalmente e profissionalmente?

Rômulo - O Fortaleza hoje é minha vida. Vivo por esse clube. Quando surgiu essa história de o projeto talvez não vir (para 2025), do fundo do meu coração, no momento da reunião entre nós, jogadores, eu acreditava muito que o projeto ia vir, porque sei o quanto o torcedor ama esse clube, o quanto o torcedor abraçou e ama o futsal, assim como as outras modalidades: basquete, futebol americano... A torcida sempre está comparecendo.

Coloquei no meu coração que o projeto não acabaria, confiei até o final e muito feliz por estar aqui, conversando com vocês, dizendo que o projeto continua, sim, continua competitivo. Cobrar o nosso torcedor para comparecer ainda mais, eles viram o peso que têm para esse projeto, para a gente.

Comparecer não só no futsal, mas nas outras modalidades, porque todos somos Fortaleza. É o nome do Fortaleza. Sou torcedor do Fortaleza, não só do futsal, não só do campo, sou torcedor do escudo do clube. E agradecer o torcedor, espero estar aqui por longos anos.

OP - Você foi o melhor brasileiro que jogou na Rússia?

Rômulo - Cara, sou. Sou, sou. Sou brasileiro-russo, né? (risos) Mas ali passou muita gente boa, ainda tem muita gente boa.

Cearense lá temos o Dudu, que saiu daqui, jogou no Ceará; o Mateus Maia, que jogou na Rússia e está no Palma, da Espanha, agora... Passaram alguns cearenses ali.

Eu me considero um dos melhores, sim, que passou ali. Fiz história lá, tanto no clube quanto na seleção. Tenho as portas abertas na Rússia, sim (risos).

 


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