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Experiência do home office acelera transformações no mercado corporativo
Reportagem Seriada

Experiência do home office acelera transformações no mercado corporativo

No Ceará, mesmo após a reabertura de 95% das atividades econômicas, em torno de 200 mil trabalhadores permaneciam trabalhando de forma remota até novembro, segundo pesquisa do Ipea. A pandemia também acelerou o processo de digitalização de empresas e de gestão
Episódio 8

Experiência do home office acelera transformações no mercado corporativo

No Ceará, mesmo após a reabertura de 95% das atividades econômicas, em torno de 200 mil trabalhadores permaneciam trabalhando de forma remota até novembro, segundo pesquisa do Ipea. A pandemia também acelerou o processo de digitalização de empresas e de gestão
Episódio 8
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A pandemia trouxe um impacto severo para o fluxo de caixa da maioria das empresas. No Ceará, a projeção do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) é de que a economia tenha encolhido 4,18% em 2020. Mas, as dificuldades também abriram caminho para uma série de transformações que estão redesenhando o mercado de trabalho para o futuro. Diante da necessidade de se adaptar a medidas de isolamento, por exemplo, a digitalização foi acelerada em diversos setores e segmentos. E o País, também experimentou, pela primeira vez, o home office em larga escala.

Um estudo feito pelo Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, mostrou que mesmo após o processo de reabertura de 95% das atividades econômicas, cerca de 200 mil pessoas ainda permaneciam trabalhando de forma remota no Ceará até novembro do ano passado. O número representou 7% do total de pessoas ocupadas e não afastadas naquele período.

Em maio, quando as medidas eram mais restritivas, este quantitativo era de 306 mil trabalhadores (15,7% da força produtiva). Mas, o estudo identificou que, no Ceará, pelas características de seu mercado de trabalho, há um potencial de que a modalidade seja uma realidade para 679 mil trabalhadores. No Brasil, este número poderia chegar a 20,8 milhões de pessoas (22,7%).

Trabalhadores e empresas tiveram que se ajustar rapidamente com a pandemia quanto a recursos para se trabalhar em casa
Trabalhadores e empresas tiveram que se ajustar rapidamente com a pandemia quanto a recursos para se trabalhar em casa (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

I


O home office e a vida real

A fundadora da Flow Desenvolvimento Integral, Adriana Bezerra do Carmo, explica que nem tudo pode ser adaptável. O modelo também tem vantagens e desvantagens. Mas, sem dúvidas, o home office foi uma das principais molas transformadoras no mercado corporativo neste um ano de pandemia. “No início, foi tudo muito turbulento, não foi algo planejado, veio da necessidade. De uma hora para outra, as empresas tiveram que manter as pessoas dentro de casa e seguir produzindo. E isso foi um caos.”

Os problemas no início foram os mais diversos: falta de estrutura básica como computadores, cadeiras e internet para os funcionários trabalharem de casa; sistema de gestão inadequado; reuniões intermináveis; sobrecarga de trabalho; adoecimento físico e mental. "Mas, com o tempo, muitas empresas estão conseguindo chegar a um meio termo. E mais que isso. Aquelas que fizeram a organização interna adequada, perceberam que esta poderia ser uma forma de trabalho que pode potencializar resultados e devem seguir com formato, senão no todo, mas em muitas áreas.”

Nesta corrida, a inovação em produtos e processos também deu um salto. Reuniões via aplicativos como Google Meet e Zoom hoje fazem parte da rotina da grande maioria das empresas. Aplicativos de ponto eletrônico remoto, dados em nuvem, investimento em cibersegurança e o próprio e-commerce se popularizaram como nunca antes. E até a cesta de benefícios oferecida ao trabalhador está diferente.

“Hoje muitas empresas estão contratando serviços de psicoterapia para oferecer ao colaborador. E não é só por conta do medo da pandemia, o que já seria muita coisa, mas também para ajudar os profissionais a encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal porque no home office estes papéis acabam se misturando de forma mais intensa.”

Karina Gomes, trabalhando de home office e, ao mesmo tempo, precisando dar atenção à filha
Karina Gomes, trabalhando de home office e, ao mesmo tempo, precisando dar atenção à filha (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)

A cultura a ser mudada nas empresas

A experiência também acelerou tendências como espaços físicos corporativos menores, gestões mais horizontalizadas e um maior índice de contratações na modalidade freelancer e contratos remotos. “Com a pandemia, as empresas foram perdendo o medo da barreira da distância. Hoje muitas empresas estão contratando profissionais de outros estados e até de outros países para atuar de forma remota na operação”, explica o consultor empresarial Marcelo Carvalho.

Ele ressalta, no entanto, que o trabalho remoto ainda reflete muito as desigualdades do mercado de trabalho brasileiro. Os dados da Pnad-Covid, mostraram que, em 2020, o perfil dos trabalhadores que, em meio à pandemia, puderam trabalhar na segurança das suas casas, era composto, predominantemente, por pessoas brancas, com ensino superior completo e do setor formal da economia.

Ana Andrade, líder de talent strategy na consultoria Mercer Brasil, aponta que, dentre os desafios para consolidação da modalidade no Brasil, está também a superação de dilemas culturais de gestão. “Naquelas empresas com culturas mais controladoras e centralizadoras, há um grande desconforto com a distância entre gestor e equipes, e também uma ansiedade grande em estabelecer ferramentas de controle de horas, acessos, reuniões e afins, o que vai de encontro a uma das prerrogativas do trabalho flexível: autonomia.”



Ela reforça que a pesquisa Tendências Globais de Talentos, feita pela Mercer junto a 306 líderes de RH na América Latina, mostrou que a grande questão para as empresas, após enfrentar o desafio de uma crise econômica e de saúde sem precedentes, é saber como captar os aprendizados deste período e direcionar as inovações derivadas da necessidade de uma nova forma de trabalhar. “Diante de prioridades inesperadas, as organizações têm se preocupado com o que o futuro pode trazer, em ter o talento certo para ter sucesso, operar com eficiência e administrar despesas.”

ARTIGO 

 Desafios do home office em Fortaleza no pós-pandemia

Por Luís Eduardo Barros*

Luís Eduardo Barros  Vice-presidente do Ibef - CE
Luís Eduardo Barros Vice-presidente do Ibef - CE (Foto: Divulgação)

Uma solução inevitável para a manutenção de muitas atividades econômicas durante a pandemia foi o trabalho a distância, o chamado “Home Office”. Impossibilitados de comparecer presencialmente ao trabalho, os profissionais tiveram que se organizar em casa para o desempenho das atividades econômicas, o que foi facilitado pela evolução da tecnologia. Os aplicativos de comunicação popularizaram as vídeo reuniões, as “lives”, a transferência de arquivos etc. Nos casos em que não foi possível trabalhar em casa, a opção foi a utilização dos “coworking” – espaços compartilhados em escritórios, shoppings etc. O fato é que a economia não podia parar e a vida continuou durante a pandemia, mesmo com problemas de saúde, custos pessoais aumentados, problemas de relacionamento familiar e outros que se multiplicaram ao longo do processo.

A questão agora é o que acontecerá no pós pandemia? O trabalho a distância será visto como uma solução emergencial e todo mundo vai retornar à rotina anterior? Os problemas identificados ao longo da pandemia poderão ser equacionados? O trabalho a distância substituirá o trabalho presencial? O que vai ocorrer?

 

Não há como prever o futuro. Na prática, muitas atividades e mesmo algumas empresas vão continuar a distância, economizando custos de locação de espaço, transporte, vestimentas de trabalho etc. Mas, a grande maioria vai retornar ao costumeiro trabalho presencial, porque o trabalho a distância apresenta desafios que ainda precisam ser equacionados, tais como a necessidade de espaços adequados em casa; gastos com notebook, banda larga de qualidade etc.; como desenvolver a cultura da organização com todos a distância... São questões que já foram colocadas, mas ainda não foram respondidas a contento, o que exigirá muito mais tempo para o balanço dos ganhos e perdas econômicos e sociais com o “Home Office".

(*) Luís Eduardo Barros é economista e consultor de empresas. 

 

Assista à série "Atravessar a pandemia"

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