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Meia Sola: o belo que virou negócio
Reportagem Seriada

Meia Sola: o belo que virou negócio

| Tane Albuquerque | O gosto pelos acessórios levou a empresária, com apoio dos filhos, à criação de uma grande rede de sapatos no Ceará. E o amor pela família define a estratégia de manter o negócio apenas no Estado
Episódio 9

Meia Sola: o belo que virou negócio

| Tane Albuquerque | O gosto pelos acessórios levou a empresária, com apoio dos filhos, à criação de uma grande rede de sapatos no Ceará. E o amor pela família define a estratégia de manter o negócio apenas no Estado
Episódio 9
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Elegância, bom gosto e sofisticação fazem parte da cartilha de Tane Albuquerque, fundadora do Grupo Meia Sola. Aos 77 anos, muitas vezes disse que esquece a idade que tem por não se sentir com ela, recorda-se da infância e como a mãe a arrumava feito uma bonequinha

Já da adolescência vem a paixão pela moda e pelo design. Vinda de uma base com gerações de comerciantes, aos 13 anos ajudava o pai na papelaria em períodos sazonais com grandes vendas. Depois de quatro anos de trabalho no escritório com ele decidiu: "Vou ter minha empresa". Casou-se aos 17 anos.

Ainda na infância, a mãe de Tane Albuquerque a vestia como boneca o que a despertou a observar a beleza(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Ainda na infância, a mãe de Tane Albuquerque a vestia como boneca o que a despertou a observar a beleza

Com a filha Maira pesquisou sobre o nicho de sapatos e acessórios em Fortaleza e viram que não tinham uma loja adequada na época para as classes A e B. Decidido, em 1986 abriram a primeira.

Depois de poucos anos, a competência na administração, a organização, o capricho com o comércio e a delicadeza no atendimento exclusivo propiciaram o convite de abrir a primeira franquia do grupo Arezzo no Brasil

De lá para cá só sucesso. Mais lojas próprias, mais franquias Arezzo e das outras marcas do grupo da família Birman, totalizando a administração de 20 unidades, sendo duas no Interior e as demais na Capital.

Recentemente decidiram abrir mais um negócio: a Private Label M|S com produtos exclusivos que não têm nas demais marcas. E, para os próximos anos, não destacam novos negócios em outros segmentos de moda. Porém, tudo no Ceará, pois não abrem mão das reuniões me famílias e o contato entre si.

Convites para expansão em outros estados já vieram e foram recusados. Saiba mais como tudo começou em entrevista exclusiva com a fundadora, Tane Albuquerque, mãe de Cláudio, 57, Maira, 52, e André, 42, que também trabalham na empresa, e da neta, Priscilla.

 

 

Conheça os números da empresa

O POVO - Como foi sua infância em Fortaleza no bairro do Benfica?
Tane Albuquerque - Fortaleza à época era uma cidade pequena, a gente brincava muito na rua, de roda, de esconde-esconde era completamente diferente do que é hoje.

A gente conhecia todas as pessoas e todas as casas daquela região e nos encontrávamos com frequência e toda tarde, às 17 horas, nossas mães nos aprontavam como umas bonequinhas e sentávamos na calçada. Elas botavam uma cadeirinha de balanço e ficávamos ali. Era a irmã do meio entre dois meninos.

O POVO – Como era a convivência com seus pais?
Tane - Meus pais eram muito carinhosos, muito presentes, acompanhavam a gente em tudo e naquele tempo a gente praticamente não andava sozinho.

Meu pai me levava para o cinema. Naquele tempo, uma das melhores diversões era o cinema e a missa. A missa do domingo era muito importante na vida da gente.

Frequentávamos os aniversários da família e era comum, todo domingo, a gente visitar minha avó paterna. Chegava lá e já tinha um cafezinho, um bolo para servir, fazia parte da rotina da vida, visitava meus avós.

O POVO - O que aprendeu com eles de mais importante?

Tane -  Em primeiro lugar a honestidade e o respeito ao próximo. E meu pai sempre foi uma pessoa que respeitava e queria que a gente chamasse, naquele tempo, a professora de senhora.

Meus filhos herdaram um pouco disso, embora, nós estejamos em momento diferente. Então eles me ensinaram muito isso aí, a respeitar as pessoas.

O POVO – Do que se recorda mais?
Tane - Quando eu tinha por volta dos seis anos, nos mudamos e fomos morar no bairro Benfica. Nisso eu fui morar vizinho a uma tia minha que já tinha filhos e esses primos que me fizeram desabrochar para o mundo.

Até então eu vivia trancadinha em casa. Nessa época também apareceu a televisão, meu pai gostava muito, ele foi um dos primeiros a comprar uma.

O quarteirão inteiro ia assistir, era a novidade. Eu e minhas primas brincávamos muito de roda, bicicleta, tive uma infância muito boa com muitos privilégios. Eu adorava bonecas, eu amava minhas bonecas. Até hoje eu tenho.

O POVO - Essa paixão pela moda e pelo design surgiu quando?
Tane - Surgiu porque minha mãe era muito vaidosa e ela me vestia muito bem, era filha única de mulher, era como se eu fosse uma bonequinha.

Quando a minha mãe saía, às vezes, ela me colocava até luvas. Eu andava muito pronta, minha mãe até costurava algumas peças.

Ela me enfeitava muito muito, muito para eu sair. Ela tinha muito orgulho da filha e eu era acompanhada pelos meus irmãos.

Aos 77 anos, a fundadora da Meia Sola, Tane Albuquerque, não pensa em se aposentar e sabe que os filhos irão sucedê-la quando for preciso
Aos 77 anos, a fundadora da Meia Sola, Tane Albuquerque, não pensa em se aposentar e sabe que os filhos irão sucedê-la quando for preciso (Foto: FCO FONTENELE)

O POVO - Como foram os primeiros contatos com a vida profissional?
Tane – Meu pai era comerciante e trabalhava com papelaria. Era muito gostoso e apesar de eu ser pequena, 13 anos, na época do período escolar que era o grande momento de vendas, eu ia para a loja e ficava no balcão vendendo.

Eu adorava trabalhar. Gostava de ver no finalzinho como tinha sido o dia. Se as vendas tinham sido boas.

O POVO – Como era atender para a senhora?
Tane - Eu conversava com as pessoas, eu interagia, eu criei muitas amizades. Fiquei lá até os 17 anos e depois fui trabalhar no escritório da Alaor, nome do meu pai.

Fui trabalhar na parte burocrática da empresa e depois me deu a vontade de ter meu próprio negócio. E que eu trabalhasse com o belo, porque na papelaria ela tinha no máximo uma capa de caderno bonito.

O POVO – E o que a senhora fez?
Tane - Resolvi ter meu próprio negócio e pesquisando o mercado percebi que não existia em Fortaleza nenhuma boutique com produtos exclusivos e de muito bom gosto. Daí eu resolvi abrir a Meia Sola.

O POVO - Como foi a decisão de abrir a Meia Sola com a Maira? E como foi a aceitação?
Tane - A aceitação foi maravilhosa, porque a clientela sentia falta de um produto exclusivo. E que tivesse um design diferente, porque as grandes sapatarias eram com aqueles sapatos na cor branca, preta, marrom, sem novidade.

Não existem as cores que temos hoje. Como eu já trabalhava no comércio, eu já sabia um pouquinho que me ajudasse naquele trabalho.

Maira, quando começou a trabalhar, estava grávida, então, foi uma atenção imensa e foi muito gostoso.

O POVO – Depois de três anos com a Meia Sola veio a oportunidade de ter a franquia da Arezzo. Como foi?
Tane - Nós fomos a primeira franquia no Brasil da Arezzo. Ela vendia em lojas multimarcas. Depois ela viu que o produto era muito bem aceito.

Era num ponto maravilhoso na Avenida Dom Luís, na Aldeota, bem na rotatória.

O POVO - O que significou para a senhora naquele momento?
Tane - Que o nosso trabalho era reconhecido, que eles poderiam entregar a franquia para a Meia Sola. Que cuidaríamos bem e daríamos conta. Como eles também eram franqueadores de primeira viagem, confiamos que ele iria formatar um negócio muito bem estruturado e que fosse uma via de mão dupla.

Já são 35 anos de relacionamento. A marca fez 50 anos neste ano e nós fomos considerados os melhores franqueados do Brasil. Ganhamos até o primeiro pedaço do bolo do fundador Anderson Birman.

Depois da Arezzo vieram a Anacapri, produto mais dia a dia, e a Schutz, com mais requinte. Abrimos no início de novembro de 2022, outra marca do grupo deles, no Iguatemi Bosque, a Brizza que é uma loja pop-up que só abrirá no verão, pois tem um apelo mais leve.

 

 

Conheça o legado familiar: descendentes

Filhos: Cláudio, Maira e André

Netos: Priscilla, Jéssica, Lara, Beatriz e Sara

 

O POVO – Quais os pontos positivos em trabalhar com seus filhos?
Tane - Primeiro lugar é o contato e a união da família. Nós somos muito, muito, muito unidos. O André praticamente almoça diariamente comigo.

Moro vizinha a minha filha. Eu moro embaixo, ela mora em cima. André mora a duas quadras lá de casa. Sempre estamos juntos falamos de trabalho, família, viagens... Só agradeço a Deus por ter esse privilégio.

Isso vem lá das idas na casa da minha avó. E esse conceito de casa passamos para os nossos clientes também que frequentam a loja como se estivessem em casa

O POVO - Como é a rotina das família no trabalho?

Tane - Ficamos muito na parte administrativa, principalmente o Cláudio, a Maira e o André. Mas sempre que possível passo nas lojas, a Maison é minha preferida.

Além de mim, a Maira e minha neta Priscilla, filha dela, também passam constantemente nas lojas.O POVO - Como eles entraram nos negócios?

Tane - André começou com 13 anos e nunca trabalhou em outra empresa. Cláudio veio por último, pois trabalhou em outras empresas da família antes. 

O POVO – O que os seus filhos trouxeram, e a neta, para agregar ao negócio?
Tane - Eles trouxeram muita alegria e muito conhecimento do produto. Eles olham as revistas, observam de uma maneira que eu não observo. Eu, às vezes, dou destaque para o sapato, eles já dão destaques para a bolsa...

O POVO - A senhora foi eleita a primeira mulher lojista pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Fortaleza. O que isso significou profissionalmente e pessoalmente?

Tane - Teve um significado imenso, primeiro pela sociedade, que foi votação feita pelos membros da CDL. Me senti muito honrada, valorizada e querida, porque o prêmio tanto era para analisar o trabalho e se a pessoa tinha uma boa comunicação. 

O POVO - Como estão dividias as 20 lojas e qual o plano de expansão?

Tane - Além das lojas - 3 Meia Sola; 8 Arezzo; 3 Anacapri; 3 Schutz; 1 Brizza - temos dois outlets e o nosso e-commerce, que hoje para a gente é muito importante.

Temos planos de expansão que por enquanto não podemos dizer, mas dentro do nosso planejamento estratégico vamos ter novas lojas em Fortaleza.

Pode esperar outras marcas de calçados e quem sabe em outros segmentos. 

O POVO - Como o comportamento do consumidor tem alterado a rotina dos negócios?

Tane - Hoje o e-commerce, diante da mudança do comportamento do consumidor, ele veio com a força maior do que existia antes da pandemia, mas a gente considera que ele veio para complementar o consumo na loja física.

OomnichannelÉ uma vertente do varejo que faz com que o consumidor não veja diferença entre o mundo online e offline. É a integração das lojas físicas, virtuais e compradores.  hoje é fato, uma realidade mundial e muitas vezes o nosso cliente está aqui no nosso piso de loja e já pesquisa no nosso e-commerce e daqui manda direto deixar na casa dele. Nossa meta maior é atender o cliente do jeito que ele gostaria ou online ou presencial, mas da forma que ele se sinta mais confortável.

Não considero que o e-commerce tirou a venda da loja física, porque nada como a pessoa pegar no produto, sentir, experimentar, ver a qualidade, como é que é a construção, a bolsa, como ela é bem dividida, o sapato como é que fica no pé, enfim, toda essa experiência em loja.

Fora tudo o que a gente oferece presencial de dar aquele carinho maior, de ter o contato físico, isso aí o e-commerce nunca vai conseguir fazer.

Mas, mesmo no e-commerce, a gente sempre tem um diferencial no atendimento, seja na hora de entregar o produto na casa do cliente. De uma certa forma a nossa identidade de trazer sempre o melhor atendimento para o consumidor também está estendida ao nosso atendimento no e-commerce.

O POVO - Qual a diferença do cliente dos anos 1980 para os de hoje?

Tane - Antigamente existia quase que uma moda única, essa moda era meio que imposta pelo mercado, então assim, a revista dizia como a gente usava, a semana de moda, o estilista e tal. E agora não, agora existem várias modas, vários estilos. Várias marcas.

Se você é clássica, você pode estar na moda sendo clássica. Se você é arrojada, pode ser o ano todo. O cliente hoje já entra na loja com informação de moda maior, ele já sabe o que quer e muitas vezes tem a ousadia de misturar coisas, fazer combinações que, às vezes, nós mesmos não tínhamos pensado.

O cliente hoje está ainda mais no centro do negócio do que o que já foi antes. 

O POVO - A empresa lançou recentemente o Private Label M|S. Como ele já está rodando? 

Tane - A gente fez uma pesquisa de tendências e resolvemos criar a nossa marca MS, que são modelos desenvolvidos por nós e a gente escolhe as construções, os materiais, as cores e eles somente são vendidos na Meia Sola.

Quem faz essa criação sou eu e a Priscilla. Lançamos segunda coleção no fim de novembro. Teremos uma periodicidade em torno de cinco coleções por ano.

Desde o começo, a Meia Sola visava atender todas as mulheres e em todas as ocasiões de uso. A curadoria da marca sempre visou isso e a marca vem para suprir isso. Sempre focada no cliente.

O POVO - Como vão fechar 2022?

Tane - Os últimos três anos têm sido desafiadores, mas conseguimos recuperar um pouco e fecharemos 2022 com crescimento acima de dois dígitos em relação a igual período anterior.

Nossa expectativa, agora, ela é muito boa para o fim do ano, apesar de que a gente entende que o ano que vem também vai ser desafiador porque ainda estamos num período de ajuste pandemia e pós-eleições.

O POVO - A senhora já planeja sua aposentadoria e sucessão?

Tane - Não, eu não penso em aposentar, porque eu realmente amo estar nas lojas. Eu adoro esse convívio com o cliente na loja.

E sucessão eu não penso porque eu já tenho meus filhos que vão continuar nessa empresa com todo sucesso. Tenho neta também já trabalhando. Então enquanto Deus quiser eu estarei trabalhando.

O POVO – Como a Meia Sola contribui para o legado econômico e social do Ceará?
Tane - Acho que ela contribui muito por ser uma loja única de excelente atendimento e que trabalha com exclusividade.

Temos orgulho em deixar as mulheres ainda mais bonitas. Delas poderem ir para qualquer lugar usando os produtos. Temos 20 lojas e estamos sempre inovando, expandimos de uma única loja.

Movimentando o varejo local estimulando muitas datas e empregando as pessoas.

 

 

Linha do tempo

 

 

 

Bastidores

 

Entrevista

A reportagem foi combinada com o marketing da empresa. Após uma mudança na agenda conseguimos visitar a Meia Sola Maison na avenida Dom Luís.

Como era um dia comum, a loja estava repleta de clientes e conferimos de perto o diferencial.

Os três filhos da Tane, Cláudio, Maira e André fizeram questões de acompanhar todas as entrevistas, para o impresso, e vídeo e cuidar dos detalhes dos produtos que mereciam destaque ao lado do mãe.

 

Família

Tane é uma mulher muito elegante e que gosta de estar bem e se mostrar bem. Quando chegamos para a entrevista ela estava finalizando o penteado no salão próximo à Maison.

O momento íntimo da entrevista escolhido foi uma almoço na casa da filha Maira que reside no andar de cima da mãe. Segundo eles, é comum manter esses momentos de harmonia.

Além deles o esposo (Francisco de Mattos Brito Neto) de Tane acompanhou o momento de filmagem sobre as recordações pessoais da sala.

 

 

Projeto Legados

Essa entrevista exclusiva com a fundadora do Grupo Meia Sola para O POVO dá sequência ao projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

São dez entrevistas nesta primeira temporada com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo e último episódio, conheça a história da indústria de refrigerante de caju mais famosa do Estado, a Cajuína São Geraldo. Teresinha Lisieux representa a vasta família, que tem membros da primeira até a quarta geração, e concede entrevista ao O POVO.

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Expediente

  • Direção de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães
  • Coordenação e edição Beatriz Cavalcante e Irna Cavalcante
  • Edição de design e identidade visual Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho
  • Edição de fotografia Júlio Caesar
  • Fotos Fco Fontenele Edição OP+
  • Texto Carol Kossling
  • Fotografia Aurelio Alves e Júlio Caesar
  • Recursos visuais Beatriz Cavalcante
  • Produção Geral Carol Kossling
  • Audiovisual Arthur Gadelha (direção audiovisual e roteiro); Aurélio Alves e Júlio Caesar (direção de fotografia), fotografia e filmagem (Fco Fontenele) Luana Sampaio (direção audiovisual), Carol Kossling (produção e reportagem); Samya Nara (produção); Raphael Góes e Abdiel Anselmo (edição).
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