Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações
Uma amiga jornalista, e de outras histórias, me mandou carta pelo Instagram. Desse jeito: "São os dezembros", respondi assim a um amigo quando (ele) chove no semiárido. Por esses dias, ele me escreveu quando bebia uma pergunta com cachaça, choro e limão: 'ei, tu tá feliz?".
E continuou em linhas breves, porém quase tão fortes como Ferreira Gullar escrevendo para Clarice já morta e ainda inquieta. Parecia fumar um cigarro atrás do outro e repetindo que cabia em quase nada quando viva.
"Mas o que queria (ele ou Clarice) era ter a própria resposta, porque perdeu a vontade da lucidez. É mesmo insustentável ser lúcido no Brasil (e em qualquer rua desperfumada e arriscada de Fortaleza)".
"Peguei o ônibus no final, tal qual a garotinha ruiva do Charlie Brown. Se eu tivesse a resposta, não poderia ir"
"Então, ele (que aparentava lágrima silenciosa) me escreveu sonhos e outras anestesias e a vontade de voar para perto de gente que dissesse poesias e loucuras".
Escreveu mais a moça que corre léguas. "Eu fui com ele, por linhas tortas e suas palavras bêbadas, mas não fiquei. Já não digo mais poesias nem falo mais sobre jornalismo e "acho graça do grande amor".
"Peguei o ônibus no final, tal qual a garotinha ruiva do Charlie Brown. Se eu tivesse a resposta, não poderia ir. A gente se encontra na vida, meu amigo, na próxima pergunta (sobre o estado de perfume de cada um. Viva ou finda)", disse e se foi ou permanece no @anadossuspiros.
Ele mesmo, teu amigo, faz as arapucas. Mas como não gosta de aprisionar alienígena, livra-os da lucidez. Por coincidência, andei ficando um pouco tonto e abstruso.
Fiz para ter o abalo de quem voa, o assombro de não caber. Ameniza o semiárido interior e pode chover ele e Clarice, mesmo morta e o Ferreira Gullar no táxi,apressado, para o último encontro sem necessidade.
"Depois de uma faminta discussão com jornalistas que respeito no O POVO, a manchete do jornal foi pelo "fim do feminicídio""
E, talvez, não seja porque é dezembro e nos desalinhamos ou alimentamos mais interrogações. É quase todo dia a turbação da lucidez. Os lúzios e as lúzias vão se descabendo na vida.
É o envelhecer? É não, é o diabo do iniludível manifesto do que "está posto" ou do acostumar-se.
Escrito lá, na primeira dobra do jornal (este imprescidível ser alienígena!). Para baixo foi o futebol com os rebaixados Fortaleza e Ceará - coisa de macho e comum.
O jornal e os jornalistas fizeram coro ao "levante das mulheres vivas" que gritaram, na Praia de Iracema e no resto do País, que precisa ter um basta radical nos feminicídios premeditados por meninos machos malcriados e escrotos. Criminosos.
"É estranho meu cabimento nessa tragédia sem fim, mas entendo como lucidez"
Aliás, talvez, a manchete será ainda mais consequente quando um dia chegarmos a responsabilizar, no jornal e no cotidiano, na voz ativa os feminicidas. Talvez, deixar de escrever "mulher foi morta por marido, ex-companheiro, namorado...".
É estranho meu cabimento nessa tragédia sem fim, mas entendo como lucidez. E, aqui, permito a perspectiva de ter desejo por outra história.
Com manchetes e matérias sobre feminicídio zero. E o fim das fábricas de machistas nas famílias, nas escolas, na rua, nas igrejas, na liberdade de expressão equivocada, no ódio "recreativo", na política de machos...
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